terça-feira, 31 de março de 2015

31 de março de 1964: um ano para não ser lembrado, nem esquecido


As manifestações de março trouxeram de volta alguns fantasmas latentes na memória da sociedade brasileira, entre eles pedidos de intervenção e golpe militar. Apesar de considerar democrática a livre expressão de pensamento, tais manifestações demonstram, além de desconhecimento do que ocorreu naquele sombrio período, o desprezo pelo bem mais precioso de um país, conquistado com o sangue de tantos brasileiros: a democracia.

Mostra, também, a desilusão da população com os vários governos civis que sucederam os militares e a falta, sobretudo, de prioridades nas escolhas de projetos que atendam às reais necessidades de nosso povo. 

Mas é a educação, o item mais preocupante e sofrível a ser enfrentado no longo elenco de carências do país pós redemocratização.  Dela dependerá o futuro da nação, o discernimento necessário para as mentes daqueles que arcarão com a responsabilidade das melhores escolhas e caminhos a seguir. 

Há 51 anos atrás, nossa constituição foi rasgada pelo golpe militar.  Dali em diante, muita coisa mudou.  E para pior.  Corações e mentes foram silenciados pelo regime imposto à força.  Com uma falsa democratização do acesso à educação no Brasil, vinculou-se a educação pública aos interesses de mercado, estimulando, assim, a privatização do ensino.




Se antes do golpe a oferta de vagas era maciçamente pública, hoje 75% são preenchidas pelas instituições privadas.  O pesquisador Dermeval Saviani, professor emérito da UNICAMP, em artigo publicado nos Cadernos Cedes, intitulado “O Legado Educacional do Regime Militar”, retraçou a história da reforma educacional implantada pelo regime, começando em 1967, que eliminava a exigência de um gasto mínimo com educação – restabelecido em 1969, mas somente na esfera municipal -, passando pela Lei da Reforma Universitária de 1968, pelo decreto de regulamentação dessa lei, de 1969, e pela lei de 1971 que, como resume o artigo, “unificou o antigo primário com o antigo ginásio, criando o 1º grau de oito anos e instituiu a profissionalização universal e compulsória no ensino de 2º grau, visando atender à formação de mão de obra qualificada para o mercado de trabalho”.

Esse processo, diz Saviani, gerou um “cruzamento perverso entre as redes públicas e privadas”.  Com isso, os grupos privados atuantes no ensino foram beneficiados. E a educação se mercantilizou como banana, com universidades oferecendo “Hensino com H maiúsculo” em cada esquina. E dane-se o povo e o país.

O salto de qualidade tão sonhado e tão necessário, passa por uma revolução na educação nacional.  Nesses trinta anos que sucederam ao governo de exceção dos militares, não fizemos qualquer reforma na estrutura educacional que proporcionasse avanços significativos consistentes de qualidade que garantisse vislumbrarmos um cenário de ponta para o Brasil. 

Por tudo isso, não enxergo outra saída que não contemple a educação como prioridade zero na busca da excelência.  Talvez assim tenhamos um caminhar sólido e seguro, sem fantasmas a nos rodear a cada solavanco proporcionado por políticas equivocadas de governos, normal em qualquer democracia.
Talvez assim, nossos jovens consigam separar o joio do trigo veiculado pela grande imprensa e saber que qualquer governo democrático e legitimamente eleito, por pior que seja, sempre vai ser melhor que a ditadura imposta por um golpe de estado.

Talvez assim, um dia consigamos até punir os torturadores e zerar essa história.

Abraços Sustentáveis


Odilon de Barros

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