As manifestações de março trouxeram
de volta alguns fantasmas latentes na memória da sociedade brasileira, entre
eles pedidos de intervenção e golpe militar. Apesar de considerar democrática a
livre expressão de pensamento, tais manifestações demonstram, além de
desconhecimento do que ocorreu naquele sombrio período, o desprezo pelo bem mais
precioso de um país, conquistado com o sangue de tantos brasileiros: a
democracia.
Mostra, também, a desilusão da
população com os vários governos civis que sucederam os militares e a falta,
sobretudo, de prioridades nas escolhas de projetos que atendam às reais
necessidades de nosso povo.
Mas é a educação, o item mais
preocupante e sofrível a ser enfrentado no longo elenco de carências do país pós
redemocratização. Dela dependerá o
futuro da nação, o discernimento necessário para as mentes daqueles que arcarão
com a responsabilidade das melhores escolhas e caminhos a seguir.
Há 51 anos atrás, nossa
constituição foi rasgada pelo golpe militar.
Dali em diante, muita coisa mudou.
E para pior. Corações e mentes
foram silenciados pelo regime imposto à força.
Com uma falsa democratização do acesso à educação no Brasil, vinculou-se
a educação pública aos interesses de mercado, estimulando, assim, a
privatização do ensino.
Se antes do golpe a oferta de
vagas era maciçamente pública, hoje 75% são preenchidas pelas instituições
privadas. O pesquisador Dermeval
Saviani, professor emérito da UNICAMP, em artigo publicado nos Cadernos Cedes,
intitulado “O Legado Educacional do Regime Militar”, retraçou a história da
reforma educacional implantada pelo regime, começando em 1967, que eliminava a
exigência de um gasto mínimo com educação – restabelecido em 1969, mas somente
na esfera municipal -, passando pela Lei da Reforma Universitária de 1968, pelo
decreto de regulamentação dessa lei, de 1969, e pela lei de 1971 que, como
resume o artigo, “unificou o antigo primário com o antigo ginásio, criando o 1º
grau de oito anos e instituiu a profissionalização universal e compulsória no
ensino de 2º grau, visando atender à formação de mão de obra qualificada para o
mercado de trabalho”.
Esse processo, diz Saviani, gerou
um “cruzamento perverso entre as redes públicas e privadas”. Com isso, os grupos privados atuantes no
ensino foram beneficiados. E a educação se mercantilizou como banana, com
universidades oferecendo “Hensino com H maiúsculo” em cada esquina. E dane-se o
povo e o país.
O salto de qualidade tão sonhado
e tão necessário, passa por uma revolução na educação nacional. Nesses trinta anos que sucederam ao governo
de exceção dos militares, não fizemos qualquer reforma na estrutura educacional
que proporcionasse avanços significativos consistentes de qualidade que
garantisse vislumbrarmos um cenário de ponta para o Brasil.
Por tudo isso, não enxergo outra
saída que não contemple a educação como prioridade zero na busca da
excelência. Talvez assim tenhamos um
caminhar sólido e seguro, sem fantasmas a nos rodear a cada solavanco proporcionado
por políticas equivocadas de governos, normal em qualquer democracia.
Talvez assim, nossos jovens
consigam separar o joio do trigo veiculado pela grande imprensa e saber que qualquer
governo democrático e legitimamente eleito, por pior que seja, sempre vai ser
melhor que a ditadura imposta por um golpe de estado.
Talvez assim, um dia consigamos
até punir os torturadores e zerar essa história.
Abraços Sustentáveis
Odilon de Barros
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