sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O nosso condomínio TERRA


Moro num condomínio com aproximadamente 200 casas, que tem uma associação de moradores e um estatuto, elaborado no calor de uma briga generalizada entre proprietários nos idos de 1945.  Como em todo lugar com muita gente morando e realidades distintas, vivemos em permanente conflito. 

Junto e misturado, casas belas e luxuosas, de altíssimo padrão, contrastam com taperas feitas de papelão e restos de madeira onde convivem ricos, classe média, pobres e paupérrimos, negros e brancos, analfabetos e PHD’s.  Famílias com bilhões de dólares na conta convivem com outras que ganham menos de um dólar ao dia.  Parece mentira, mas enquanto vejo uns saírem para trabalhar em helicóptero particular, outros nem dinheiro para a passagem têm. Pior, nem incomodados ficam.

Tamanho contraste torna a convivência cada dia mais difícil, o que é compreensível pois não dá para entender a falta de transparência da associação local – que tem sua sede dentro da casa do morador mais rico - já que todos são proprietários e pagam suas contas em dia.  Porém, quem decide mesmo é um grupinho de cinco moradores, às vezes aumentado para vinte que, de forma marota, tem o poder de vetar opiniões em assembleias e cláusulas ou artigos que venham a ser propostos ao regulamento que possam significar mudança ou perda de poder de decisão do grupo e seus parceiros estratégicos.

Apesar de convivermos dentro de uma área fechada, muitos lugares são de difícil acesso e perigosos.  Poucas são as casas com os serviços básicos atendidos.  E, por incrível que possa parecer, 1/7 dos habitantes dessas casas ainda passam fome.  Vivemos a uma esquina da miséria absoluta.  Apesar de os necessitados serem maioria esmagadora no condomínio, a hipocrisia continua dando as cartas pois os ricos não aceitam negociar. 

Ultimamente, nossa preocupação tem sido com as orgias promovidas por esse pequeno grupo.  São constantes as reclamações em função dos desperdícios de água e energia, porém, mesmo avisados que o precioso líquido pode faltar e que é preciso investir em novas matrizes de energia, os nobres moradores parecem não acreditar.  E continuam gastando.


Fazer a analogia entre a realidade global e o nosso pequeno mundinho cotidiano vai da capacidade que cada um de nós tem em fantasiar.  Afinal, não dá para querer resolver o problema da sustentabilidade no mundo sem fazermos o nosso dever de casa, ajudar a melhorar o lugar onde moramos, instruir nossos filhos contra o desperdício, participar das decisões cidadãs de nossa cidade e país.

Está claro que a desigualdade não é sustentável e que o egoísmo está nos levando rapidamente ao colapso.  A saída está na solidariedade, em menos ganância, em ajudar o próximo a chegar onde chegamos, a dividir, proteger. 

Se conseguirmos, diariamente, como um mantra, imaginar o mundo como a casa em que vivemos, transportando para seus cômodos toda a desigualdade existente em nosso Planeta, com lugares riquíssimos e cantos paupérrimos, talvez consigamos entender que o atual cenário é um belo filme de horror que está chegando ao fim com requintes de crueldade, sem mocinhos ou bandidos, onde todos morrerão. 

A saída para a sobrevivência pode estar no equilíbrio.   Believe it or not!

Abraços sustentáveis

Odilon de Barros