Três
dias antes da divulgação da primeira parte do 5º Relatório de Avaliação do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) no qual fica
cientificamente comprovado que o aquecimento climático é de responsabilidade
humana, a Presidenta Dilma Rousseff disse na 68ª Assembleia-Geral das Nações
Unidas que a Agenda de Desenvolvimento pós-2015 deveria ter como eixo os
resultados da RIO+20. No seu discurso ela afirmou que “o grande passo que demos
no Rio foi colocar a pobreza no centro da agenda do desenvolvimento
sustentável. A pobreza não é um problema exclusivo dos países em
desenvolvimento e a proteção ambiental não é uma meta apenas para quando a
pobreza estiver superada. O sentido da Agenda pós-2015 é a construção de um
mundo no qual seja possível crescer, incluir, conservar e proteger”. O
Relatório do IPCC diz que “é clara a influência humana sobre o sistema
climático. Esta fica evidente nas concentrações crescentes de Gases de Efeito
Estufa (GEE) na atmosfera (já ultrapassamos as 400 partes por milhão), no
aquecimento observado e na maior compreensão do sistema climático”. Na mesma
Assembleia da ONU, José Mujica, Presidente do Uruguai, disse num discurso que
virou viral na Internet, ao menos no Brasil, que: “Carrego uma gigantesca
dívida social e a necessidade de defender a Amazônia, os mares, os nossos
grandes rios da América. Como se financia a luta global pela água e contra os
desertos? Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global? Volto a
repetir que o que alguns chamam de crise ecológica do Planeta é consequência do
triunfo avassalante da ambição humana; o nosso triunfo é também a nossa
derrota, porque temos a impotência política de nos enquadrar numa nova época”.
As concentrações de GEE na atmosfera já aumentaram a níveis sem precedentes
dentro de um intervalo de pelo menos 800 mil anos. A queima de combustíveis
fósseis é a principal razão do aumento de 40% na concentração de CO2 observado
desde a Revolução Industrial. Segundo Silvia Dias, especialista em mudanças
climáticas da ONG Vitae Civilis “não há espaço para a dúvida política, a hora
dos governos cumprirem seu papel é agora”. O Secretário-Geral da ONU, Ban
Ki-moon disse: “O Informe do IPCC revela claramente que o impacto humano no
clima agora é evidente na maioria das regiões do Planeta e é altamente provável
que a influencia do homem tivesse sido a causa dominante do aquecimento global
registrado desde meados do Século 20”. O cientista Mario Molina, Prêmio Nobel
de Química 1995, principal especialista na Camada de Ozônio e nos CFCs e membro
do IPCC, explicou que: “o Informe emitido pelo Grupo de Trabalho I do IPCC fala
sobre a ciência física da mudança climática e será complementado posteriormente
por três informes cuidadosamente elaborados que serão difundidos durante os próximos
18 meses. O AR-5 é um compêndio conservador e detalhado de estudos revisados
entre centenas de cientistas de todo o mundo, e deve ser reconhecido porque
provêm de um prestigioso grupo cujas descobertas durante os últimos 20 anos
contribuíram nas políticas públicas e em nortear os tomadores de decisões sobre
a mudança climática nos mais altos níveis internacionais”. O recente incêndio
da floresta do Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, é uma amostra das
radicais mudanças do clima, assim como o são o ciclone que atingiu Santa
Catarina neste mês e as anormais chuvas na região Sudeste do Brasil. por Lúcia Chayb e René Capriles, da Eco21