Não é a primeira vez (nem será a última) que escrevo sobre corrupção,
afinal, como dizem os mais experientes ”quando temos um grande problema a
resolver em nossas vidas, fazemos uma catarse gastando o assunto até expurgá-lo
de dentro de nós”. Assim é a pandemia da
corrupção no mundo, uma pedra no caminho do desenvolvimento sustentável.
Pode parecer estranho, mas sustentabilidade e corrupção, apesar do
antagonismo de seus significados, caminham juntas. Ambas, sem exceção, estão presentes em todos
os ramos da atividade humana – saúde, educação, esporte, cultura, transporte,
turismo... - porém, curiosamente, não são atacadas (corrupção) e/ou
incentivadas (sustentabilidade) com políticas públicas específicas.
Talvez, também por isso, a sustentabilidade não avance no mundo (vide as
várias conferências e protocolos firmados: Rio 92, Rio+20, Kyoto). É um problema de todos não assumido por ninguém. Igualmente a corrupção, que corrói os tecidos
sociais das sociedades modernas, com maior ou menor intensidade, dependendo do
país, não é tratada com rigor por governos, tirando do povo a oportunidade de
avançar na direção de uma melhor qualidade de vida.
Assim, em direções contrárias, podemos observar que nações com alto grau
de corrupção têm péssimo desempenho no quesito sustentabilidade. Ao mesmo
tempo, países com bom desempenho em sustentabilidade têm baixo índice de
corrupção. Ou seja, podemos afirmar que
o sucesso da sustentabilidade está ligado ao fracasso da corrupção. Será?
Na semana que passou, os jornais divulgaram que a gigante alemã Siemens,
em acordo inédito com o CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, estaria
colaborando para elucidação de um suposto cartel em licitações para aquisição
de trens, manutenção e construção de linhas de trens da Linha 5 do Metrô de São
Paulo. A empresa nega que seja fonte de
tais informações mas informa que está pronta a se manifestar se esse for o
desejo dos órgãos competentes pelas investigações.
A verdade é que a orientação da matriz alemã em todo o mundo é não
participar em nenhum país em que atua de cartéis, negociatas ou qualquer que
seja o artifício financeiro que garanta a vitória em concorrências através de
fraudes. Lógico que essas ações foram
pensadas e têm suas conseqüências, para o bem e para o mal, explico.
Olhando-se para os aspectos positivos, os esforços da empresa vem desde
2007, com novos mecanismos de controle e investigação. A empresa alcançou 99% de pontuação no Índice
de Sustentabilidade Dow Jones (DJSI). No
Brasil, após extensa avaliação, a Siemens foi uma das quatro primeiras empresas
a receber o Selo Ético (“Cadastro Empresa Pró-Ética”) em 2010, concedido pela
Controladoria Geral da União – CGU.
Em nota oficial divulgada na última semana, a Siemens afirmou: “acreditamos
que somente a concorrência leal e honesta pode assegurar um futuro sustentável
para as empresas, os governos e a sociedade como um todo. Por isso, reitera seu
compromisso com a ética e com a criação de um ambiente de negócios limpos,
estando continuamente empenhada em dedicar todos os esforços para que os seus
colaboradores ajam de acordo com os mais elevados padrões de conduta."
O negativo de toda essa história, e talvez por isso a Siemens esteja (com
razão) abrindo a boca, é que a empresa ficando de fora de concorrências perde
receitas. Porém, esperamos que por sua história
e seu tamanho, tenha fôlego suficiente para agüentar o tranco até o jogo
virar. É o que torcemos!
No Brasil, com a política fervilhando, vivemos um momento propício para
mudanças. É hora, portanto, de exigirmos
a inclusão na agenda das manifestações, de uma urgente mudança na lei das
licitações, a 8.666/93, pois o ralo do dinheiro público fácil de que tanto
precisamos para as obras de infra-estrutura, saúde, educação, bons transportes,
escoa por ali há décadas.
Se queremos realmente ser uma Nação do futuro, a sustentabilidade é o
caminho a seguir. Nesse caso, bem que o bom exemplo da Siemens poderia ecoar e
chegar até o Planalto Central. Afirmei ali em cima que sustentabilidade e
corrupção caminhavam juntas e que o sucesso de uma significava o fracasso da outra. A hora é de coragem e opções.
Abraços Sustentáveis