Noite passada sonhei com a presidenta Dilma. Coisa esquisita! Ela me chamava para assumir
o posto do tonto do Mercadante. Como o
tema tem dominado a grande mídia e vivo o dia a dia político intensamente, não titubeei, aceitei o cargo!!!
Apresentado aos serviçais palacianos tomei posse com pompa e
status de ministro. Como a situação era delicada, no mesmo dia lá estava eu,
despachando cara a cara com a toda poderosa no gabinete de crise instalado no
terceiro andar do Palácio para a primeira reunião. Como de praxe, enfileirado fui sendo
apresentado a Jaques Wagner, o demissionário e preterido Mercadante, Edinho
Silva, Temer, Gilberto Kassab, Eliseu Padilha, líder e vice-líder do Governo,
Virgílio Guimarães e Alessandro Molon, e Dilma, que disparou sem pestanejar: e
aí Odilon, quais rumos tomar diante de tantos problemas. Fazer o quê?
Assustado com minha importância repentina, pensei comigo: hora
de botar em prática todas aquelas viagens que rumino sozinho anos a fio. Bem, presidenta (nas apresentações minutos
antes, sua mãe, de passagem pelo Alvorada, me cochichou que ela só gosta de ser
chamada assim), não dá mais para tapar o sol com peneira, a segunda prisão do
Zé fez ruir a última linha de defesa, os últimos pilares éticos daqueles que
ainda acreditavam que tudo não passava de manobra midiática golpista para
acabar com o PT e da tese de que as prisões eram políticas. Desculpe senhora, não era para começar por
aí, mas isso me incomoda muito. Dilma
percebeu o quão trêmulo e nervoso estava e gritou por Genésio, seu garçom
predileto, que ao se aproximar já trouxe água e café. E tentando evitar que o
ritmo fosse interrompido emendou ...continue, Odilon.
Presidenta, quem está acabando com o PT é o próprio PT com
sua soberba e prepotência em não reconhecer perante a Nação os erros cometidos
até aqui. Senhores ministros, é
inadmissível não terem excluído após o trânsito em julgado os dirigentes
condenados no Mensalão conforme prevê o estatuto, cris-ta-li-na-men-te, em seu Art.
231.
Quem está acabando com o Partido é sua elite dirigente (que
jamais saiu do eixo Paulista), aquela mesma que comanda, sem renovação e desde
sua fundação, a sigla. Está na hora de o
Partido dos Trabalhadores conjugar o verbo ROUBAR em todas as pessoas. Presidenta, a crise é antes de mais nada
moral. E precisa ser reconhecida com um
mea culpa amplo, geral e irrestrito. E
também humilde, sem medo de ser (in) feliz.
Mas é preciso que voltemos um pouco no tempo para entender o
que está acontecendo agora, Excelência.
Com o fim da ditadura (que maquiavelicamente trouxe em seu bojo a
anistia), nossas oligarquias criaram o advento da redemocratização, e estamos
nessa faz 30 anos. Não passar o país a
limpo e dizer à sociedade e novas gerações, com todas as letras, que o que
ocorreu naquele intervalo de vinte e poucos anos foi um grave erro, foi jogada
de mestre. Na verdade, se quiséssemos
avançar enquanto sociedade deveríamos aceitar, pedir desculpas à Nação e punir
os responsáveis pelas atrocidades cometidas como todos nossos vizinhos fizeram. Videla, aquele General torturador da
Argentina, morreu sentado, perdão presidenta, cagando em um vaso sanitário dentro
de uma cela sozinho e com duas perpétuas nas costas. Esse dever de casa não aconteceu aqui no
Brasil. Nesse momento percebi que os
olhos de Dilma brilhavam, emocionada.
Prossiga, Odilon.
Saímos de um regime de força para outro democrático como quem
desce de um ônibus que quebrou no meio do caminho e pega outro, já lotado, e
todos se acomodam, normalmente. E isso, em
política, sabemos, não existe.
Desde a fundação do Partido, em 80, acompanho sua trajetória
e lembro como se fosse hoje a febre e o modismo das estrelinhas vermelhas. Intelectuais de todas as matizes, cientistas,
historiadores, igreja, quanta gente boa embarcou no sonho romântico de uma nova
forma de fazer política.
O modelo de rigidez nas coligações levado a cabo no início de
sua existência conjugado ao discurso de ética na política, atraía milhões de novos
correligionários. A senhora não deve se
lembrar pois à época ainda era Brizolista.
É lógico que tudo era mais fácil por conta do Partido não ser Governo,
ainda.
Mas as contradições não tardaram e o Partido, ora para manter
a filosofia inicial e, posteriormente, com o discurso da necessidade de
caminhar para a frente, começou a perder importantes quadros. Foi assim com Erundina, Bete Mendes, Heloísa
Helena, Plínio de Arruda Sampaio, Eliomar Coelho, Chico Alencar, Luciana Genro,
Cristóvão Buarque, Frei Beto e tantos outros. Uma pena.
Agora vemos um modelo político esgarçado, sem referências
políticas fortes, líderes ou estadistas.
Um presidencialismo (chantagista) de coalizão em prol de uma fajuta
governabilidade e convidativo ao extremo à corrupção. Esgotou-se, presidenta. Minha fala soava como a 5ª de Beethoven em
seus ouvidos.
Na cabeceira da grande mesa oval de reunião, que jamais
pensei sentar, Dilma, com um sorrisinho de soslaio, me autorizava a
continuar. Ministros cascudos e
tarimbados ensaiavam pedir a palavra, porém a seriedade da presidenta inibia
qualquer manifestação. E sem conseguir
falar, apenas se entreolhavam como que se perguntando: mas quem é esse louco
fazendo uma catarse política de nosso Partido a essa altura do campeonato? Senti que a mandatária vibrava de prazer,
aliás, pode ser que esteja enganado, mas aqui pra nós, seus olhos brilhavam, há
tempos não a via com uma fisionomia tão suave, tinha o semblante dos
apaixonados. Era tudo que precisava para despir meus medos. Fui em frente.
Presidenta, ninguém sai de 70% de popularidade para 8% da
noite para o dia. O tempo de queda é proporcional
às bobagens que o Partido vem cometendo. Se aliar a Maluf, Collor, Sarney, Jader... é
claro que essa fatura um dia ia chegar. É
preciso ousar, romper barreiras, e antes de tudo ter vontade política para dar a
esperada e necessária guinada à esquerda. Nesse momento ouço uma voz firme
interpelar-me, era o ministro Padilha, da Aviação Civil, que indagou: escuta
aqui Sr. Odilon, não me desloquei até aqui à toa. O Sr. chega sem um plano de ação, vomita um
monte de baboseiras soltas e sem nexo no ar e quer o quê?
Com a consciência de quem não tem nada a perder respirei
fundo e calmamente engatei uma segunda e... Sra. Presidenta Dilma Roussef, vivemos
uma crise sem precedentes com membros dos três níveis de governo envolvidos em
desvios e malfeitos. Padilha ainda
ameaçou me interromper mais uma vez e ouviu um cala boca tão alto que até a
Guarda postada na entrada do Alvorada deve ter ouvido. Me senti fortalecido e, mais uma vez, fui em
frente.
Presidenta, é inútil tentar continuar ignorando as ruas, pois
vem muito mais por aí com as delações de Duque e Baiano, quiçá a de Marcelo
Odebrecht também. A Casa caiu, senhores. E mesmo que seu Governo tente dar o exemplo
agora, nada garante que vai conseguir a sonhada estabilidade para governar.
Portanto, o momento exige atitudes drásticas, diferentes, medidas
que apenas estadistas são capazes de propor. Sentindo o bom momento, o deputado
Alessandro Molon, pediu e foi atendido, para que fosse convocado imediatamente
ao Palácio o ex-ministro e governador, Tarso Genro. Entendi o recado. Estava no caminho certo. Vamos às medidas:
1-
Reunião
com a cúpula partidária para exigir a desfiliação imediata de todos os
condenados com trânsito em julgado conforme prevê o estatuto do PT em seu Art.231;
2-
Convocação
de Congresso extraordinário do PT visando oxigenação e maior transparência no
tocante à administração orgânica e combate incessante à corrupção. Ter a ética e a moral como valores principais
da sigla;
3-
Mensagem
ao Congresso Nacional para convocação de Constituinte exclusiva composta por
notáveis de nossa sociedade visando uma profunda reforma política com ênfase,
principalmente nos seguintes pontos: regras rígidas para fortalecimento dos
partidos (fidelidade partidária, cláusula de barreira, fim do voto obrigatório,
fim do financiamento privado de campanhas); revisão da lei anticorrupção com
aumento considerável das penas mínimas e fim da progressão do regime fechado
para aberto com 1/6 de pena cumpridos nos casos de crimes financeiros para
corruptos e corruptores;
4-
Convocação
de cadeia nacional para um pedido formal de desculpas à Nação do Governo e do
Partido dos Trabalhadores;
5-
Declaração
pública de guerra à corrupção com envio de Medida Provisória ao Congresso
Nacional encampando os itens constantes da proposta elaborada pelo Ministério
Público, e ratificação do apoio e independência aos órgãos do Poder Judiciário
em seu combate.
Nesse momento, mais uma vez sou interrompido de forma
grosseira pelo ministro Eliseu Padilha que aos gritos me chamava de chantagista
e insano.
Estava calmo e não me abati.
Presidenta, isso não é chantagem, é desprendimento, grandeza e um
reconhecimento de que a situação é gravíssima.
Acredito em sua honradez, mas dissociar-se de algo de que se faz parte
há 15 anos não é tarefa fácil.
Na dança do meu pirão primeiro com todos tentando salvar a própria
pele delatando ou atacando, um bom sinal parece vir da podridão proporcionada
pela Lava Jato onde, pela primeira vez, vemos uma socialização dos cárceres do
país. Alvíssaras.
Como acredito em sua história e honestidade, não se apegue à
cadeira, sugiro, porém, que o faça em bloco com aqueles que ainda lutam
desesperadamente para o PT acordar e retomar seu caminho. Isso é mais do que normal em países que
respeitam suas sociedades. Caso
contrário vai ser apenas questão de tempo para o impeachment ser tirado da
cartola mágica do desesperado presidente da Câmara ou o Partido implodir na
primeira derrota majoritária. Chega, bradiu
Dilma, gostei!!! Acabou Sr. Odilon?
Estou finalizando, presidenta. Ficar só valerá se for para
realmente mudar. Manter o “status quo”
atual é um raciocínio obtuso e o pior legado que seu Partido pode deixar para o
Brasil.
Nesse momento, a confusão tomou conta da sala. De um lado
Dilma, Molon e Tarso. Como um flash,
acordei assustado sem entender ao certo o que era real ou fantasia. Nos jornais as manchetes estampavam: “Dilma
convoca Nação para pronunciamento extraordinário, hoje, às 20h”.
Abraços sustentáveis
Odilon de Barros
Nenhum comentário:
Postar um comentário