Avaliação das propostas dos países para o acordo de Paris, cujo prazo de submissão acabou nesta quinta-feira (1), mostra que panorama melhorou, mas mundo ainda está fora do rumo de consertar crise do clima
Vamos primeiro à boa notícia: os planos apresentados pelos maiores emissores do mundo para a conferência de Paris já conseguiram tirar o planeta do rumo de aquecer 3,1oC até o final do século, segundo o grupo mais respeitado do mundo nesse tipo de análise. A má notícia é que agora estamos rumando para 2,7oC – ainda distantes da meta de limitar o aquecimento a 2oC.
Mais preocupante ainda: segundo o Climate Action Tracker, um estudo realizado por quatro think-tanks europeus, se a conferência de Paris não bater o martelo sobre revisões quinquenais que aumentem a ambição das metas, os 2oC estarão praticamente fora de alcance. E a proposta de limitar o aquecimento a 1,5oC, pleito das nações-ilhas do Pacífico, estará de vez fora do baralho.
A análise foi divulgada nesta quinta-feira (1o de outubro), final do prazo informal para que os países-membros da Convenção do Clima das Nações Unidas registrassem seus pleitos. Conhecidos como INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas), esses planos detalham quanto cada país pretende cortar de suas emissões, em que prazo (2025 ou 2030) e como pretende se adaptar a mudanças inevitáveis no clima.
O Climate Action Tracker, que tem entre seus autores principais a brasileira Márcia Rocha, da Climate Analytics, analisou as INDCs de 19 grandes poluidores, que respondem juntos por 77% das emissões do planeta. A INDC do Brasil registrada na última segunda-feira (28/9), foi incluída na análise. O compromisso da Índia (redução de intensidade de carbono do PIB de 33% a 35% até 2030) ainda não havia sido apresentado quando o estudo foi divulgada, então o Tracker usou informações anteriores sobre o gigante asiático.
A conclusão principal é que as INDCs ajudam a reduzir o buraco na conta do clima.
Apenas com as políticas em curso nesses 19 países (incluindo a União Europeia, tratada como um único país), o mundo esquentaria em média 3,6oC até 2100. Quando incluídas as INDCs, a média de aquecimento cai para 2,7oC. Ou seja, as promessas dos países “resfriam” o planeta em quase 1oC comparado a não fazer nada além do que já se faz.
Em comparação com uma análise divulgada no ano passado sobre os planos que os grandes emissores já consideravam, o “resfriamento” é de 0,4oC – ou seja, de 3,1oC para 2,7oC.
Isso significa que, em 2025, as emissões globais seriam de 52 a 54 bilhões de toneladas de CO2, crescendo para 53 a 55 bilhões em 2030. O hiato para atingir os 2oC, nesse cenário, seria de 11 bilhões a 13 bilhões de toneladas de CO2 em 2025 (para comparação, o Brasil emite hoje 1,6 bilhão de toneladas), crescendo rapidamente para 15 bilhões a 17 bilhões em 2030. Isso porque, quanto mais demorarmos para cortar emissões, maior fica a conta climática, exigindo cortes mais abruptos em menos tempo.
Para 1,5oC a brecha fica praticamente impossível de fechar: 21 bilhões de toneladas de CO2 pelo menos.
Segundo o Tracker, é fundamental, portanto, que os ciclos de revisão do acordo de Paris sejam de cinco anos. Assim será possível ajustar mais rapidamente a ambição, para não perder os 2oC de vista.
O Brasil entra bem posicionado nesse quesito, já que apresentou uma meta para 2025 de 37% de redução em relação a 2005, mais uma meta indicativa de 43% para 2030.
A INDC brasileira foi qualificada como “média” pelo Climate Action Tracker. Isso significa que ela só é compatível com uma trajetória de 2oC se outros países turbinarem suas propostas.
Além do Brasil, outros sete países tiveram suas metas qualificadas como “médias”, incluindo China, EUA e UE. Outras oito INDCs foram consideradas “inadequadas”, incluindo Austrália, Coreia do Sul, África do Sul, Rússia e Japão. Apenas duas – Marrocos e Etiópia – tiveram o nível adequado de ambição, embora esses dois países respondam, juntos, por apenas 0,35% das emissões mundiais. (Observatório do Clima/ #Envolverde/Utopia Sustentável)
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