A grande mensagem do quinto relatório do IPCC é que a situação é
cada vez mais crítica, e que, se nada ou muito pouco for feito, entraremos em
uma trajetória muito perigosa. A janela de oportunidade para evitarmos o
colapso do sistema climático é estreita. As emissões globais têm que atingir
seu pico nos próximos anos e começar a serem reduzidas de forma acelerada para
evitarmos que o aquecimento ultrapasse os 2°C de aumento médio da temperatura média
do planeta, limite que os cientistas consideram como administrável. Mesmo no
melhor cenário de redução de emissões, teremos que ter estratégias para lidar
com as consequências do aquecimento que já ocorre hoje e que irá aumentar nas
próximas décadas, afetando a vida de milhões de pessoas.
O novo relatório aponta um aumento no grau de certeza da
influência humana no aquecimento global, agora de 95%. As cidades e o processo
de urbanização vêm ganhando cada vez mais espaço nas discussões, visto que até
2030 dois terços da população global viverá em centros urbanos — marca que já
foi ultrapassada em nosso País–, que 75% de toda energia é consumida nas
cidades e que nessas áreas os efeitos das mudanças serão mais sentidos,
principalmente pela grande concentração de pessoas e todos os problemas
ambientais característicos das regiões metropolitanas.
Não há opção outra que não a ação incisiva, pois o custo para a
sociedade global da inação é impagável. Centenas de milhares de pessoas morrem
e são drasticamente afetadas por eventos climáticos extremos a cada ano, e isso
tende a piorar, com eventos extremos mais fortes e mais frequentes.
O Brasil conseguiu um feito inédito, que foi o de diminuir
concretamente suas emissões com a queda no desmatamento. Porém, o País está
pondo em risco esse único e importante trunfo, ao afrouxar as regras de
controle do desmatamento, por meio da revogação do Código Florestal, do projeto
substitutivo que visa alterar a Lei nº 9.985/2000 (do SNUC – Sistema Nacional
de Unidades de Conservação), da tentativa de paralisar a criação de unidades de
conservação (PEC 215), e da tentativa de abrir terras indígenas à exploração
industrial (PLP 227). Além de tudo isso, o País não avançou em outras áreas de
mitigação das emissões em adaptação às mudanças climáticas já em curso.
A realidade climática no Brasil é de seca extrema no Nordeste, a
pior em décadas, mais uma enchente no vale do Itajaí, um tornado no sul de São
Paulo, entre outros eventos extremos. O Brasil precisa reagir para tornar
mudanças climáticas tema prioritário para os grandes planos de desenvolvimento
do País, em todos os níveis de governo. Hoje temos trilhões de recursos a serem
investidos em infraestrutura, planos de expansão da geração de energia
principalmente de fontes fósseis (cerca de 70% dos investimentos do País),
planos safra anuais e incentivos à indústria, sem nenhuma conexão com a lógica
do desenvolvimento de baixo carbono. Temos um conjunto de políticas de clima
desconexas, sem coordenação e que sequer tem seus potenciais impactos positivos
monitorados; e o Fundo Clima está completamente ameaçado e com recursos
contingenciados – fundo esse criado pelo governo brasileiro em dezembro de
2009, que tem por finalidade financiar projetos, estudos e empreendimentos que
visem à mitigação (ou seja, à redução dos impactos) da mudança do clima e à
adaptação a seus efeitos. André
Ferretti é coordenador Geral do Observatório do Clima