Vivemos um momento um tanto conturbado no mundo. Se por um lado produzimos mais e mais
multibilionários a cada ano, por outro, em proporções africanas, aumentamos a
desigualdade e temos, ainda, 1,2 bilhão de pessoas (sobre)vivendo na extrema
pobreza.
Inútil aqui enumerarmos os diversos fóruns e encontros
internacionais que, em profusão, ano após ano, discutem fórmulas que sejam
capazes de romper a acumulação prazerosa e estúpida das elites, em ter mais dinheiro
do que o necessário para viver dignamente. Fazer o quê?
Nem mesmo governos têm conseguido sucesso em tentar dobrar ou
fazer ceder as grandes corporações na diminuição de seus lucros, e o crescer
por crescer a todo custo continua a ser o carro-chefe de um consumo desenfreado
que faz com que consumamos recursos equivalentes a 50% mais do que o planeta
suporta. Será que a espécie humana é
realmente inteligente?
Recente artigo de Roberto Savio para a agência IPS, dissecou
de forma clara o capitalismo atual.
Nele, entre tantas constatações, ele afirma que o capitalismo financeiro
está cada vez mais se sobrepondo ao capitalismo produtivo (e eu concordo). Cita, ainda, que os 25 gestores dos maiores
fundos especulativos mais bem remunerados, todos homens, ganharam ano passado a
bagatela quantia de US$21 bilhões, soma essa maior que dez países africanos:
Burundi, República Centro-Africana, Eritreia, Gâmbia, Guiné, São Tomé,
Seychelles, Serra Leoa, Níger e Zimbábue.
Mais, o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, informa que,
segundo o índice de multibilionários Bloomberg, os 300 indivíduos mais ricos do
mundo aumentaram suas riquezas, apenas ano passado, em US$524 bilhões, o que
equivale a renda conjunta de Dinamarca, Finlândia, Grécia e Portugal. E as aposentadorias de 23 banqueiros
espanhóis chegaram a 22,7 milhões de euros.
Mesmo que a pobreza no mundo tenha diminuído de 47% para 22%,
graças a Brasil, China e Índia, é inconcebível permanecermos com empresas e
pessoas que na cena política têm mais poder e influência do que governos na
confecção das leis.
É imprescindível que a governança global torne a ter as
rédeas e o controle de seus países, combatam a corrupção e os fortes lobbies
instalados dentro de governos. Essa
minoria poderosa, que não se envergonha de ignorar as necessidades das maiorias
mundo afora, que sobrevive e aumenta suas fortunas através da corrupção de
governantes igualmente corruptos, que não sofre ao ver irmãos africanos
esquálidos morrendo de fome e fazendo sexo para obter um prato de comida, precisa
entender que é estúpido ter 20 ou 30 bilhões se só temos uma vida para gastar e
que não teremos planeta para morar, água para beber e que suas polpudas
fortunas virarão pó, se continuarmos nessa toada.
As dinastias do dinheiro deveriam entender que talvez seja a
hora do “decrescimento econômico”, modelo pelo qual, programada e
planejadamente, economias crescem de acordo com os limites do Planeta, o que
não significa declínio econômico, mas sobrevivência.
Deveriam entender que às vezes é melhor ceder e doar alguns
anéis do que o Planeta lhes pulverizar e tomar suas roubadas riquezas.
Abraços sustentáveis
Odilon de Barros