quinta-feira, 28 de maio de 2015

Vidraçaria Brasil: aqui, o desrespeito à cidadania é cotidiano



Faz pouco mais de 30 anos, os americanos James Q. Wilson e George Kelling, publicaram estudo em que estabeleciam, pela primeira vez, uma relação causal entre desordem e criminalidade.  Os autores queriam provar a teoria das janelas quebradas (The Broken Windows Theory). 

Sendo assim, estacionaram dois carros idênticos e os abandonaram, um no Bronx, bairro pobre de Nova York, e outro em Palo Alto, local de abastados na Califórnia.  Enquanto em poucas horas o primeiro carro era completamente destruído, o segundo se mantinha intacto.  A partir do momento que o primeiro vidro foi quebrado em Palo Alto, sem que ninguém reclamasse, o mesmo aconteceu. 

A ideia, segundo os autores, era demonstrar que pequenos delitos que não são combatidos imediatamente tendem, caso comunidades e Poder Público não entrem em ação, tornarem-se eternos e de difícil solução futura, o que, no médio e longo prazo, deteriora a qualidade de vida.


Mesmo acreditando que nosso problema é complexo, tal comportamento, transportado para a realidade brasileira, leva-nos a crer que há décadas procedemos, nos mais variados temas nacionais, dessa maneira.  Nossa sociedade é permissiva, pouco politizada e com baixa escolaridade, nunca exercitou o saudável hábito de cobrar do Estado aquilo que é, de fato e de direito, sua obrigação fornecer.  

Ao aceitar tratamentos diferenciados/privilegiados para determinadas regiões/estados/municípios/bairros, sem se rebelar ou exigir equidade na distribuição de recursos, de seus representantes, abrimos flancos para a perda de direitos mundialmente reconhecidos e aplicados. Pergunte para um cidadão francês, alemão, dinamarquês ou inglês, se aceita entrar num hospital (que é público) e ficar em uma maca no corredor esperando 6 horas por um atendimento que pode nem ocorrer?

Por serem homeopáticas as doses do desrespeito, achamos normal levar nossos filhos à escola e não ter professores; e que a merenda seja de péssima qualidade; não nos importamos andar em ruas e estradas esburacadas com nossos carros;  não ligamos pagar impostos e ter uma assistência à saúde de péssima qualidade; sequer questionamos sistemas diferenciados de aposentadoria, um público e outro privado; com naturalidade, acreditamos que nossas cidades não tenham água e esgoto tratado.

Aqui, diferente de lá, vivemos um verdadeiro vale-tudo, quebrando nossas vidraças continuamente.  

Sem nos importarmos com a fragilidade de nossa tenra e novata democracia, seguimos vandalizando a ética e a moral do povo, acreditando sempre que Deus (se existe) é brasileiro e nos salvará.

Bem que as ruas podiam ajudar novamente!

Abraços Sustentáveis

Odilon de Barros



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