Jornalistas estão na linha de frente dos enfrentamentos simbólicos da sociedade e, por conta disso, não raro, são vítimas da mesma intolerância que denunciam.
Somos mensageiros, mas não apenas. Carregamos nossa própria visão de mundo ou a do veículo de comunicação em que estamos para o debate público. E por palavras que usamos representarem uma ideia maior do que nós mesmos ou por trazerem informação que incomoda, somos punidos com ameaças, acusações falsas, cusparadas, socos e pontapés, sequestros, tiros.
Somos a parte que apanha, metonimicamente, pelo todo.
Fiquei muito triste com a tragédia do Charlie Hebdo, em Paris, que resultou em 12 mortos, nesta quarta (7). Cartunista é uma parte da categoria que, na minha opinião, está acima de todos nós. Conseguem passar, através da leveza ou do soco no estômago, em poucos segundos, o que levaríamos uma eternidade para explicar com texto, áudio ou vídeo.
Em um incêndio, deveriam ser os primeiros a serem salvos. Mas, ao contrário, um punhado deles foi morto em uma chacina.
De certa forma, o que aconteceu envolvendo 12 pessoas em Paris tem ocorrido a conta-gotas ao redor do mundo pelos mais diferentes motivos. Do fundamentalismo religioso, ao crime organizado, passando pelo incômodo a grandes corporações e ao poder político, seja no Maranhão, no México, no Paquistão ou mesmo em países autoproclamados desenvolvidos.
Espero que os responsáveis sejam encontrados, julgados e punidos e que isso não realimente nenhum ciclo de intolerância – que leva, inexoravelmente, a um único destino: destruição mútua.
E que a vida do jornalista (commodity em baixa num tempo em que informação de qualidade vale menos que discursos vazios e anônimos) seja mais respeitada.
“Quer calar uma interpretação do mundo? Mate o responsável por torná-la pública, mate seu corpo, mate sua credibilidade.”
A receita é idiota.
Porque a gente se vai. Mas as ideias ficam. Blog do Sakamoto.
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