Quando acreditamos em algo, importante repetir tal crença à
exaustão: a corrupção é um entrave para avançarmos no quesito
sustentabilidade. Vira e mexe sou
questionado sobre os motivos de estar toda hora escrevendo sobre roubalheiras quando
poderia falar de ecologia, projetos sustentáveis, verdes e orgânicos. Sei o quanto é difícil atrelar uma coisa à
outra, mas o fato é, enquanto uma rouba as esperanças da sociedade evoluir,
viver com mais qualidade de vida, a outra ajuda a perenizar o planeta e a
prolongar a vida. E, partindo de um
exemplo bem simples... roubar, aqui pra nós, não é nada sustentável.
Desde a chegada das caravelas de Cabral sofremos desse mal. A
corrupção está entranhada na cultura brasileira desde sempre. Para fazê-la sobreviver e chegarmos ao degradante
estágio atual foi necessário a união de vários elos dentro da cadeia que a
sustenta: corruptos; corruptores; políticos; judiciário e, infelizmente, uma
sociedade apática, cúmplice, permissiva e omissa.
Passamos por uma crise moral e ética com desvendamentos de
crimes de corrupção impensáveis postos à luz dos olhos de uma sociedade
estarrecida com a grandeza dos volumes movimentados e o quilate dos figurões
envolvidos. Digo mais: é apenas o início
de uma hecatombe política que vai colocar à prova os alicerces de nossa
democracia, não deixando pedra sobre pedra.
Desde o impeachment de Collor, passando pela CPI dos Correios
(que originou o mensalão), tímidos passos vêm sendo dados na direção de
diminuirmos a sangria que toma de assalto nossas empresas públicas. A rataria está assustada e cometendo
erros. A cada descoberta o poder público
aciona novos mecanismos e vai encurralando os larápios da Nação. É o que acontece agora com a delação
premiada, instrumento muito usado no exterior e que parece que chegou aqui para
ficar. Apenas recordando, foi a partir
do exemplo dos 40 anos de pena dados a Marcos Valério, o operador do mensalão,
que Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, vendo que teria o mesmo
destino, abriu o bico. E que pela
primeira vez, também, vemos corruptores, antes intocáveis, presos.
O cerco está se fechando e em breve veremos a lista ser
engrossada por governadores, senadores, ministros e deputados, a crème de la
crème. Bilhões e bilhões de dinheirinhos
que poderiam (e deveriam) estar sendo usados em obras de infraestrutura, na
educação, na saúde, em obras de mobilidade urbana, desviados para bancar o
enriquecimento ilícito. Um escárnio.
Que o ser humano tem por hábito ser avesso a mudanças,
sabemos, porém, devemos aproveitar o grave momento que o país atravessa para
avançarmos rumo ao futuro. Depois de quase
três décadas de ditadura militar, algumas lições já podemos tirar disso
tudo. E o povo pode ajudar pressionando
democraticamente nossa classe política através de manifestações presenciais nas
assembleias, congresso e redes sociais. É chegada a hora de uma profunda
reforma política. Esta deve reformar nosso
sistema eleitoral tornando o voto facultativo, analisar a questão do voto (se em
lista ou não, distrital etc.), e financiamento de campanha.
Na estrutura minuciosamente arquitetada e aperfeiçoada ao
longo dos anos, outro órgão vem se destacando e precisa ser reformado urgente: os
Tribunais de Contas. Sejam Municipais, Estaduais
ou da União, eles são peças fundamentais na engrenagem dos desvios de verbas
públicas. Além de custarem um caminhão
de dinheiro público à Nação e poderem nomear um número gigantesco de assessores
que muitas vezes sequer trabalham, não inibem a roubalheira, pois seus
conselheiros, indicados pelo Poder Executivo, jamais vão rejeitar as contas de
quem os indicou para o (vitalício) cargo.
Ou seja, em vez de a sociedade ter um filtro a mais para se proteger dos
corruptos, o que temos são ratificadores de bandalheiras. É hora, portanto, de os conselheiros dos
tribunais de contas, assim como juízes, auditores e procuradores, serem uma
carreira de estado.
Nossos deputados e senadores vivem viajando para participar
de missões no exterior. Que tal
programarem uma com vistas a copiar o sistema de compras e contratações
(licitações) que ocorre na Nova Zelândia, Finlândia ou Noruega. Seria um dinheiro muito bem gasto se ao final
pudéssemos ver aprovada uma lei que substituísse o lixo que é a Lei 8.666/93, que
regula as licitações. Para fechar o
cerco a novas investidas de eventuais ratazanas desavisadas ou descrentes da
nova fase do país, deveriam propor, também, uma lei para aumentar o gancho para
corruptos. Afinal, em um país igual e
justo, ladrões de galinha, são apenas ladrões de galinhas.
Finalizando, seja com for, tenho a certeza que por mais que
possamos ter errado em nossas escolhas, por mais que nos escandalizemos com
fatos novos e decepções a cada dia, e por mais que alguns dos representantes que
elegemos tenham nos decepcionado, somente nós temos a autoridade para tirá-los
de onde os colocamos, mais ninguém. Esse,
o grande barato da democracia.
Abraços Sustentáveis
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