quinta-feira, 5 de maio de 2016

Cunha é sinônimo do fracasso de um sistema que teima sobreviver


São várias as razões pelas quais nos deparamos ainda hoje com a figura de Eduardo Cunha deputado.  Afinal, ele é a obra–prima acabada com requintes de crueldade de nosso arcaico e casuísta sistema político nacional.

Ao longo dos últimos trinta anos pós-redemocratização, nossa pouca participação na vida política do país aliada à educação propositalmente rala da população, permitiu a nossos representantes durante décadas, ficar à vontade para aprovar leis que, em sua grande maioria, criaram um arcabouço jurídico à feição da impunidade e, praticamente, intransponível.  Vide a resistência à Operação Lava Jato e a enorme dificuldade para punir poderosos.   É preciso desprivatizar o Estado brasileiro, fazer com que órgãos estatais trabalhem a serviço da sociedade e não a serviço de grupos com interesses privados junto ao governo.

Sistematicamente abdicando do poder de influir através do voto nos destinos do país, criamos máximas do tipo ”não tenho nada com isso, odeio política, não voto em ninguém”.  Parimos essa criatura horrenda que mescla Al Capone em corpo de rato, glória a Deus. Hoje, vemos o quão difícil e custoso para a imagem do país está sendo removê-lo da cadeira de representante do povo na Câmara.  E que em junho, se a omissão do STF permanecer, por força do Congresso da ONU, tradicionalmente aberto por nós, assistirá Cunha presidente do Brasil. Escárnio  !!!

Com desculpas as mais diversas, permitimos a não remoção de entulhos autoritários, como o foro privilegiado e o voto obrigatório, entre outros.  Não conseguimos, em prol da Nação e do povo, realizar a necessária reforma política para avançarmos rumo a um futuro cada vez mais distante e que nunca chega.
 
Mas não é só o legislativo que está em cheque.  Como três novelos que se interligam em um, judiciário e executivo criaram sistemas de proteção próprios e muitas vezes autônomos e se aproximam do precipício ético, social e econômico, lado a lado ao primeiro.  Por sua vez, Estados e Municípios reproduzem em cadeia, nos três níveis de poder, problemas similares aos que ocorrem em nível federal, só que potencializados.

Hoje, somos todos Cunha, que representa todo nosso fracasso político atual; a mentira; a hipocrisia; o conchavo; a falta de pudor; de caráter; de respeito à sociedade; de falta de sinceridade; a certeza da impunidade; a certeza que o crime compensa; a certeza de que ser político não vale à pena; a certeza de que o estado brasileiro deve servir a interesses privados e não à sociedade; a certeza que a lei 8.666/93 é um convite à corrupção e às negociatas e precisa ser modificada; a certeza que o foro privilegiado para questões criminais deve acabar; a certeza que a justiça é cega, surda e muda; a certeza que precisamos de uma reforma do judiciário e; a certeza de que jamais poderia estar à frente e comandar o julgamento do processo de impeachment da presidente Dilma. 

Vivemos à beira do precipício há décadas.  Não podemos cair, mais uma vez, na esparrela de que um impeachment solteiro será a solução para os gravíssimos problemas que temos a resolver. Como disse o brasilianista Albert Fishlow dias atrás “engana-se quem pensa que o impeachment é o fim de nossa crise. É o início”.

Continuo a crer que estamos em uma verdadeira sinuca de bico político.  Se por um lado Dilma, mesmo que mantenha o mandato (o que acho justo), perdeu a capacidade política de levar o país até 2018, tampouco Temer, com o desejo de vingança que se criou e apoio menor que a antecessora junto à sociedade, conseguirá erguer pontes para o futuro e pacificar o país.   

É fundamental que o STF compreenda o importante papel que tem a desempenhar agora e não se omita pendendo com seu silêncio, como pareceu até o momento fazer, apenas para um lado do jogo político.  A sociedade está de olho e atenta para ver se Chico apanhará tanto quanto Francisco.

O momento é agora: “Concertação Nacional e Eleições Já ”.  Um grande entendimento entre todos os atores e a sociedade.  Apesar da dificuldade, fica sempre a esperança que a sociedade possa dar o empurrão necessário para o país avançar.



Abraços Sustentáveis

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