Turismo sustentável no Rio: um sonho possível
Morador de uma das cidades mais
belas do mundo, e lá se vão cinqüenta e cinco anos, não raro nos surpreendemos
com a beleza de nossa Cidade Maravilhosa. Foi o que aconteceu comigo no fim de semana. Sabedor de minha paixão pela
sustentabilidade, fui convidado pelo amigo Fernando Perrone para um giro de
barco pela Lagoa Rodrigo de Freitas. Até
aí vocês podem estar se perguntando: mas o que esperar de diferente em um
passeio de barco como esse?
Sabe aqueles dias em que tudo
parece conspirar para acontecer da melhor maneira possível? Ao chegar ao Estádio de Remo, um belo sol de
inverno já brilhava no céu. Mães
passeavam empurrando carrinhos com seus bebês a bordo, remadores
solitários ou em grupo arrumavam os últimos detalhes de seus barcos antes de
colocá-los dentro d’água para mais um dia de treino. Enfim, um dia perfeito.
Avistei o pessoal no ponto de
encontro marcado e caminhei lentamente até o local, aproveitando ao máximo aquele
velho visual da Lagoa, tão castigado quanto novo para mim. Pela primeira vez
estava prestes a entrar em um barco totalmente sustentável, emissão zero.
Após ser apresentado ao Diretor
da empresa Holos Brasil, Lorenzo de Souza, o responsável pelo projeto iniciou
suas explicações enquanto movimentava lenta e silenciosamente o futuro ônibus
escolar da comunidade de Santa Rosa, no sul do Pará.
Foto: Fernando Perrone e Lorenzo de Souza
O projeto teve o apoio do
Ministério da Ciência e Tecnologia, da Eletrobras, que cedeu as dezoito placas
fotovoltaicas que captam a energia solar e cobrem a embarcação, da WEG, que
forneceu os dois motores que praticamente nunca são ligados e, ainda, CNPQ,
Universidade Federal de Santa Catarina, Fotovoltaica e Ideal.
Com sua capacidade máxima de vinte
e duas pessoas a bordo ocupada, sentia uma sensação boa, capaz de tranquilizar
e captar, nos mínimos detalhes, a beleza daquele santuário, mesmo tão degradado
e desrespeitado. Ouvia o barulho do silêncio (se isso é possível) e uma paz
incomum. Torcia para o tempo não
passar. Afinal, ver tudo aquilo ao
contrário do que estava habituado em meu dia a dia, não tinha preço.
Extasiados, os convidados tiravam
fotos sem parar. E, diferente de
embarcações a motor, em que a água fica muito mexida, no caso do barco da Holos
– fabricado em fibra de vidro, que também compensa e economiza energia pelo
pouco peso que tem -, o que forma é uma esteira suave sobre a superfície
mantendo a água quase sem se movimentar, ou seja, não balança.
Com uma velocidade de até
18km/h/10 nós, o que lhe garante até três horas de autonomia, as trinta e seis
baterias (dezoito para cada motor), levam até dois dias para carregar completamente.
O projeto custou cerca de R$ 400.000,00
e ainda nesse semestre o barco viaja para atender uma comunidade carente na Amazônia,
levando e buscando crianças na escola.
Servirá, também, para ajudar os moradores locais, pescadores em sua
grande maioria, a não venderem seus produtos (com medo que apodreçam), por qualquer
valor para intermediários, pois a Vila onde moram não tem luz elétrica.
Como um sonho bom, desperto para
a dura realidade ao nos aproximarmos do cais.
Fico a imaginar que seu uso seria uma opção turística simples para as
lagoas do Rio (Rodrigo de Freitas, Marapendi e Jacarepaguá, por exemplo). E mais bem estudada, se transformar até em um
transporte modal integrativo verde.
Com os grandes eventos se
aproximando - Mundial e Olimpíadas -, carimbaríamos o passaporte de metrópole
sustentável. Em tempos de cobranças por
melhor mobilidade urbana, fica essa boa iniciativa como ideia a ser
desenvolvida, quem sabe, por uma parceria público-privada.
Abraços Sustentáveis
Odilon de Barros
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