Pelo segundo ano consecutivo o Brasil amarga o título de país mais perigoso para ambientalistas
Na última segunda-feira a ONG Global Witness publicou o relatório “How many more”. (“Quantos Mais?”, em tradução livre), que traz dados sobre assassinatos de ativistas ambientais ao redor do mundo. De acordo com o levantamento, o Brasil aparece como o país mais perigoso para se trabalhar na defesa do meio ambiente: ao todo, 29 ambientalistas foram vítimas de assassinato no Brasil em 2014, sendo quatro deles indígenas.
Infelizmente, a relação entre violência e destruição da floresta não é recente no Brasil. Temos vários exemplos icônicos dos resultados desta nefasta equação, como Chico Mendes e Irmã Dorothy, ambos assassinatos devido a conflitos relacionados com a posse da terra e a defesa da floresta.
José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo foram assassinados, em 2011, por denunciarem a ação de madeireiros, carvoeiros e grileiros no Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, no Pará. Foto: © Greenpeace / Felipe Milanez
José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo foram assassinados, em 2011, por denunciarem a ação de madeireiros, carvoeiros e grileiros no Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, no Pará. Foto: © Greenpeace / Felipe Milanez
“Um dos maiores problemas na Amazônia é a total falta de definição fundiária. Por conta desta lacuna de informações, populações inteiras, que vivem há gerações em determinados locais, são subjugadas e expulsas, muitas vezes com extrema violência, por grileiros de terra, que obtém com facilidade documentos falsos de posse de terra”, afirma Rômulo Batista, da campanha da Amazônia do Greenpeace.
A exploração ilegal de madeira é outro fator gerador de conflitos na Amazônia brasileira. Muitas vezes, madeireiros ilegais invadem unidades de conservação, terras indígenas e projetos de assentamento para roubar madeira. Quando as lideranças locais decidem enfrentar esse tipo de agressão contra a floresta, são invariavelmente ameaçados e, infelizmente, em muitos casos a ameaça é levada a cabo.
“Na Amazônia a destruição da floresta a exploração ilegal de madeira andam de mãos dadas com a violência. Como essas atividades são eminentementes ilegais, as pessoas estão dispostas a tudo para obter um lucro maior e mais rápido e quem paga com a vida são as pessoas que se colocam entre esses criminosos e a floresta”, afirma Batista.
Além destes dois fatores, que estão tradicionalmente relacionados à violência no campo, as populações tradicionais e ativistas ambientais lidam agora com outra grande ameaça, a execução de grandes obras de infraestrutura, como as hidrelétricas. Ao não respeitar o direito das populações locais, e muitas vezes realizar a obra sem sequer consultá-las, os governos tem contribuído para o agravamento da situação de violência.
A ocupação desenfreada da Amazônia pela agropecuária também promove a violência, ao desalojar comunidades e famílias de seus locais. É comum assentamentos de reforma agrária serem tomadas por monocultura de soja ou pela criação de gado. Devido ao porte deste tipo de empreendimento e ao capital de giro necessário para essas atividades, ela dificilmente é feita pelos assentados, ou seja, os assentamentos são, na verdade, reconcentrados por grandes fazendeiros e isso também ocorre de forma violenta.
A luta para acabar com o desmatamento na Amazônia é também a luta para garantir a sobrevivência e a dignidade dos povos que a habitam. Sem florestas, não temos água, produção de alimentos e muito menos uma chance de amenizar os efeitos das mudanças climáticas no futuro. Ao deixar de garantir a segurança de seus guardiões, o Brasil caminha para um futuro de barbárie e miséria.
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Para dar um basta a toda essa violência, e tirar o Brasil deste vergonhoso ranking, precisamos combater o desmatamento e só conseguiremos atingir este objetivo com o apoio de toda a sociedade, seja no campo ou na cidade. (Greenpeace Brasil/ #Envolverde\Utopia Sustentável)