Recentemente
afirmei que, comparado à jornada de trabalho, passava o equivalente a 4 meses
do ano dentro do ônibus. Muitos amigos me
questionaram espantados e foram fazer a conta, que é verdadeira. Minha intenção com a comparação foi
fazer exatamente o cidadão comum parar para pensar e refletir: por que ficar 4
meses dentro de um coletivo, desnecessariamente, quando poderia estar com minha
família ou em férias, por exemplo?
A
resposta está dentro de nós mesmos quando votamos sem pensar, pois nossas
escolhas refletem a (i)mobilidade urbana do país, nos três
níveis de governo. Vejamos:
- em
nível Federal, enquanto o governo, com uma política contraditória, aceitou
reduzir, voluntariamente, os níveis de CO2 causadores do efeito estufa, entre
36% a 39%, ao mesmo tempo, cedendo a pressões do sempre poderoso lobby da
indústria automobilística, incentivou a compra de carros com redução do imposto
sobre produtos industrializados, o IPI. Conclusão: na última década, a
proporção que era de 75% para aqueles que se locomoviam de ônibus contra 25%
daqueles que optavam por carro, está, agora, 50% para ônibus e 50% para carros;
- nos
Estados, a guerra fiscal é acirrada e selvagem, com concessões impensáveis de
terrenos, construções de fábricas bancadas com o dinheiro público e reduções
inimagináveis de impostos por 15/20/25 anos e;
- na
esfera Municipal, com concorrências pouco transparentes (quando ocorrem), permitimos
o toma lá dá cá de vereadores que se vendem em troca de favores de empresários que
mantêm uma relação promíscua e perniciosa à população, dividindo entre poucos amigos
as benesses de um filão de negócio que na maioria dos países desenvolvidos é um
serviço de boa qualidade oferecido aos cidadãos.
Mas
a falta de uma política pública para a área, com metas plurianuais coerentes, e, sobretudo,
sustentáveis, de longo prazo, faz com que outros setores dentro do governo
sofram prejuízos. É o caso da saúde, onde apenas ano passado, por conta da
poluição, doenças cardiovasculares, estresse, pressão arterial alta, morreram em São
Paulo 5 mil pessoas e no Rio outras 2 mil. E isso tem um custo.
A
conta sobe e, segundo a Rede Nossa São Paulo, apenas na capital paulista, o
prejuízo com engarrafamentos chega a R$ 50 bilhões/ano. Estudos semelhantes realizados pela Coppe
para o Rio dão conta de outros R$ 27 bilhões/ano. Somando-se o montante que as renúncias
fiscais promovidas pelo governo deixaram de arrecadar, o prejuízo brutal com
engarrafamentos e, ainda, os gastos com a saúde causados por internações e
mortes em função do trânsito, chegamos a um número estratosférico de algumas
centenas de bilhões de reais, que poderiam estar sendo utilizados para tornar
nosso país mais sustentável nessa rubrica.
Mais uma vez, reflexos de opções erradas nossas do passado, refletindo diretamente em nosso presente e futuro. Ou seja, erros em cadeia.
Mais uma vez, reflexos de opções erradas nossas do passado, refletindo diretamente em nosso presente e futuro. Ou seja, erros em cadeia.
É
latente, ainda que embrionário, o sentimento por mudanças. E elas urgem acontecer. Precisamos de governos
que contrariem interesses, que rompam a barreira da mesmice, repensando métodos
e práticas. Ser sustentável, ser radical,
antes que seja tarde, simples assim, a ideologia do futuro.
Abraços
sustentáveis