Moro num condomínio com aproximadamente 200 casas, que tem
uma associação de moradores e um estatuto, elaborado no calor de uma briga
generalizada entre proprietários nos idos de 1945. Como em todo lugar com muita gente morando e
realidades distintas, vivemos em permanente conflito.
Junto e misturado, casas belas e luxuosas, de altíssimo
padrão, contrastam com taperas feitas de papelão e restos de madeira onde convivem
ricos, classe média, pobres e paupérrimos, negros e brancos, analfabetos e
PHD’s. Famílias com bilhões de dólares na
conta convivem com outras que ganham menos de um dólar ao dia. Parece mentira, mas enquanto vejo uns saírem para
trabalhar em helicóptero particular, outros nem dinheiro para a passagem têm.
Pior, nem incomodados ficam.
Tamanho contraste torna a convivência cada dia mais difícil,
o que é compreensível pois não dá para entender a falta de transparência da
associação local – que tem sua sede dentro da casa do morador mais rico - já
que todos são proprietários e pagam suas contas em dia. Porém, quem decide mesmo é um grupinho de cinco
moradores, às vezes aumentado para vinte que, de forma marota, tem o poder de
vetar opiniões em assembleias e cláusulas ou artigos que venham a ser propostos
ao regulamento que possam significar mudança ou perda de poder de decisão do
grupo e seus parceiros estratégicos.
Apesar de convivermos dentro de uma área fechada, muitos
lugares são de difícil acesso e perigosos.
Poucas são as casas com os serviços básicos atendidos. E, por incrível que possa parecer, 1/7 dos
habitantes dessas casas ainda passam fome.
Vivemos a uma esquina da miséria absoluta. Apesar de os necessitados serem maioria
esmagadora no condomínio, a hipocrisia continua dando as cartas pois os ricos
não aceitam negociar.
Ultimamente, nossa preocupação tem sido com as orgias
promovidas por esse pequeno grupo. São
constantes as reclamações em função dos desperdícios de água e energia, porém,
mesmo avisados que o precioso líquido pode faltar e que é preciso investir em
novas matrizes de energia, os nobres moradores parecem não acreditar. E continuam gastando.
Fazer a analogia entre a realidade global e o nosso pequeno
mundinho cotidiano vai da capacidade que cada um de nós tem em fantasiar. Afinal, não dá para querer resolver o
problema da sustentabilidade no mundo sem fazermos o nosso dever de casa,
ajudar a melhorar o lugar onde moramos, instruir nossos filhos contra o
desperdício, participar das decisões cidadãs de nossa cidade e país.
Está claro que a desigualdade não é sustentável e que o
egoísmo está nos levando rapidamente ao colapso. A saída está na solidariedade, em menos
ganância, em ajudar o próximo a chegar onde chegamos, a dividir, proteger.
Se conseguirmos, diariamente, como um mantra, imaginar o
mundo como a casa em que vivemos, transportando para seus cômodos toda a
desigualdade existente em nosso Planeta, com lugares riquíssimos e cantos
paupérrimos, talvez consigamos entender que o atual cenário é um belo filme de
horror que está chegando ao fim com requintes de crueldade, sem mocinhos ou
bandidos, onde todos morrerão.
A saída para a sobrevivência pode estar no equilíbrio. Believe it or not!
Abraços sustentáveis
Odilon de Barros