Governo assume que COP 21 em Paris não será a solução definitiva dos problemas climáticos, lembra das antigas colaborações brasileiras sem prometer muito e cobra ação de outros países
Faltam menos de 5 meses para que o governo brasileiro apresente o relatório de compromissos que cada país deve entregar às Nações Unidas (ONU), contendo suas metas nacionais para a mitigação das mudanças climáticas. O INDC (Contribuição Intencional Nacionalmente Determinada, em tradução livre) serve como base para as negociações da COP 21, a vigésima primeira edição da Conferência de Mudanças Climáticas da ONU, a ser realizada em Paris no fim do ano.
O Greenpeace vem acompanhando a formulação do relatório nas audiências de consulta pública que o governo realiza desde o começo do ano no Congresso Nacional e também no Itamaraty. O que se nota é um tom passivo ao reconhecer que o encontro climático em Paris “não será nenhuma bala de prata”, como disse nesta terça-feira (19) o Ministro Everton Lucero, representante do Itamaraty, durante audiência pública da Comissão de Participação Legislativa, na Câmara.
Existe uma grande expectativa internacional sobre a COP 21, onde 196 países membros apresentarão seus esforços para combater as mudanças climáticas. Mas para o governo, que se diz referência mundial na mitigação das emissões de gases de efeito estufa com as medidas que tomou no passado, o Brasil já fez sua parte.
É preciso reconhecer o que já foi feito. Entre 2005 e 2012, o País reduziu cerca de 41% das emissões. Segundo Adriano Oliveira, representante do Ministério do Ambiente (MMA), em 2014 o desmatamento, uma das principais causas de emissão de CO2, havia sido reduzido em 80% se comparado com o ano de 2004.
“O governo insiste em mostrar que o Brasil está em condição melhor do que outros países, o que é verdade, mas ao mesmo tempo está andando para trás enquanto o resto do mundo está avançando no combate às mudanças climáticas”, alertou Alfredo Sirkis, diretor do Centro Brasil no Clima.
O ex-deputado Sirkis faz referência à participação de energia renovável na matriz energética brasileira, tese corroborada por Tasso Azevedo, hoje do Observatório do Clima. Durante a 4ª audiência da Comissão sobre Mudanças Climáticas no Senado, Azevedo disse: “o Brasil segue uma rota ao inverso do que o mundo está indo agora. Já chegamos a ter 53% de energia renovável em nossa matriz energética. Mas num período curto de 10 anos foi para quarenta, e continua caindo”.
Energia para o clima
As termoelétricas, usinas movidas à carvão, diesel e gás, são responsáveis por boa parte das emissões do setor de energia. Com a crise no abastecimento, que depende cada vez mais das termoelétricas para corresponder à demanda do brasileiro, as emissões provenientes dessas fontes aumentaram em 20 milhões de toneladas de CO2 entre 2012 e 2013.
A participação de renováveis na matriz brasileira ronda os 40%, e Adriano Oliveira, representando o MMA, disse em abril que o ministério está pronto para discutir aumentar esse número.
Ano passado foi a primeira vez na história que a capacidade de energia instalada em fontes renováveis ultrapassou a de energia convencional. Os investimentos em energia fóssil chegaram ao patamar de US$300 bilhões em 2014, enquanto as renováveis receberam US$270 bilhões no mesmo ano.
“É a primeira vez que elas quase se equiparam. As fontes renováveis estão se tornando cada vez mais competitivas e devem aumentar sua participação no mercado nos próximos anos”, explica Pedro Telles, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. “Veja a energia solar, por exemplo: seu preço despencou 80% nos últimos quatro anos”. (Greenpeace Brasil/ #Envolverde/Utopia Sustentável)
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