domingo, 9 de agosto de 2015

Sonhei com Dilma e...



Noite passada sonhei com a presidenta Dilma.  Coisa esquisita! Ela me chamava para assumir o posto do tonto do Mercadante.  Como o tema tem dominado a grande mídia e vivo o dia a dia político intensamente, não titubeei, aceitei o cargo!!! 

Apresentado aos serviçais palacianos tomei posse com pompa e status de ministro. Como a situação era delicada, no mesmo dia lá estava eu, despachando cara a cara com a toda poderosa no gabinete de crise instalado no terceiro andar do Palácio para a primeira reunião.  Como de praxe, enfileirado fui sendo apresentado a Jaques Wagner, o demissionário e preterido Mercadante, Edinho Silva, Temer, Gilberto Kassab, Eliseu Padilha, líder e vice-líder do Governo, Virgílio Guimarães e Alessandro Molon, e Dilma, que disparou sem pestanejar: e aí Odilon, quais rumos tomar diante de tantos problemas.  Fazer o quê?

Assustado com minha importância repentina, pensei comigo: hora de botar em prática todas aquelas viagens que rumino sozinho anos a fio.  Bem, presidenta (nas apresentações minutos antes, sua mãe, de passagem pelo Alvorada, me cochichou que ela só gosta de ser chamada assim), não dá mais para tapar o sol com peneira, a segunda prisão do Zé fez ruir a última linha de defesa, os últimos pilares éticos daqueles que ainda acreditavam que tudo não passava de manobra midiática golpista para acabar com o PT e da tese de que as prisões eram políticas.  Desculpe senhora, não era para começar por aí, mas isso me incomoda muito.  Dilma percebeu o quão trêmulo e nervoso estava e gritou por Genésio, seu garçom predileto, que ao se aproximar já trouxe água e café. E tentando evitar que o ritmo fosse interrompido emendou ...continue, Odilon.

Presidenta, quem está acabando com o PT é o próprio PT com sua soberba e prepotência em não reconhecer perante a Nação os erros cometidos até aqui.  Senhores ministros, é inadmissível não terem excluído após o trânsito em julgado os dirigentes condenados no Mensalão conforme prevê o estatuto, cris-ta-li-na-men-te, em seu Art. 231.



Quem está acabando com o Partido é sua elite dirigente (que jamais saiu do eixo Paulista), aquela mesma que comanda, sem renovação e desde sua fundação, a sigla.  Está na hora de o Partido dos Trabalhadores conjugar o verbo ROUBAR em todas as pessoas.  Presidenta, a crise é antes de mais nada moral.  E precisa ser reconhecida com um mea culpa amplo, geral e irrestrito.  E também humilde, sem medo de ser (in) feliz.

Mas é preciso que voltemos um pouco no tempo para entender o que está acontecendo agora, Excelência.  Com o fim da ditadura (que maquiavelicamente trouxe em seu bojo a anistia), nossas oligarquias criaram o advento da redemocratização, e estamos nessa faz 30 anos.  Não passar o país a limpo e dizer à sociedade e novas gerações, com todas as letras, que o que ocorreu naquele intervalo de vinte e poucos anos foi um grave erro, foi jogada de mestre.  Na verdade, se quiséssemos avançar enquanto sociedade deveríamos aceitar, pedir desculpas à Nação e punir os responsáveis pelas atrocidades cometidas como todos nossos vizinhos fizeram.  Videla, aquele General torturador da Argentina, morreu sentado, perdão presidenta, cagando em um vaso sanitário dentro de uma cela sozinho e com duas perpétuas nas costas.  Esse dever de casa não aconteceu aqui no Brasil.  Nesse momento percebi que os olhos de Dilma brilhavam, emocionada.  Prossiga, Odilon. 

Saímos de um regime de força para outro democrático como quem desce de um ônibus que quebrou no meio do caminho e pega outro, já lotado, e todos se acomodam, normalmente.  E isso, em política, sabemos, não existe.

Desde a fundação do Partido, em 80, acompanho sua trajetória e lembro como se fosse hoje a febre e o modismo das estrelinhas vermelhas.  Intelectuais de todas as matizes, cientistas, historiadores, igreja, quanta gente boa embarcou no sonho romântico de uma nova forma de fazer política. 

O modelo de rigidez nas coligações levado a cabo no início de sua existência conjugado ao discurso de ética na política, atraía milhões de novos correligionários.  A senhora não deve se lembrar pois à época ainda era Brizolista.  É lógico que tudo era mais fácil por conta do Partido não ser Governo, ainda. 

Mas as contradições não tardaram e o Partido, ora para manter a filosofia inicial e, posteriormente, com o discurso da necessidade de caminhar para a frente, começou a perder importantes quadros.  Foi assim com Erundina, Bete Mendes, Heloísa Helena, Plínio de Arruda Sampaio, Eliomar Coelho, Chico Alencar, Luciana Genro, Cristóvão Buarque, Frei Beto e tantos outros. Uma pena.


Agora vemos um modelo político esgarçado, sem referências políticas fortes, líderes ou estadistas.  Um presidencialismo (chantagista) de coalizão em prol de uma fajuta governabilidade e convidativo ao extremo à corrupção.  Esgotou-se, presidenta.  Minha fala soava como a 5ª de Beethoven em seus ouvidos.

Na cabeceira da grande mesa oval de reunião, que jamais pensei sentar, Dilma, com um sorrisinho de soslaio, me autorizava a continuar.  Ministros cascudos e tarimbados ensaiavam pedir a palavra, porém a seriedade da presidenta inibia qualquer manifestação.  E sem conseguir falar, apenas se entreolhavam como que se perguntando: mas quem é esse louco fazendo uma catarse política de nosso Partido a essa altura do campeonato?  Senti que a mandatária vibrava de prazer, aliás, pode ser que esteja enganado, mas aqui pra nós, seus olhos brilhavam, há tempos não a via com uma fisionomia tão suave, tinha o semblante dos apaixonados. Era tudo que precisava para despir meus medos.  Fui em frente.

Presidenta, ninguém sai de 70% de popularidade para 8% da noite para o dia.  O tempo de queda é proporcional às bobagens que o Partido vem cometendo.  Se aliar a Maluf, Collor, Sarney, Jader... é claro que essa fatura um dia ia chegar.  É preciso ousar, romper barreiras, e antes de tudo ter vontade política para dar a esperada e necessária guinada à esquerda. Nesse momento ouço uma voz firme interpelar-me, era o ministro Padilha, da Aviação Civil, que indagou: escuta aqui Sr. Odilon, não me desloquei até aqui à toa.  O Sr. chega sem um plano de ação, vomita um monte de baboseiras soltas e sem nexo no ar e quer o quê? 

Com a consciência de quem não tem nada a perder respirei fundo e calmamente engatei uma segunda e... Sra. Presidenta Dilma Roussef, vivemos uma crise sem precedentes com membros dos três níveis de governo envolvidos em desvios e malfeitos.  Padilha ainda ameaçou me interromper mais uma vez e ouviu um cala boca tão alto que até a Guarda postada na entrada do Alvorada deve ter ouvido.  Me senti fortalecido e, mais uma vez, fui em frente.

Presidenta, é inútil tentar continuar ignorando as ruas, pois vem muito mais por aí com as delações de Duque e Baiano, quiçá a de Marcelo Odebrecht também.  A Casa caiu, senhores.  E mesmo que seu Governo tente dar o exemplo agora, nada garante que vai conseguir a sonhada estabilidade para governar.

Portanto, o momento exige atitudes drásticas, diferentes, medidas que apenas estadistas são capazes de propor. Sentindo o bom momento, o deputado Alessandro Molon, pediu e foi atendido, para que fosse convocado imediatamente ao Palácio o ex-ministro e governador, Tarso Genro.  Entendi o recado.  Estava no caminho certo.  Vamos às medidas:

1-     Reunião com a cúpula partidária para exigir a desfiliação imediata de todos os condenados com trânsito em julgado conforme prevê o estatuto do PT em seu Art.231;
2-     Convocação de Congresso extraordinário do PT visando oxigenação e maior transparência no tocante à administração orgânica e combate incessante à corrupção.  Ter a ética e a moral como valores principais da sigla;
3-     Mensagem ao Congresso Nacional para convocação de Constituinte exclusiva composta por notáveis de nossa sociedade visando uma profunda reforma política com ênfase, principalmente nos seguintes pontos: regras rígidas para fortalecimento dos partidos (fidelidade partidária, cláusula de barreira, fim do voto obrigatório, fim do financiamento privado de campanhas); revisão da lei anticorrupção com aumento considerável das penas mínimas e fim da progressão do regime fechado para aberto com 1/6 de pena cumpridos nos casos de crimes financeiros para corruptos e corruptores;
4-     Convocação de cadeia nacional para um pedido formal de desculpas à Nação do Governo e do Partido dos Trabalhadores;
5-     Declaração pública de guerra à corrupção com envio de Medida Provisória ao Congresso Nacional encampando os itens constantes da proposta elaborada pelo Ministério Público, e ratificação do apoio e independência aos órgãos do Poder Judiciário em seu combate.

Nesse momento, mais uma vez sou interrompido de forma grosseira pelo ministro Eliseu Padilha que aos gritos me chamava de chantagista e insano.


Estava calmo e não me abati.  Presidenta, isso não é chantagem, é desprendimento, grandeza e um reconhecimento de que a situação é gravíssima.  Acredito em sua honradez, mas dissociar-se de algo de que se faz parte há 15 anos não é tarefa fácil. 

Na dança do meu pirão primeiro com todos tentando salvar a própria pele delatando ou atacando, um bom sinal parece vir da podridão proporcionada pela Lava Jato onde, pela primeira vez, vemos uma socialização dos cárceres do país.  Alvíssaras.

Como acredito em sua história e honestidade, não se apegue à cadeira, sugiro, porém, que o faça em bloco com aqueles que ainda lutam desesperadamente para o PT acordar e retomar seu caminho.  Isso é mais do que normal em países que respeitam suas sociedades.  Caso contrário vai ser apenas questão de tempo para o impeachment ser tirado da cartola mágica do desesperado presidente da Câmara ou o Partido implodir na primeira derrota majoritária.  Chega, bradiu Dilma, gostei!!! Acabou Sr. Odilon?

Estou finalizando, presidenta. Ficar só valerá se for para realmente mudar.  Manter o “status quo” atual é um raciocínio obtuso e o pior legado que seu Partido pode deixar para o Brasil. 

Nesse momento, a confusão tomou conta da sala. De um lado Dilma, Molon e Tarso.  Como um flash, acordei assustado sem entender ao certo o que era real ou fantasia.  Nos jornais as manchetes estampavam: “Dilma convoca Nação para pronunciamento extraordinário, hoje, às 20h”. 

Abraços sustentáveis


Odilon de Barros

Nenhum comentário: