quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Governança global: combater a corrupção é trabalhar pela sustentabilidade



Talvez nunca tenhamos passado, desde o pós-guerra, momento tão delicado em nosso planeta. Precisamos tomar decisões importantes em um curto período de tempo e não estamos conscientes dessa necessidade.  Atacar a corrupção e promover a sustentabilidade mundo afora são tarefas inadiáveis.  Pela importância que têm, ambas deveriam receber tratamento VIP da governança global.   E serem atacadas, já!

Apesar de temas antagônicos, a analogia é pertinente: corrupção e sustentabilidade caminham de mãos dadas pois são problemas transnacionais de difícil solução que envolvem interesses econômicos, comerciais e legislações diversas.  A dificuldade dos países em reconhecer e se conscientizar de tal importância, inibe ações globais conjuntas.  Para mudar este cenário o mundo precisará de um amplo acordo político e muito jogo de cintura, o que parece, ainda, não existir. 

Comecemos pela corrupção que está ganhando ares de pandemia planetária e já movimenta cifras em torno a US$1 trilhão/ano.  Com o advento da globalização e a frouxidão das leis que punem os crimes de colarinho branco, a constatação - diferente de outras épocas -, é que hoje está muito fácil enriquecer.  Para isso, basta, às vezes, a realização de apenas um bom negócio.  Por isso, na maioria dos casos, os riscos compensam uma futura independência financeira.





Vejamos alguns exemplos noticiados....Comecemos pela comunista China.  Segundo Relatório Hurun, divulgado em 2013, 43,6% dos bilionários chineses atuais trabalharam para o governo central.  Desde os anos 2000 estima-se que tenham sido desviados US$ 4 trilhões.  Em contrapartida, o governo local colocou sob investigação 75 mil membros do Partido Comunista.  A Rússia, um ano após ter se desintegrado enquanto nação comunista, já tinha os seus primeiros bilionários registrados.  Bons camaradas que se apoderaram de antigas empresas estatais.  Mais recentemente, a Espanha expulsou integrantes do Partido Popular que comanda o país, acusados de corrupção, e o Brasil vive seu segundo grande mensalão.  Detalhe: aqui 5 mil famílias abastadas têm o equivalente a 43% da riqueza nacional.  Mas afinal, a humanidade está passando por uma crise ética e moral?

No estágio atual do problema, inútil tentar resolver a questão apenas com ações internas de países. Para debelar o mal medidas conjugadas a outras globais devem ser tomadas.  A força do capital e o montante que circula diariamente mundo afora é gigantesca e o poder de persuasão das quadrilhas de verbas públicas, enorme. 

Por outro lado, cada vez que abordo a questão da sustentabilidade, menos entendo a estupidez e o egoísmo humano.  Segundo o último relatório climático do IPCC (AR5), da ONU, elaborado por cientistas do mundo todo, divulgado 27 de setembro, em Estocolmo, na Suécia, caso as emissões de gases de efeito estufa continuem crescendo com as taxas atuais ao longo dos próximos anos, a temperatura do planeta poderá aumentar até 4,8 graus Celsius até 2100, resultando em uma elevação que pode chegar a 82 centímetros do nível do mar com danos importantes na maior parte das regiões costeiras do globo.

De acordo com Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, um dos seis brasileiros que participaram da elaboração do relatório, dos resultados encontrados pelo IPCC (AR5), é muito provável (90% de probabilidade) que a taxa de elevação dos oceanos durante o século 21 exceda a observada entre 1971 e 2010; em todos os cenários previstos as concentrações de CO2 serão maiores em 2100; é virtualmente certo (99%) que a acidificação dos mares vai aumentar; segundo os cientistas do IPCC, as últimas três décadas foram “muito provavelmente” (90% de probabilidade) as mais quentes dos últimos 800 anos; há 90% de certeza de que o número de dias e noites frios diminuíram, enquanto os dias e noites quentes aumentaram na escala global; há, ainda, 90% de certeza de que a redução na camada de gelo tenha sido entre 3,5% e 4,1% por década entre 1979 e 2012;  para os cientistas há uma “confiança muito alta” (nove chances em dez) de que as taxas médias de CO2 sejam as mais altas dos últimos 22 mil anos; é “extremamente provável” (95% de certeza) de que a influência humana sobre o clima causou mais da metade do aumento da temperatura observada entre 1951 e 2010.

Todo o processo está documentado em revistas científicas de prestígio.  Mesmo assim, nosso planeta continua a aquecer.  De acordo com Artaxo, “os efeitos da mudança climática já estão sendo sentidos, não é algo para o futuro.  O aumento das ondas de calor, da frequência de furacões, das inundações, e tempestades severas, das variações bruscas entre dias quentes e frios, provavelmente, está relacionado ao fato de que o sistema climático está sendo alterado”.

Para o professor da USP, agora a questão é como vamos nos adaptar e quem vai controlar a governabilidade desse sistema global.  Quanto mais cedo isso for planejado, menores serão os impactos socioeconômicos”, avaliou.  “A humanidade nunca enfrentou um problema cuja relevância chegasse perto das mudanças climáticas, que vai afetar absolutamente todos os seres vivos do planeta.  Não temos um sistema de governança global para implementar medidas de redução de emissões e verificação, opinou Artaxo.

Ainda segundo o IPCC, será necessário 1 trilhão de dólares/ano (lembram-se da cifra aí de cima, surrupiada anualmente?), para uma transição segura para uma nova matriz energética no mundo.  A saber, o prazo para zerarmos a utilização de combustíveis fósseis estipulado pelo estudo, é 2100.





O sangramento desmedido e maciço de verbas públicas, imposto por gestores inescrupulosos, que ocorre na grande maioria dos países mundo afora, diminui consideravelmente o raio de ações necessárias para mitigar a desigualdade, a fome, o desmatamento, a mortalidade infantil e tantas outras questões que fazem parte do equilíbrio sustentável que precisamos para manter perene nosso Planeta.

Vivemos em um planeta onde imperam mentiras e hipocrisia, um verdadeiro faz de conta que gera como resultado uma natureza enfurecida que nos impõe, ano após ano e cada vez mais, tragédias climáticas que superam sempre nossos piores pensamentos.  Por outro lado, a brutal desigualdade entre nações, confirma a completa falta de solidariedade entre os terráqueos.  Reparem a vida de um finlandês e de um africano, realidades distintas e desnecessárias de existir e que poderiam ser evitadas se encarássemos o planeta como a casa de todos nós. 

Ao compararmos os significados de corrupção e sustentabilidade veremos que ambas, apesar de originárias do latim, são incompatíveis de coexistir no mesmo ambiente.  Enquanto afirma-se que as raízes da corrupção estão no cerne da alma humana e que seus atos podem caracterizar fraqueza moral, destruição e degradação, o conceito de sustentabilidade está normalmente relacionado à atitude ecologicamente correta e socialmente justa. 

Eric Hobsbawm dizia: “se o único ideal dos homens é a busca da felicidade pessoal, por meio do acúmulo de bens materiais, a humanidade é uma espécie diminuída”.  Portanto, está na hora de saber se nós, terráqueos, seremos capazes de nos reinventar e fazer as mudanças necessárias para seguir curtindo a vida neste belo planeta azul ou fadados a desaparecer enquanto espécie menor. 

A contagem regressiva já começou.  Com a palavra, a humanidade.

Abraços Sustentáveis

Odilon de Barros


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