quarta-feira, 15 de abril de 2015

Neoescravidão


Tal qual Moraes Moreira previu no século passado com seu hino-canção ”Lá vem o Brasil descendo a ladeira”, o Congresso Nacional ameaça fazer com que a classe trabalhadora brasileira vá de volta para o futuro com a aprovação do PL 4330/2004, referente à ampliação da possibilidade de terceirização de toda e qualquer relação de trabalho no país.  Um retrocesso.

No intervalo dos cem anos que se passaram desde a abolição da escravatura à promulgação da nova Constituição (1888/1988), avançamos muito nas relações entre patrões e empregados.   Licença maternidade, férias, auxílio-creche, horas extras, 13º salário, abono de férias, seguro desemprego e jornada de 44 h semanais, entre outras, foram conquistas da classe trabalhadora. 

A Consolidação das Leis do Trabalho, CLT, foi promulgada pelo então presidente Getúlio Vargas, em 10 de novembro de 1943.   Vanguarda para aquela época.  Esperávamos que tais conquistas estivessem pacificadas a partir de 5 de outubro de 1988.  E que continuássemos avançando.  Ledo engano.   Foram muitas as tentativas de tungar esses ganhos, mas foi justamente com o restabelecimento da democracia, na década de 80, que o enfrentamento com os movimentos sociais se tornou mais eficaz (e começaram a cambar para a direita).  E justo num governo, dito, de esquerda.



Tentaram reformar a CLT nos governos Itamar, FHC e Lula.  Não conseguiram.  Acontece que a cada legislatura o Congresso Nacional caminha mais para a direita e, concomitantemente a isso, o segundo governo Dilma (quarto petista consecutivo), passa por uma crise ética sem precedentes.  A completar a cereja do bolo, são eleitos Renan Calheiros e Eduardo Cunha, para, respectivamente, presidentes do Senado e Câmara Federal.      

Eleitos no início do ano, não perderam tempo.  Mesmo oficialmente fazendo parte da base de apoio ao governo, impuseram derrotas, uma atrás da outra, ao Planalto, colocando o governo nas cordas.  Como se não bastasse, implementaram agenda própria, como se o governo não existisse, ou fosse eles próprios, ou que não estivéssemos em um regime presidencialista.

E veio a mágica, rasgar ao mesmo tempo CLT e Constituição, sem sequer tocá-las.   “Golpe de Mestre” digno de aplausos de pé da classe empresarial e elites.  Um atraso.   Ampliando o direito da terceirização do trabalho para qualquer área da empresa, autorizamos indiretamente o rompimento de algo construído lá atrás com o suor de todos.  E como tartaruga não sobe em árvore, alguém colocou ela lá.   Ou seja, a sociedade com os votinhos colocados nas urnas do último pleito, elegeu esses digníssimos deputados que agora estão lá  para nos representar.   E a nos ferrar. 

Estamos prontos a mergulhar em um submundo desconhecido nas relações trabalhistas.  Segundo a Recomendação 198, da Organização Internacional do Trabalho, estamos indo contra as relações modernas de trabalho que sugerem um maior nível de proteção à relação de emprego.  Logo ali viveremos tempos difíceis pois não haverá mais o contato direto entre empregador e empregado, uma relação fria, desumanizada, afinal, ficou grávida, troca, adoeceu, troca, faltou, troca, reclamou salário, troca, fez greve, troca. 




Ainda de acordo com o DIEESE, em média um trabalhador terceirizado trabalha mais três horas por semana e ganha 27% menos que um empregado direto.  Ou seja, para um governo que está em crise, com postos de trabalho cada vez mais escassos, essas horas a mais trabalhadas certamente inibirão novas contratações. 

Mas não é só, ¾ dos ministros do TST, órgão máximo da justiça do trabalho do país, enviaram parecer à Câmara Federal  explicando as consequências da aprovação do projeto.  O documento alerta para a gravíssima lesão social de direitos sociais, previdenciários e trabalhistas.  O que causará, também, diminuição média da renda e massa salarial percebida por todos.

Nem nos piores pesadelos imaginamos que tudo isso poderia acontecer debaixo de um governo petista.  Se nos últimos vinte anos forças-tarefas do Ministério Público do Trabalho resgataram cerca de 50 mil trabalhadores em condições análogas à escravidão, Brasil afora, resta saber quem os resgatará, agora, da neoescravidão.

Como as ruas estão em litígio com o partido governista, restou apelar para Papai Noel.  Veta Dilma!

Abraços Sustentáveis

Odilon de Barros



 




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