Mesmo sendo uma concessão pública, a TV
brasileira, nascida nos idos de 1950 para ser um veículo de massa, já chegou
desvirtuada de seu objetivo principal e atendendo, à época, apenas aos mais abastados em função
do alto custo dos televisores vindos dos EUA. Continuou
assim quando do surgimento da TV a cores e, mais recentemente, com o surgimento
da TV digital.
Sua popularização veio mesmo através das
novelas da Rede Globo. Por isso fico a me perguntar que produto mágico é esse que há décadas não se repagina, não muda temas, não cai
em desuso e que, apesar de antiquado é ao mesmo tempo moderno? Espécie de parque de diversão coletivo atraindo milhões de seguidores, novela após novela.
Cresci vendo minha família hipnotizada à
frente da TV Globo no horário das 20h e apenas para lembrar de algumas...
Irmãos Coragem, Primeiro Amor, O Bem Amado, Selva de Pedra, Avenida Brasil e
por aí vai. Sem dúvida, uma cachaça a
formar opiniões e mentes Brasil afora.
Um poder incrível no imaginário nacional.
Porém, notável mesmo é como conseguem perpetuar a mesma receita vazia e sem cultura por tanto tempo: traição, vingança, brigas familiares, rico contra pobre e na
grande maioria das vezes, belos finais felizes. Pensariam ou
sonhariam loucos como eu: mexer em time que está goleando e jogando sozinho
(competentemente, diga-se de passagem), há mais de meio século, nem pensar,
para quê?
Hoje, o brasileiro já assiste novelas às 14h, 18h, 19h, 21h, e ensaia,
já pela segunda vez, “remakes” mais curtos de sucessos estrondosos do passado,
às 23h. Tudo introduzido lenta e homeopaticamente em nossas mentes.
Mexer nessa estrutura vencedora só por uma boa, ótima, excepcional
causa. Sou capaz de afirmar que a Globo fidelizou de forma quase que
vitalícia uma base fiel de telespectadores, sendo praticamente imbatível nesses
horários.
Mas o Planeta Terra é ou não uma boa causa?
Pois é, essa semana, ainda por conta dos efeitos da Rio +20 e do
relatório do IPCC, recentemente divulgado e de minha formação profissional -
onde sempre fico imaginando soluções para um mundo melhor e mais justo -,
sonhei acordado que nossas emissoras, não
vou ousar dizer “modificariam” sua receita de sucesso de décadas, mas
“envidariam esforços em se adequar aos novos tempos e necessidades de nosso já
combalido e sofrido Planeta Terra”.
Sou cônscio da capacidade e poder de persuasão de nossas redes televisivas,
aliás, reconheço que, mesmo pontualmente, algumas, como a Globo, vêm desenvolvendo
temas voltados à responsabilidade social e contribuindo
para a discussão de várias de nossas diferenças e preconceitos. Foi
assim com Carolina Dickman quando interpretou uma jovem com a cabeça raspada
por conta de um câncer; em outra abordou a questão da cegueira e o sempre atual
combate ao preconceito de gênero.
Seja como for, convido nossas emissoras para uma viagem
maior, ainda mais ousada (e muito necessária), e com os olhos bem abertos
imaginar uma nova linha de abordagem das novelas em que as velhas tramas
românticas, repletas de vilões, traição, vingança, ricos versus pobres etc etc,
passariam a dividir espaço - não desaparecer das telas -, com temas importantes
pelos quais passamos cotidianamente enquanto habitantes dessa louca
e desrespeitada “terra brasilis”.
Recente pesquisa divulgada nos meios de comunicação mostrou que o meio
ambiente é apenas a sexta preocupação do brasileiro, portanto, nada melhor que
um veículo de massa e um produto que alcance praticamente 50% dos lares
brasileiros, diariamente, para massificar uma ideia. Mais, virar
fator multiplicador, em todos os sentidos, inclusive os
comerciais. Essa, uma outra boa discussão a travar !
Citando apenas algumas ações imediatas e simples, poderíamos ter:
- Novelas literalmente sustentáveis – Rock In Rio teve seu carbono
emitido medido e compensado e a Olimpíada de 2016 também será assim -, já existem empresas
que fazem esse trabalho, sendo possível até sua troca por merchandising?);
- Utilização de energias alternativas nas residências e empresas
componentes das novelas (solar e eólica, por exemplo);
- Utilização de bicicletas elétricas e combustíveis menos poluentes nos
carros do elenco (óleo de mamona, diesel de cana de açúcar, motores elétricos);
- Campanhas para incentivos governamentais à fabricação de carros
elétricos (impostos verdes);
- Plano visando alcançar, em futuro próximo, relacionamento apenas com
empresas socialmente responsáveis;
- Mensagens criativas para que nossas cidades adotem coleta seletiva (as
eleições estão aí);
- Campanhas por reciclagem de lixo;
- Utilização de “empresas fictícias” nas histórias que abordem o tema da
ética corporativa e;
- Diálogos que eduquem e ensinem nossa população a economizar energia
elétrica, uso racional da água e que não desperdicem alimentos.
Sem dúvida, tudo isso mesclado com antigos temas ao longo dos próximos anos fará uma revolução silenciosa de hábitos em nosso
país. Ouso afirmar: talvez até hoje a maior contribuição da emissora
à população brasileira, uma mudança de costumes a ser seguida e copiada mundo
afora. Lição de cidadania e responsabilidade social na veia!
Um projeto de uma nova televisão a ser apresentado e explicado a seu
público. Emissoras preocupadas com o futuro do Planeta, de seus
habitantes, e na vanguarda de todas as outras.
O mundo que se avizinha é “Blade Runner”. Tenho plena convicção que nesse projeto de Responsabilidade Social implantado nas várias grades, nós,
os telespectadores, somos seus maiores “stakeholders” e estamos prontos e
ávidos por essa mudança de postura, de comportamento, que é necessária, atual, moderna e vital
para o Planeta, que desde já agradece.
Abraços sustentáveis
Odilon de Barros