Cada louco com sua mania.
Sempre tive o hábito de andar pela rua observando placas. Com o caos nosso
de cada dia instalado na mobilidade urbana carioca, além de livros, jornais e
revistas que leio, descanso a vista entre meu ir e vir da labuta diária observando
o cardápio de obras públicas espalhado pela cidade maravilhosa. Os responsáveis pelos empreendimentos,
quantos metros quadrados, custo final, tempo de realização, enfim.
Com a pontinha do gigantesco iceberg chamado “Operação
Lava-Jato” começando a despontar no meio de um oceano cada vez mais infestado
de denúncias contra tubarões do cenário político-empresarial nacional, podemos
constatar, como disse o demissionário chefe da Controladoria Geral da União,
Jorge Hage, “que o estado brasileiro vem falhando, há muito, em seus controles,
tendo sido impotente na intenção de interromper a sangria de dinheiro público que
vem sofrendo”.
Observador curioso, saltou aos olhos nos últimos anos, a
quantidade de obras realizadas no judiciário fluminense, pela Construtora Lopes
Marinho Engenharia e Construções Ltda.
Passeando por sua página verifiquei que, aproximadamente, 80%
dos clientes listados são órgãos públicos.
Nada demais. Porém, no item “obras
realizadas e em andamento”, é impressionante a quantidade de obras executadas
para os mais variados tipos de Tribunal de nosso estado. A empresa construiu ou reformou: Ministério
Público de Niterói (RJ), Tribunal de Justiça de Rio Bonito (RJ), Tribunal de Justiça
do Rio de Janeiro (Lâminas IV e V), Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro (Palácio da Justiça), Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro,
Tribunal de Justiça de Pendotiba (RJ),
Tribunal de Justiça de Niterói (RJ), Tribunal de Justiça de Alcântara (RJ),
Tribunal de Justiça de Itaboraí (RJ) e Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
(Lâmina III).
Outras obras realizadas pela construtora...Petrobras,
Fiocruz, UERJ, UFF, Termorio, Fundação Habitacional do Exército, CABERJ, Vila
Olímpica (Comando da Aeronáutica), SENAI, RECAP, Correios, Lojas Leader e
Colégio Marista.
Em maio último, após denúncias divulgadas pela imprensa, o
terreno doado pela Prefeitura do Rio que abrigaria a sede do novo prédio do
Tribunal Regional Eleitoral (TRE RJ), orçado em R$ 94 milhões de reais, na
Cidade Nova, foi devolvido pela Corte depois de R$ 12 milhões gastos em suas
fundações. Mais um empreendimento que
estava sendo realizado pela Construtora Lopes Marinho.
Como cidadão, gostaria de saber o motivo de as grandes
empreiteiras do país, hoje envolvidas no maior escândalo de corrupção da
história, nunca terem se interessado por essas obras, afinal, se fazem
rodovias, termelétricas, pontes, hidrelétricas, refinarias, não se interessar
por esse filão, por quê? Por outro lado,
pela suntuosidade e beleza dos prédios construídos pela Lopes Marinho, fica
claro, também, que seus preços devem ser altamente competitivos, razão pela
qual sugiro, desde já, seja esta alçada ao posto de substituta natural das outras
que, confirmadas as denúncias das delações até agora aprovadas pelo STF, têm
tudo para se tornarem inidôneas.
Nossas instituições democráticas estão em risco por conta do
altíssimo nível de corrosão e desvios sem precedentes que vêm sendo descobertos
em empresas, prefeituras e órgãos públicos.
A oportunidade é ímpar e não podemos perdê-la. Sem perder o foco, é preciso passar o país a
limpo.
Não seria difícil, se houvesse vontade política, delimitar os
espaços de atuação daqueles que têm o péssimo hábito de assaltar a Nação, mesmo
com nuances técnicas por conta de dificuldades e especificidades de áreas e
localização, criando padrões para o custo do quilômetro de uma rodovia, o custo
do quilômetro de uma linha de Metrô, o metro quadrado de um edifício de
escritórios públicos, e por aí vai.
O Poder Judiciário tem o papel fundamental de dar o exemplo
para a sociedade e fiscalizar o cumprimento das leis. Sobre Ele não pode pairar qualquer
dúvida.
Abraços Sustentáveis
Odilon de Barros
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