terça-feira, 21 de julho de 2015

Financiando a sustentabilidade: Caminhos a percorrer


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A maneira pela qual direcionaremos nossos investimentos nas próximas décadas pode determinar o destino da população estimada em 9 bilhões de pessoas. Foto: Shutterstock
O direcionamento em grande escala de recursos requer que usemos a cabeça – desencadeando inovações que, por meio de seus efeitos integradores, criem uma mudança sistêmica nas relações entre os resultados financeiros e de desenvolvimento sustentável.

Nossa global e complexa economia faz muitas coisas bem, mas conseguir resultados equitativos e sustentáveis, ou em outras palavras, ‘desenvolvimento sustentável’, não tem sido um desses pontos fortes. De mudanças climáticas à necessidade de sociedades inclusivas e sustentáveis, a ausência de até mesmo os menores sinais leva a investimentos que degradam os sistemas naturais dos quais a nossa economia tanto depende.
Fazer a mesma coisa repetidas vezes e esperar um resultado diferente é pouco promissor se estamos buscando alcançar o “futuro que queremos”. Nós simplesmente não podemos depender do mesmo cenário habitual para chegar ao desenvolvimento sustentável.
Precisamos, em vez disso, de um cenário bem diferente para captar e investir a quantia estimada de $ 90 trilhões de dólares exigida entre agora e 2030, capaz de disponibilizar infraestrutura decisiva em países que estão modernizando suas economias.
Precisamos ainda de outras dezenas de trilhões para investir anualmente em pessoas e nas milhões de pequenas e médias empresas que representam a principal fonte de emprego no mundo.
Para alcançar essa meta, devemos preencher uma larga lacuna. A Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) estima que o déficit de financiamento para os países em desenvolvimento some pelo menos US$ 2,5 trilhões.
Enquanto o financiamento público é escasso em todo lugar, principalmente após a recente crise financeira e a econômica que a sucedeu, o capital privado é farto. A verdade clara, no entanto, é que apenas 1% do investimento institucional é direcionado ao desenvolvimento de infraestrutura, e apenas uma pequena fração disso se encaixa no critério de desenvolvimento sustentável.
Em um ano como 2015, em que assegurar o financiamento para o desenvolvimento sustentável incluindo ações relacionadas ao clima é um tema tão crítico e ambicioso, o panorama da inovação identificado pelo PNUMA relativo à “Consulta sobre a Elaboração de um Sistema Financeiro Sustentável”, e as soluções práticas de política pública que o estudo destacou, mostram claramente que existe a oportunidade de ir além de identificar ‘recursos adicionais’ para o desenvolvimento sustentável, a fim de desenvolver os contornos de um sistema financeiro internacional adequado às necessidades de uma economia inclusiva e sustentável do século XXI.
O Inquérito, em síntese, é uma nova iniciativa global explorando o que será potencial para as mudanças mais importantes em nosso cenário econômico internacional: a reformulação do sistema financeiro global de tal forma que desempenhe um papel produtivo e ampliado no financiamento do desenvolvimento sustentável.
Os governos se reuniram em Adis Abeba para firmar o compromisso de implementar um quadro global que alcance o financiamento e a assistência ao desenvolvimento. O quadro é impressionante em sua amplitude, destacando várias maneiras inovadoras de melhor utilizar o financiamento público e privado, incluindo os crescentes fundos de economias domésticas em países em desenvolvimento que acabarão por ultrapassar os fluxos comerciais e de finanças concessionais internacionais.
E mesmo que a Agenda Adis Abeba seja um desenvolvimento bem-vindo e promissor, para que seja mais efetiva, uma abordagem integrada e sistêmica deve ser colocada em prática para acelerar o tipo de implementação que faça muito mais do que simplesmente cutucar as beiradas.
Instituições tradicionais financeiras, por exemplo, continuam relutantes em financiar a transição para a energia solar, mesmo com os custos mais baixos, principalmente quando os financiadores percebem os riscos decorrentes de políticas e mercados de concepção precária para atender os pobres.
Esse ‘círculo de medo’ dos investimentos pode ser rompido por meio de uma combinação de inovações até agora não relacionadas entre si.
A primeira é a vantagem distribuída da tecnologia solar, que permite sistemas menores e menos capital intensivo, que podem pertencer a clientes, comunidades e pequenas empresas. Podem ser instalados em telhados de residências ou até em lojas do Walmart, por exemplo. Para residências em países em desenvolvimento, acrescente-se a isso a nova tecnologia móvel, e os usuários poderão fazer pagamentos de baixo custo e pequena escala virtualmente de qualquer lugar do planeta.
Isso permite que clientes mais pobres utilizem o serviço pré-pago, evitando a necessidade de checagem de crédito e contratos dispendiosos. Finalmente, a tecnologia on-line facilita a promoção de vaquinhas virtuais e de financiamento entre particulares capazes de abrir drasticamente mercados de financiamento sem a necessidade de bancos ou outras instituições financeiras intermediárias.
Cada uma dessas inovações é interessante, mas quando “ligamos os pontos” vemos surgir uma nova realidade, juntamente com o potencial para uma mobilização de escala muito grande de energia limpa que vale centenas de bilhões de dólares.
A energia, é claro, é apenas uma via, mas serve de indicador indireto de outros investimentos que estimulam a formação de novas atividades econômicas, postos de trabalho e economias locais, além de oferecer a energia elétrica capaz de melhorar a educação, a saúde e o meio ambiente local. Esses impactos poderão então gerar um ‘círculo virtuoso’ de novas oportunidades de novas atividades econômicas e de empregos.
O financiamento por si só ilustra ainda melhor o potencial da mudança sistêmica integrada. Os países em desenvolvimento, em especial, entendem que as finanças são um sistema que pode atender às necessidades de desenvolvimento nacional ao investir numa economia sustentável inclusiva. Por essa óptica, os bancos centrais e reguladores financeiros fazem mais do que seus congêneres dos países desenvolvidos, que restringem seu foco à estabilidade financeira e monetária e à integridade do mercado.
O banco central de Bangladesh, por exemplo, fornece refinanciamento aos bancos que emprestam para a economia rural e projetos verdes, enquanto o departamento de serviços financeiros da Indonésia adotou um “Roteiro para o Financiamento Sustentável”.
O banco central do Quênia abriu o caminho ao estimular serviços financeiros “celulares” que geraram um crescimento extraordinário da inclusão financeira. Em cada um desses casos, e em muitos outros, a questão não é que essas medidas estejam sendo tomadas como adicionais ao ‘costumeiro’.
Essas medidas podem ser uma via para desenvolver um sistema financeiro saudável, corretamente posicionado em uma estrutura de política econômica e social mais ampla que, por sua vez, sustenta os esforços destinados a conquistar os pontos de prioridade nacional.
Mobilizar os recursos financeiros para o desenvolvimento sustentável não é, portanto, apenas uma questão de conseguir mais dinheiro de A para B.
O direcionamento em grande escala de recursos requer que usemos a cabeça – desencadeando inovações que, por meio de seus efeitos integradores, criem uma mudança sistêmica nas relações entre os resultados financeiros e de desenvolvimento sustentável.
“Como criamos desenvolvimento sustentável” é, de forma bem literal, a questão dos trilhões de dólares.

A maneira pela qual direcionaremos nossos investimentos nas próximas décadas pode determinar o destino da população estimada em 9 bilhões de pessoas que precisarão de comida, energia, ar limpo, água limpa, mas também solos saudáveis, até meados do século. (#Envolverde/ Utopia Sustentável)

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