quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O rio Amargo que corre para o mar


Moradores de Mariana caminham pela área atingida pela lama da Samarco. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
Moradores de Mariana caminham pela área atingida pela lama da Samarco. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
Rio Doce poderá levar décadas para se recuperar, mas forças poderosas se unem para minimizar o papel da Samarco na tragédia em Mariana (MG).

No dia 6 de novembro uma represa de dejetos de mineração se rompeu no bairro de Bento Rodrigues, na cidade de Mariana. Seis mortos, 21 desaparecidos, centenas de casas destruídas e quase uma semana depois nenhuma autoridade de primeiro escalão do Governo Federal se pronunciou a respeito.
A assessoria do Ministério do Meio Ambiente disse que a ministra Izabella Teixeira, está esperando relatórios do presidente da Agência Nacional de Água, Vicente Andreu Guillo e da presidente do Ibama, Marilene Ramos que viajam nesta quarta-feira para a região. Do Palácio do Planalto nenhum ruído, nem para anunciar um possível apoio do Programa Minha Casa Minha Vida aos desabrigados, ou coisa semelhante.
A empresa responsável pelo desastre é a Samarco, uma joint venture entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, que veio a público com os protocolares discursos sobre as medidas que prevenção que são tomadas, mas que há sempre elementos de imprevisibilidade, que está apoiando os desabrigados etc, etc… Tudo o que uma boa assessoria de comunicação em gestão de crises manda fazer.
Manifestantes da ANEL protestam no escritório da Samarco, no bairro Savassi, em BH
Manifestantes da ANEL protestam no escritório da Samarco, no bairro Savassi, em BH
O jornalista Alceu Luís Castilho, em seu blog no site Outras Palavras, fez uma lista de quem são os controladores das empresas envolvidas, uma parte importante do PIB brasileiro e mundial. Talvez por isso, em tempos de crise econômica, se está esquecendo a amplitude política desse desastre que atravessou parte de Minas, todo o Espírito Santo e vai desembocar no Oceano Atlântico.
O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Altamir Rôso, disse que a empresa “também é uma vítima” e acrescentou em entrevista ao site mineiro Hoje em Dia que “fiscalizar esse tipo de empreendimento não deveria ser função do Estado, que isso poderia ser passado para a iniciativa privada”. Declaração tão surpreendente quanto o fato de o governador Fernando Pimentel ter utilizado uma instalação da Samarco para montar uma coletiva de imprensa.
Outro elemento dessa ópera bufa que está tornando amargo o rio Doce, já expurgado da razão social da Vale, é a preocupação do prefeito de Mariana, Duarte Júnior, que no último dia 9 já demonstrava preocupação em relação ao futuro da empresa em sua cidade, já que a mineração responderia por 80% da arrecadação do município.
Do ponto de vista técnico, não há dúvidas sobre o imenso trabalho que está sendo realizado pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e pelas equipes de Defesa Civil, além de voluntários de toda ordem, que oferecem trabalho e donativos. Mas o que está em questão é a atitude (ou falta dela) política. Nessa hora os principais atores do Governo Federal, diga-se a presidente Dilma, já deveriam estar na região e mobilizando esforços para apoiar a sociedade. A empresa, ora a empresa, essa que se vire com os técnicos e com o Ministério Público.
O governo acionou seus canais burocráticos enquanto a população de Bento Rodrigues sangra.
No final tudo se esvai no esquecimento, inclusive que está em tramitação no Congresso Federal o novo Código de Mineração, PL 5807/2013, que dá à união 12% dos royalties do setor, 23% aos governos estaduais e 65% do dinheiro aos municípios. Como já dizia um famoso delator: “siga o dinheiro”. (Carta Capital/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

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