A reflexão que vem das
ruas
Muito temos discutido tentando entender qual o fato gerador a
“startar” tamanha mobilização há cerca de um mês no Brasil. Seria essa uma nova forma de fazer política? Estamos diante de uma nova “Era” para exigir
direitos de nossos governantes? Estamos presenciando uma crise sem precedentes
das agremiações políticas? Será o início
do fim dos partidos?
Afinal, nem os mais experientes políticos conseguiram, até o
momento, entender o que está acontecendo.
E esse não é um privilégio brasileiro, vem ocorrendo faz tempo em boa
parte do mundo árabe.
Acompanhei algumas das manifestações com filhos e sobrinhos,
todos estreantes em passeatas, todos sem ideologia definida, apenas “do bem”, e
percebi que, diferente de outras épocas, quando tínhamos partidos e seus políticos
a orientar e comandar a multidão, essas não têm sequer líderes, quando chegam
ao seu destino final ninguém discursa, são entoados somente cânticos e palavras
de ordem.
Diferente, também, de outras épocas, onde apenas as grandes
cidades participavam, agora, o digital entra e convoca a todos e o que vemos
são cidades com 10 milhões ou 10 mil habitantes fazendo seus atos
independentemente de solicitação a um comando central, temas, nada. A falta de coloração partidária, se por um
lado é ruim, pois escancara a falência representativa dos partidos, é
importante, também, pois não inibe ou restringe a participação de diferentes
matizes sociais, ao contrário, agrega.
Como um viral avassalador ainda não compreendido pela classe
política dominante, o povo anônimo nas ruas, conseguiu através das redes
sociais, aprovar em uma semana matérias até então impensáveis em outros tempos,
dando um banho de organização, simplicidade, e, sobretudo, resultados práticos. E isso tudo sem qualquer reunião ou
negociação com as três esferas de Poder.
No Executivo, a presidente Dilma está propondo a reforma
política tantas vezes recusada pelo Congresso, além de um plebiscito; no
Judiciário, de maneira inédita, acaba de mandar prender o Deputado Donadon ao recusar
os tais embargos declaratórios/infringentes que, na prática, tinham a exclusiva
intenção de apenas protelar seu processo e; no Legislativo, em apenas uma
semana aprovou a transformação do crime de corrupção em hediondo, além de recusar
a tão temida PEC 37 que, se aprovada, inibiria a investigação de crimes pelo
Ministério Público. Não é incrível?
É ou não algo a se refletir e pensar? Mais, se alguém ousar
se colocar acima dos movimentos e aparecer dando entrevistas em nome de grupos,
é imediatamente posto de lado. Essa,
talvez, a maior força das manifestações.
Ouvi várias opiniões divergentes dando conta que o movimento
não tinha propostas objetivas, o que é um equívoco, pois tudo até agora aprovado
é resultado, justamente, do que as ruas clamavam. Ouvi, também, o Ministro Gilberto Carvalho
afirmar, preocupado, já quando o circo pegava fogo, que não tinha com quem
dialogar. Esse para mim, o grande barato
disso tudo: eles (o poder) não tinham a quem cooptar.
Não estou aqui afirmando que os Partidos não são importantes ou
dispensáveis em nosso sistema político, entretanto doravante, no mínimo, se o
movimento souber organizar as propostas e a massa, estará descoberta uma bela e
vigorosa maneira de fiscalizá-los, não tenho dúvidas. Agora, sabedor da força
que tem (e que adormecia em berço esplêndido), o gigante acordou e tem a tarefa
de acompanhar as propostas que serão apresentadas à Nação. E, se for o caso, pois essa gente não se
emenda fácil, botar o bloco na rua novamente.
Mas o que esse assunto tem a ver com “Sustentabilidade”? Fiquem ligados, no próximo artigo vamos
conversar sobre “Corrupção, Vandalismo e Sustentabilidade”.
Odilon de Barros
2 comentários:
primavera àrabe, outono brasileiro.
Fala amiga, o que está acontecendo é inédito, ainda precisaremos de um tempo para entender. Sem dúvida, o mundo começa a mudar. Seremos exemplos, podes crer, na América do Sul , principalmente, de outas coisas que estão a caminho. Aguardemos. Beijo grande. Ah, ia esquecendo, estou impressionado com tanta gente aqui que está participando lendo. Até agora tem gente de nove países nas estatísticas. Acho que está agradando.
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