Hoje faz um mês que Amarildo
sumiu e entrou para a triste estatística de nosso Estado. Símbolo de nossa chacina diária, ele
desapareceu após ser levado para dentro da UPP da Rocinha por policiais
militares. Cotidianamente, há seis anos,
desaparecem, em média, 16 pessoas, totalizando o impressionante número de 35
mil mortes. Um assombro! Números de uma guerra civil, silenciosa e
absurda, que tem muito a ver com a omissão do Estado e a pouca participação da
sociedade, que não cobra explicação de seus governantes e dá pouco valor à vida
humana. Hoje no Rio, mata-se por pouco, morre-se por
nada. Vivemos, literalmente, em um “Estado
de Exceção”. BASTA!!!
Foi por isso que aceitei
entrevistar Jefferson, entregador de pizza de um restaurante da zona oeste do
Rio, na madrugada de terça. Ele tem 18
anos e é sobrinho de Amarildo. Garoto exemplar, de boa índole, trabalhador,
dedicado pai de família. Apesar da pouca
idade, tem dois filhos, Kelvin e Ana Laura. Visivelmente nervoso, tentei acalmá-lo dizendo
que parecia com meu filho mais novo.
Fiz questão de esclarecer que estava
ali para ajudar na elucidação do episódio e para que outros casos semelhantes
não voltassem a ocorrer. Disse, ainda,
que gostaria que ele avisasse em casa para saber se haveria algum tipo de
problema em conversar comigo. Resposta:
falei com minha madrinha e ela perguntou o que estava esperando pra falar.
Iniciei a conversa perguntando se
todos eram do Rio e se morava perto de Amarildo. Ele disse que sim e que morava bem perto da
casa dele. Em seguida quis saber como
era a vida na comunidade e ele disse que vez ou outra iam ao pagode, faziam
churrasco. Afirmou que Amarildo era
pedreiro e que todos gostavam dele.
Disse, ainda, que na família ninguém mexia com drogas. Bety, a esposa, era uma espécie de faz
tudo. E dos seis filhos, por conta da
idade, apenas dois trabalham.
Jefferson jogava bola e fazia
teatro, hoje dá aula de capoeira e sonha ser ator. Perguntei-lhe sobre a visita
da polícia um dia antes do sumiço de Amarildo e se acreditava que ainda estava
vivo. Ele disse acreditar que tudo
estava programado para ocorrer antes, porém, como as câmeras e GPS’s estavam ligados,
desistiram e voltaram no dia seguinte. Disse, ainda, que não acredita mais que
Amarildo esteja vivo e que a família só quer saber a verdade.
Perguntado se havia alguma coisa
que queria dizer que ainda não tinha saído na imprensa, foi categórico:
- a Polícia continua abordando de
forma desrespeitosa os moradores. Somos
obrigados a chamá-los de “senhores”, porém, somos nós que lhes pagamos os
salários, afirmou;
- o mesmo policial, conhecido
como cara de macaco, que levou meu tio, ameaçou, também, meu padrasto e;
- no mesmo dia que levaram Amarildo, sem explicação, levaram para a
delegacia da Gávea e depois para Bangu 2, Jorginho e Rodolfo, dois amigos de
infância, sem que qualquer explicação fosse dada. Eles continuam presos até hoje, apesar de
serem trabalhadores.
Finalizando, Jefferson declarou: está
mais do que na hora de o Brasil acordar.
Eu só queria ver se fosse o filho do Ronaldo ou do Eike Batista que
tivesse desaparecido se seria igual.
A ameaça ao padrasto e a detenção
de seus amigos Jorginho e Rodolfo, estão no vídeo que está sendo preparado. A exibição será aqui mesmo, amanhã, 15. Não percam!
Abraços sustentáveis
Odilon de Barros