sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Uma reflexão sustentável antes que uma tragédia aconteça


Acompanho com preocupação, desde junho, as manifestações Brasil afora e, salta aos olhos os mais variados casos divulgados pela mídia no que tange à desmedida forma de abordagem com que os aparatos de segurança pública dos estados vêm tratando aqueles que, usufruindo de um direito constitucional, protestam, democraticamente, nas ruas das grandes cidades do país. 
Aliás, se voltarmos um pouquinho no tempo, foi a partir de uma repressão violenta na cidade de São Paulo, que o movimento ganhou força e levou multidões às ruas.  Não raro ouvimos relatos de distribuição farta de golpes de cassetetes, tiros de borracha a esmo (que levaram à cegueira profissionais de imprensa que cobriam os eventos), uso indiscriminado de spray de pimenta, desrespeito verbal e violência moral. 



O espaço não me permite uma análise mais profunda das causas desse desrespeito sem fim, mas nossa tenra democracia responde com uma estatística pavorosa: apenas no Estado do Rio, de 2007 a 2013, desapareceram 35 mil pessoas, numa média diária de 16 pessoas.  Se levarmos em consideração que os números refletem apenas o Estado do Rio e que a guerra do Vietnã matou em 10 anos 55 mil pessoas, podemos afirmar com segurança que vivemos em um estado de guerra contínuo há tempos, afinal, que outro país do mundo democrático tem índice pior?
O ato de atirar (mesmo balas de borracha), utilizar spray de pimenta ou, mais recentemente, ameaçar manifestantes com choques paralisantes que, dependendo da carga e da pessoa, podem levar à morte, é apenas a parte visível de uma prática secular de uma convivência desrespeitosa, que acontece indiscriminadamente em comunidades carentes, praticada pelo Estado e que, em função do momento que vivemos, foi exportada para as ruas pelas mesmas forças que agem fora da lei, lá.  Só que no asfalto, os holofotes jogaram luz e escancararam o problema. E ele é grave, gravíssimo.
E, das duas uma: ou não existe comando (e quando digo comando estou me referindo a  políticas públicas de segurança que envolvem a cadeia Federal, Estadual e Municipal) que faça a tropa seguir por um outro caminho que não o da violência, com cursos e reciclagem que humanizem os seres que vão para as ruas, ou a tropa, apesar de todas as diretrizes e recomendações, não obedece seus superiores.
Temos um histórico de desrespeito crônico que permeia todos os setores da sociedade, da saúde à educação, passando pelo transporte público, apenas para ficarmos nos temas de cobrança da moda.  A corrupção é endêmica.  Prestam-nos serviços de quinta categoria quando pagamos impostos de primeiro mundo. 
Está sendo convocada pelas redes sociais uma gigantesca manifestação para o dia 7 de setembro onde são esperadas milhões de pessoas.  É dever das autoridades responsáveis pela segurança, em suas várias esferas, garantir a livre e democrática manifestação, garantir a ordem (com equilíbrio) e coibir possíveis excessos.    
Apesar de a classe política ter ignorado os anseios da sociedade nas manifestações de junho, não é hora de aceitar provocações.  Pressionar, sim.  Aproveitemos  a sorte que ainda passeia por essas bandas e não nos obrigou, até agora, a enterrar nenhum herói ou mártir por conta de operações desastradas de nossas polícias.



Em um planeta que com poucos toques no computador se sabe o que suecos, suíços ou dinamarqueses, por exemplo, recebem de seus governos em troca dos impostos pagos, o significado da palavra desrespeito, aqui, ganha contornos de tragédia nacional. 
A resposta lhes daremos em outubro do ano que vem.
Abraços sustentáveis