São várias as razões pelas quais nos deparamos ainda hoje com
a figura de Eduardo Cunha deputado.
Afinal, ele é a obra–prima acabada com requintes de crueldade de nosso
arcaico e casuísta sistema político nacional.
Ao longo dos últimos trinta anos pós-redemocratização, nossa
pouca participação na vida política do país aliada à educação propositalmente rala
da população, permitiu a nossos representantes durante décadas, ficar à vontade
para aprovar leis que, em sua grande maioria, criaram um arcabouço jurídico à
feição da impunidade e, praticamente, intransponível. Vide a resistência à Operação Lava Jato e a
enorme dificuldade para punir poderosos.
É preciso desprivatizar o Estado brasileiro, fazer com que órgãos
estatais trabalhem a serviço da sociedade e não a serviço de grupos com
interesses privados junto ao governo.
Sistematicamente abdicando do poder de influir através do
voto nos destinos do país, criamos máximas do tipo ”não tenho nada com isso,
odeio política, não voto em ninguém”. Parimos
essa criatura horrenda que mescla Al Capone em corpo de rato, glória a Deus.
Hoje, vemos o quão difícil e custoso para a imagem do país está sendo removê-lo
da cadeira de representante do povo na Câmara.
E que em junho, se a omissão do STF permanecer, por força do Congresso
da ONU, tradicionalmente aberto por nós, assistirá Cunha presidente do Brasil.
Escárnio !!!
Com desculpas as mais diversas, permitimos a não remoção de
entulhos autoritários, como o foro privilegiado e o voto obrigatório, entre
outros. Não conseguimos, em prol da
Nação e do povo, realizar a necessária reforma política para avançarmos rumo a
um futuro cada vez mais distante e que nunca chega.
Mas não é só o legislativo que está em cheque. Como três novelos que se interligam em um,
judiciário e executivo criaram sistemas de proteção próprios e muitas vezes
autônomos e se aproximam do precipício ético, social e econômico, lado a lado
ao primeiro. Por sua vez, Estados e
Municípios reproduzem em cadeia, nos três níveis de poder, problemas similares
aos que ocorrem em nível federal, só que potencializados.
Hoje, somos todos Cunha, que representa todo nosso fracasso político atual; a mentira; a hipocrisia; o conchavo; a falta de pudor; de
caráter; de respeito à sociedade; de falta de sinceridade; a certeza da impunidade; a
certeza que o crime compensa; a certeza de que ser político não vale à pena; a
certeza de que o estado brasileiro deve servir a interesses privados e não à
sociedade; a certeza que a lei 8.666/93 é um convite à corrupção e às
negociatas e precisa ser modificada; a certeza que o foro privilegiado para
questões criminais deve acabar; a certeza que a justiça é cega, surda e muda; a
certeza que precisamos de uma reforma do judiciário e; a certeza de que jamais
poderia estar à frente e comandar o julgamento do processo de impeachment da
presidente Dilma.
Vivemos à beira do precipício há décadas. Não podemos cair, mais uma vez, na esparrela
de que um impeachment solteiro será a solução para os gravíssimos problemas que
temos a resolver. Como disse o brasilianista Albert Fishlow dias atrás “engana-se
quem pensa que o impeachment é o fim de nossa crise. É o início”.
Continuo a crer que estamos em uma verdadeira sinuca de bico
político. Se por um lado Dilma, mesmo
que mantenha o mandato (o que acho justo), perdeu a capacidade política de
levar o país até 2018, tampouco Temer, com o desejo de vingança que se criou e
apoio menor que a antecessora junto à sociedade, conseguirá erguer pontes para o
futuro e pacificar o país.
É fundamental que o STF compreenda o importante papel que tem
a desempenhar agora e não se omita pendendo com seu silêncio, como pareceu até
o momento fazer, apenas para um lado do jogo político. A sociedade está de olho e atenta para ver se
Chico apanhará tanto quanto Francisco.
O momento é agora: “Concertação
Nacional e Eleições Já ”. Um grande
entendimento entre todos os atores e a sociedade. Apesar da dificuldade, fica sempre a
esperança que a sociedade possa dar o empurrão necessário para o país avançar.
Abraços Sustentáveis
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