Nos anos 80, em momentos de
extrema carência para brasileirinhos carentes, o idealizador da “Ação da
Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, o sociólogo Herbert de Souza,
o Betinho, dizia que somente aqueles que sentiam na pele a falta de um alimento
para comer tinham a exata dimensão da dor que aquilo causava. Concordo.
Betinho mobilizou o Brasil
para um problema que atingia 32 milhões de irmãos. Mês passado a FAO, órgão da ONU que cuida da
fome no mundo, anunciou que o Brasil estava fora do vergonhoso mapa da fome no
mundo. Um agradecimento “post mortem”
que o país deveria fazer ao símbolo desta luta.
Obrigado Betinho!
Faz tempo ouço histórias sobre
a seca no nordeste brasileiro. É notório
que o tema jamais mobilizou o andar de cima do sul e sudeste do país. Aliás,
solidariedade é uma palavra pouco usada entre nós. Cisternas, paisagens desérticas e transposições
à parte, a verdade é que nunca houve vontade política para resolver o problema,
que se alimenta da pobreza oriunda de seus habitantes para sobreviver, fazendo perpetuar
no poder um coronelismo (hereditário) transmitido há gerações pelos velhos caciques
incrustrados na carcomida cena política brasileira.
Depois de anos assistindo à
derrubada da Floresta Amazônica sem que os gritos do silêncio de uma sociedade
impotente (e omissa) tenham sido capazes de influenciar uma interesseira classe
política nacional, fazendo cessar o desmatamento, os resultados de nossa
displicência começam a iluminar, com potentes faróis, os reservatórios secos da
Cantareira e adjacências.

Em
outra ponta, recente boletim da Agência Nacional de Águas (ANA), informa que o
Paraíba do Sul atingiu o nível mais baixo dos últimos 84 anos, com apenas 7,4%
de sua capacidade. O problema da água,
ou da falta dela, que chega com força no sudeste, resume-se à:
1- má
gestão dos recursos hídricos pelos governos estaduais (que prolongaram tomar decisões
por conta de questões eleitorais);
2- péssima
comunicação dos órgãos públicos (governos federal, estadual e municipal) com a
sociedade e;
3- falta
de legislação rigorosa que permita ao governo federal jogar pesado, punindo
exemplarmente aqueles que destroem a floresta.
Ou entendemos que o problema
não é apenas de São Paulo e começamos a agir nacionalmente racionalizando a
maneira como usamos nosso bem mais precioso implementando políticas públicas
realistas e sérias ou em brevíssimo tempo o sistema hídrico do país entrará em
colapso. São irresponsáveis aqueles que
dizem que está tudo sob controle.
Itu, no interior de São Paulo, é a primeira cidade do estado onde a crise da água chegou forte. Lá o cotidiano da população mudou e o que se
vê é uma rotina de guerra, com ataques à caminhões-pipa, saques, conselhos
populares para analisar a melhor maneira de enfrentar o problema, filas
gigantes em supermercados, embates entre moradores e policiais, protestos em
frente à Prefeitura, enfim.
Assim como a fome, a água é essencial à vida e a sede só é
possível imaginar quem tem. Acreditem, caos está a caminho. Portanto,
é chegada a hora de a água entrar definitivamente na agenda de prioridades
nacional, com tratamento abrangente das causas e consequências de sua
falta. Se deixarmos de lado a
prepotência, avançaremos bastante se aceitarmos o diagnóstico de que o desmatamento
desenfreado da Amazônia, a má gestão hídrica (estadual e federal) e a falta de
participação da sociedade, compõem o cenário de problemas a serem atacados,
conjuntamente, sem vaidades, por todos.
Que falta você faz, Betinho.
Abraços Sustentáveis
Odilon de Barros