segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Hipocrisia midiática


Faz tempo assistimos o noticiário nacional relatar casos, os mais escabrosos possíveis, sobre corrupção.  Todos os dias, ao vivo e a cores, nos deparamos com doses diárias de malversação de dinheiro público na veia.  Aulas práticas que ensinam a arte de surrupiar de diversas maneiras.  A gosto do freguês podemos escolher que tipo de ladrão ou método seguir: vereador, deputado, senador, ministro, prefeito, governador, dirigentes de órgãos públicos, presidentes de empresas (públicas e privadas) são pegos, cotidianamente, com a boca na botija.  Um escárnio.

Justiça lenta, recursos intermináveis, foro privilegiado, certeza da impunidade, dão a sensação que o crime compensa.  Mas as coisas começam a mudar.  Estatisticamente, jamais na história do país tantos foram presos por esse crime.  O instituto da colaboração premiada, ainda novo, abre novos flancos nas investigações.  E assim uma coisa puxa a outra, que puxa a outra, que parece não ter fim.  Entramos na impressionante 19ª fase da Operação Lava a Jato.  Quantas ainda virão, não sabemos.  E vamos avançando.

Por pior que tenha sido a descoberta de todos esses escândalos para a imagem e a economia do Brasil, começamos a perceber, agora, o quão educativo e benéfico para o combate a este câncer foi o “Mensalão”. 



Sem ele e Marcos Valério preso, condenado a 40 anos, talvez não tivéssemos desencadeado toda essa onda de colaborações que estamos vivenciando na esteira do “Petrolão”.  E não teríamos, também, salvo engano, pela primeira vez, tido o prazer de assistir verdadeiros figurões pesos-pesados da elite brasileira, engaiolados.  Puro deleite.  Isso, uma revolução.

Ainda hoje, quando o assunto é pilhar o erário, lembro de duas frases da época pré-impeachment de Collor:  “Precisamos desprivatizar o Estado brasileiro e O combate à corrupção só vai efetivamente começar quando corruptores forem para a cadeia” (respectivamente, Roberto Freire e Pedro Simon).  Frases atuais que nos levam a crer que esse trabalho, de fato, agora, teve início. Bom para o Brasil.

Recentes pesquisas dão conta de que a esmagadora maioria da população brasileira acredita que é preciso cortar o mal pela raiz, ou seja, eliminar a fonte de alimentação da rataria verde-amarela passa por não permitir mais doações de empresas privadas a campanhas eleitorais.  Aliás, esse seria o óbvio em qualquer Nação minimamente sã depois de um escândalo da magnitude do Petrolão.  Na outra ponta da ratoeira, visitar (e copiar) para implantar ontem, como países de primeiríssimo mundo realizam compras e contratam obras públicas, seria ótima ideia.  Simples assim. 

A semana que passou mostrou que nem tudo está perdido.  Por 8 a 3, o Supremo Tribunal Federal finalmente bateu o martelo sobre o tema das doações de empresas privadas para campanhas eleitorais, decretando a inconstitucionalidade da medida.  Sendo assim, a partir de agora está proibido pessoas jurídicas doarem para candidatos e partidos, permanecendo apenas as doações de pessoas físicas no limite de 10% do salário.

Imediatamente ao término do julgamento do STF, um bombardeio midiático se iniciou em jornais, TV e internet, sobre as falas daqueles que eram a favor da manutenção das doações de empresas privadas para partidos, principalmente as do ministro Gilmar Mendes.  No dia seguinte, já se articulava no Congresso uma PEC para barrar a aprovação da medida.  Tudo isso amplificado à exaustão pela mídia.

As eleições de 2014 custaram cerca de 5 bilhões aos partidos políticos.  Parte desse dinheiro oriundo de verbas desviadas de empresas públicas.  Como sabemos, campanhas políticas custam muito dinheiro.  Anúncios, propaganda, matérias pagas, tudo é muito caro. 

Portanto, boa parte desses bilhões sujos os quais se locupletam políticos, aportam e irrigam, também, TVs, jornais e internet.  Mídia escrita, falada, televisada e digital.  Bater na classe política hoje no Brasil é como empurrar bêbado em ladeira.  Hipocrisia deslavada é, ao mesmo tempo, bater e se beneficiar da sujeira que criticam.  

Com o fim do dinheiro fácil, a fonte vai secar.  É o que queremos e o país precisa.  Alvíssaras.

Abraços sustentáveis

Odilon de Barros 


  

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