E AGORA
Ufa, parece que foi ontem mas lá se vão quase treze anos de minha última
participação em manifestações de rua.
Afinal está acabando o efeito da anestesia popular causada a partir da
eleição presidencial vencida pelo PT.
Nascidas meio que como um movimento isolado de estudantes de Porto
Alegre, em março, as reivindicações foram ganhando espaço e hoje, depois de
dois meses e uma ajudinha sem querer dos meios de comunicação, que subestimaram
os manifestantes tratando-os como vândalos, tomaram o Brasil.
Saí do trabalho às 18h e a multidão já tomava inteiramente a Av. Rio
Branco. Como havia marcado com meu filho
e sobrinhos de encontrá-los, resolvi ficar olhando a massa se movimentar. Estava bonito mesmo, não imaginava ver ali
tanta gente. Pensei: se o tal do Cordão do Bola Preta, que fica com a avenida
inteiramente cheia com 2 milhões de
pessoas, imagine aqui. Calculo, pelo
menos 200 mil pessoas presentes hoje.
Quando todos chegaram começamos a caminhar lentamente rumo à
Cinelândia. Cartazes com inscrições
contra as três esferas de governo eram empunhados por um público, em sua grande
maioria, jovem. “País mudo não muda”,
“seu filho está doente, leva ele ao Maracanã”, “se a passagem não baixar, o Rio
vai parar”, “desculpem o transtorno mas estamos mudando o Brasil”,entre
outros. A todo momento que alguém
(pouquíssimos, por sinal) resolvia levantar qualquer bandeira de partido
político, era vaiado e um coro ensurdecedor gritava: “sem partido, sem
partido”.
Tudo pacífico, com muito bom humor. Não vi em todo o percurso um único policial,
nenhuma briga, nenhuma provocação. Até
às 20h e 15 minutos. A partir daí, nossos telefones começaram a tocar
informando que bombas e confrontos estavam ocorrendo em Brasília e no Rio de
Janeiro, na ALERJ e Paço Imperial, dando conta de policiais feridos e um carro
pegando fogo. A partir de então, senti o
clima um pouco estranho. Chamei meu
filho e sobrinhos, descemos as escadas ao lado do Cine Odeon, estação
Cinelândia e fomos embora.
Pra quem não acreditava, está na hora de baixar a bola e tentar analisar
os motivos de tudo isso estar ocorrendo.
Somadas, já são 47 as manifestações em todo mundo em apoio às
manifestações. Mais, é sintomático a total aversão a políticos e a partidos
nesse momento. Com a palavra, os
cientistas políticos de plantão. A agenda, antes apenas por conta do preço das
passagens de ônibus, passa já por uma educação e saúde de qualidade, contra a
corrupção, contra os gastos com os estádios da Copa, contra a PEC 37, enfim,
espero que as boas cabeças dentro do governo consigam raciocinar e aceitar que
o humor mudou, que a população, antes calada, está cansada de tanta falta de
tudo. E é preciso mudar, rápido.
Pouco tempo faz, o Ministro Joaquim Barbosa afirmara que nossos partidos
eram de mentirinha. As ruas estão
corroborando esse sentimento. Pois bem, é bom acabar com a brincadeirinha antes
que nossa democracia seja, como nunca, colocada à prova.
Odilon de Barros
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