terça-feira, 22 de outubro de 2013

Por uma televisão brasileira socialmente responsável


Mesmo sendo uma concessão pública, a TV brasileira, nascida nos idos de 1950 para ser um veículo de massa, já chegou desvirtuada de seu objetivo principal e atendendo, à época, apenas aos mais abastados em função do alto custo dos televisores vindos dos EUA.  Continuou assim quando do surgimento da TV a cores e, mais recentemente, com o surgimento da TV digital.

Sua popularização veio mesmo através das novelas da Rede Globo.  Por isso fico a me perguntar que produto mágico é esse que há décadas não se repagina, não muda temas, não cai em desuso e que, apesar de antiquado é ao mesmo tempo moderno? Espécie de parque de diversão coletivo atraindo milhões de seguidores, novela após novela.   

Cresci vendo minha família hipnotizada à frente da TV Globo no horário das 20h e apenas para lembrar de algumas... Irmãos Coragem, Primeiro Amor, O Bem Amado, Selva de Pedra, Avenida Brasil e por aí vai.  Sem dúvida, uma cachaça a formar opiniões e mentes Brasil afora.  Um poder incrível no imaginário nacional. 

Porém, notável mesmo é como conseguem perpetuar a mesma receita vazia e sem cultura por tanto tempo: traição, vingança, brigas familiares, rico contra pobre e na grande maioria das vezes, belos finais felizes.  Pensariam ou sonhariam loucos como eu: mexer em time que está goleando e jogando sozinho (competentemente, diga-se de passagem), há mais de meio século, nem pensar, para quê?

Hoje, o brasileiro já assiste novelas às 14h, 18h, 19h, 21h, e ensaia, já pela segunda vez, “remakes” mais curtos de sucessos estrondosos do passado, às 23h.  Tudo introduzido lenta e homeopaticamente em nossas mentes. Mexer nessa estrutura vencedora só por uma boa, ótima, excepcional causa.  Sou capaz de afirmar que a Globo fidelizou de forma quase que vitalícia uma base fiel de telespectadores, sendo praticamente imbatível nesses horários.

Mas o Planeta Terra é ou não uma boa causa?

Pois é, essa semana, ainda por conta dos efeitos da Rio +20 e do relatório do IPCC, recentemente divulgado e de minha formação profissional - onde sempre fico imaginando soluções para um mundo melhor e mais justo -, sonhei acordado que  nossas emissoras, não vou ousar dizer “modificariam” sua receita de sucesso de décadas, mas “envidariam esforços em se adequar aos novos tempos e necessidades de nosso já combalido e sofrido Planeta Terra”.

Sou cônscio da capacidade e poder de persuasão de nossas redes televisivas, aliás, reconheço que, mesmo pontualmente, algumas, como a Globo, vêm desenvolvendo temas voltados à responsabilidade social e contribuindo para a discussão de várias de nossas diferenças e preconceitos.  Foi assim com Carolina Dickman quando interpretou uma jovem com a cabeça raspada por conta de um câncer; em outra abordou a questão da cegueira e o sempre atual combate ao preconceito de gênero.

Seja como for, convido nossas emissoras  para uma viagem maior, ainda mais ousada (e muito necessária), e com os olhos bem abertos imaginar uma nova linha de abordagem das novelas em que as velhas tramas românticas, repletas de vilões, traição, vingança, ricos versus pobres etc etc, passariam a dividir espaço - não desaparecer das telas -, com temas importantes pelos quais passamos cotidianamente enquanto habitantes  dessa louca e desrespeitada “terra brasilis”.

Recente pesquisa divulgada nos meios de comunicação mostrou que o meio ambiente é apenas a sexta preocupação do brasileiro, portanto, nada melhor que um veículo de massa e um produto que alcance praticamente 50% dos lares brasileiros, diariamente, para massificar uma ideia.  Mais, virar fator multiplicador, em todos os sentidos, inclusive os comerciais.  Essa, uma outra boa discussão a travar !

Citando apenas algumas ações imediatas e simples, poderíamos ter:

- Novelas literalmente sustentáveis – Rock In Rio teve seu carbono emitido medido e compensado e a Olimpíada de 2016 também será assim -, já existem empresas que fazem esse trabalho, sendo possível até sua troca por merchandising?);
- Utilização de energias alternativas nas residências e empresas componentes das novelas (solar e eólica, por exemplo);
- Utilização de bicicletas elétricas e combustíveis menos poluentes nos carros do elenco (óleo de mamona, diesel de cana de açúcar, motores elétricos);
- Campanhas para incentivos governamentais à fabricação de carros elétricos (impostos verdes);
- Plano visando alcançar, em futuro próximo, relacionamento apenas com empresas socialmente responsáveis;
- Mensagens criativas para que nossas cidades adotem coleta seletiva (as eleições estão aí);
- Campanhas por reciclagem de lixo;
- Utilização de “empresas fictícias” nas histórias que abordem o tema da ética corporativa e;
- Diálogos que eduquem e ensinem nossa população a economizar energia elétrica, uso racional da água e que não desperdicem alimentos.

Sem dúvida, tudo isso mesclado com antigos temas ao longo dos próximos anos fará uma revolução silenciosa de hábitos em nosso país.  Ouso afirmar: talvez até hoje a maior contribuição da emissora à população brasileira, uma mudança de costumes a ser seguida e copiada mundo afora.  Lição de cidadania e responsabilidade social na veia!

Um projeto de uma nova televisão a ser apresentado e explicado a seu público.  Emissoras preocupadas com o futuro do Planeta, de seus habitantes, e na vanguarda de todas as outras.

O mundo que se avizinha é “Blade Runner”.  Tenho plena convicção que nesse projeto de Responsabilidade Social implantado nas várias grades, nós, os telespectadores, somos seus maiores “stakeholders” e estamos prontos e ávidos por essa mudança de postura, de comportamento, que é necessária, atual, moderna e vital para o Planeta, que desde já agradece. 

Abraços sustentáveis

Odilon de Barros