Uma rede de escolas
americana, a KIPP (Knowlegde is Power Program), fundada em 1994, nos Estados
Unidos, tem como meta levar seus alunos – 86% são de famílias pobres – até a
universidade. O projeto tem como meta dar confiança a todos de que são capazes
de aprender. Mais, a ideia, acredito, se encaixa perfeitamente a alunos
de baixa renda no Brasil. Entre as atividades propostas, a escola
estimula atividades de autocontrole, perseverança, gratidão, otimismo e
curiosidade em seus alunos, entre outras. E há dois anos radicalizou o
ensino de competências socioemocionais criando a disciplina de, pasmem,
caráter.
Aí, um parêntese com a
realidade brasileira: ao fazermos uma analogia com nosso cenário, vejo como
imprescindível em nossas escolas tal disciplina. Por quê? Vivemos
em um país extremamente desigual em que é muito difícil à classe mais baixa de
nossa população ascender às oportunidades de categorias mais abastadas.
Incluir o ensino de conteúdo tão importante pode significar a essas
categorias acreditar que é possível, sim, ascender sem transgredir, sem levar
vantagem, sem trapacear. E crescer. E isso é preciso ser dito com
todas as letras, para pais e alunos.
As aulas de caráter
acontecem duas vezes por semana, para 5ª e 6ª séries, e nelas é ensinado como
enfrentar os pontos fracos, como estabelecer relações saudáveis com outras
pessoas e como usar a mente para conseguir o que querem.
Os professores da
escola são preparados para relacionar questões socioemocionais com conteúdos
cognitivos. Assim, numa aula de inglês, os alunos analisam as características
dos personagens dos textos que leem, e nas de história, discutem motivações por
trás de fatos importantes.
Assim, a expectativa é
que as crianças mudem de atitude também em casa. Por isso, os pais são chamados
no início do ano para um workshop em que são apresentados ao conteúdo que será
ensinado e como isso será feito. A professora também dá dicas de como eles
podem dar suporte aos seus filhos. Alguns pais ajudam, outros não. Mas a missão
é fazer com que mesmo os que são oriundos de famílias disfuncionais saibam
lidar melhor com isso. O fato de uma criança não ser incentivada a estudar em
casa não significa que ela não deva ter acesso a boa educação. A meta é
garantir a todos.
Embora a implantação desse
currículo socioemocional na Kipp Infinity Middle School ainda esteja em fase de
testes e os dados sobre o impacto no desempenho acadêmico não tenham sido
computados, a escola tem convicção de que os alunos estão aprendendo mais e que
estão mais tranquilos e confiantes. “Estamos ansiosos pelos resultados para
seguir em frente”, afirmou a diretora. No próximo ano letivo, o plano é
preparar outros professores para ministrarem as aulas de caráter e passar a
incluí-las na grade de mais séries.
Mesmo embrionariamente,
os primeiros resultados já começam a aparecer. Antes, afirmaram
professores, eles ficavam muito nervosos e achavam que não iam conseguir.
Passado um ano, dizem que estão preparados e que vão se dar bem, contam
orgulhosos.
Trazendo para a realidade
da educação brasileira, o circo dos horrores nosso de cada dia, em que faltam
desde estrutura física, melhores salários, reciclagem de professores e vontade
política de nossos governantes em transformar o país através da educação, aulas
de caráter poderiam ser ministradas, para começar, no legislativo, no
judiciário e no executivo.
Abraços sustentáveis
Odilon de Barros