Talvez nunca tenhamos passado, desde o pós-guerra, momento
tão delicado em nosso planeta. Precisamos tomar decisões importantes em um
curto período de tempo e não estamos conscientes dessa necessidade. Atacar a corrupção e promover a sustentabilidade
mundo afora são tarefas inadiáveis. Pela
importância que têm, ambas deveriam receber tratamento VIP da governança
global. E serem atacadas, já!
Apesar de temas antagônicos, a analogia é pertinente: corrupção
e sustentabilidade caminham de mãos dadas pois são problemas transnacionais de
difícil solução que envolvem interesses econômicos, comerciais e legislações
diversas. A dificuldade dos países em
reconhecer e se conscientizar de tal importância, inibe ações globais conjuntas. Para mudar este cenário o mundo precisará de
um amplo acordo político e muito jogo de cintura, o que parece, ainda, não
existir.
Comecemos pela corrupção que está ganhando ares de pandemia
planetária e já movimenta cifras em torno a US$1 trilhão/ano. Com o advento da globalização e a frouxidão
das leis que punem os crimes de colarinho branco, a constatação - diferente de
outras épocas -, é que hoje está muito fácil enriquecer. Para isso, basta, às vezes, a realização de apenas
um bom negócio. Por isso, na maioria dos casos, os riscos
compensam uma futura independência financeira.
Vejamos
alguns exemplos noticiados....Comecemos pela comunista China. Segundo Relatório Hurun, divulgado em 2013, 43,6%
dos bilionários chineses atuais trabalharam para o governo central. Desde os anos 2000 estima-se que tenham sido
desviados US$ 4 trilhões. Em
contrapartida, o governo local colocou sob investigação 75 mil membros do
Partido Comunista. A Rússia, um ano após
ter se desintegrado enquanto nação comunista, já tinha os seus primeiros
bilionários registrados. Bons camaradas
que se apoderaram de antigas empresas estatais.
Mais recentemente, a Espanha expulsou integrantes do Partido Popular que
comanda o país, acusados de corrupção, e o Brasil vive seu segundo grande
mensalão. Detalhe: aqui 5 mil famílias abastadas têm o equivalente a 43% da riqueza nacional. Mas afinal, a humanidade está passando por
uma crise ética e moral?
No
estágio atual do problema, inútil tentar resolver a questão apenas com ações internas de países. Para debelar o mal medidas conjugadas a outras
globais devem ser tomadas. A
força do capital e o montante que circula diariamente mundo afora é gigantesca
e o poder de persuasão das quadrilhas de verbas públicas, enorme.
Por outro lado, cada vez que abordo a questão da
sustentabilidade, menos entendo a estupidez e o egoísmo humano. Segundo o último relatório climático do IPCC
(AR5), da ONU, elaborado por cientistas do mundo todo, divulgado 27 de
setembro, em Estocolmo, na Suécia, caso as emissões de gases de efeito estufa
continuem crescendo com as taxas atuais ao longo dos próximos anos, a
temperatura do planeta poderá aumentar até 4,8 graus Celsius até 2100,
resultando em uma elevação que pode chegar a 82 centímetros do nível do mar com danos importantes na maior parte das regiões costeiras do globo.
De acordo com Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física
da USP, um dos seis brasileiros que participaram da elaboração do relatório, dos
resultados encontrados pelo IPCC (AR5), é muito provável (90% de probabilidade)
que a taxa de elevação dos oceanos durante o século 21 exceda a observada entre
1971 e 2010; em todos os cenários previstos as concentrações de CO2 serão
maiores em 2100; é virtualmente certo (99%) que a acidificação dos mares vai
aumentar; segundo os cientistas do IPCC, as últimas três décadas foram “muito
provavelmente” (90% de probabilidade) as mais quentes dos últimos 800 anos; há
90% de certeza de que o número de dias e noites frios diminuíram, enquanto os
dias e noites quentes aumentaram na escala global; há, ainda, 90% de certeza de
que a redução na camada de gelo tenha sido entre 3,5% e 4,1% por década entre
1979 e 2012; para os cientistas há uma
“confiança muito alta” (nove chances em dez) de que as taxas médias de CO2
sejam as mais altas dos últimos 22 mil anos; é “extremamente provável” (95% de
certeza) de que a influência humana sobre o clima causou mais da metade do
aumento da temperatura observada entre 1951 e 2010.
Todo o processo está documentado em revistas científicas de
prestígio. Mesmo assim, nosso planeta
continua a aquecer. De acordo com
Artaxo, “os efeitos da mudança climática já estão sendo sentidos, não é algo
para o futuro. O aumento das ondas de
calor, da frequência de furacões, das inundações, e tempestades severas, das
variações bruscas entre dias quentes e frios, provavelmente, está relacionado
ao fato de que o sistema climático está sendo alterado”.
Para o professor da USP, agora a questão é como vamos nos
adaptar e quem vai controlar a governabilidade desse sistema global. Quanto mais cedo isso for planejado, menores
serão os impactos socioeconômicos”, avaliou.
“A humanidade nunca enfrentou um problema cuja relevância chegasse perto
das mudanças climáticas, que vai afetar absolutamente todos os seres vivos do planeta. Não temos um sistema de governança global
para implementar medidas de redução de emissões e verificação, opinou Artaxo.
Ainda segundo o IPCC, será necessário 1 trilhão de
dólares/ano (lembram-se da cifra aí de cima, surrupiada anualmente?), para uma transição
segura para uma nova matriz energética no mundo. A saber, o prazo para zerarmos a utilização
de combustíveis fósseis estipulado pelo estudo, é 2100.
O sangramento desmedido e maciço de verbas públicas, imposto por gestores inescrupulosos, que ocorre na grande maioria dos países mundo afora, diminui consideravelmente o raio de ações necessárias para mitigar a desigualdade, a fome, o desmatamento, a mortalidade infantil e tantas outras questões que fazem parte do equilíbrio sustentável que precisamos para manter perene nosso Planeta.
Vivemos em um planeta onde imperam mentiras e hipocrisia, um verdadeiro faz de conta que gera como resultado uma natureza enfurecida que nos impõe, ano após ano e cada vez mais, tragédias climáticas que superam sempre nossos piores pensamentos. Por outro lado, a brutal desigualdade entre nações, confirma a completa falta de solidariedade entre os terráqueos. Reparem a vida de um finlandês e de um africano, realidades distintas e desnecessárias de existir e que poderiam ser evitadas se encarássemos o planeta como a casa de todos nós.
Ao compararmos os significados de corrupção e
sustentabilidade veremos que ambas, apesar de originárias do latim, são
incompatíveis de coexistir no mesmo ambiente.
Enquanto afirma-se que as raízes da corrupção estão no cerne da alma
humana e que seus atos podem caracterizar fraqueza moral, destruição e
degradação, o conceito de sustentabilidade está normalmente relacionado à
atitude ecologicamente correta e socialmente justa.
Eric Hobsbawm dizia: “se o único ideal dos homens é a busca da
felicidade pessoal, por meio do acúmulo de bens materiais, a humanidade é uma
espécie diminuída”. Portanto, está na
hora de saber se nós, terráqueos, seremos capazes de nos reinventar e fazer as
mudanças necessárias para seguir curtindo a vida neste belo planeta azul ou
fadados a desaparecer enquanto espécie menor.
A contagem regressiva já começou. Com a palavra, a humanidade.
Abraços Sustentáveis
Odilon de Barros
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