quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Snowden escolheu o Brasil para espetar seu "Pen Drive". É hora de demonstrar que nossa soberania é sustentável


Está aí a chance.  O pedido de asilo permanente, conforme noticiou o jornal Folha de São Paulo em 17/12, feito por Edward Snowden ao Brasil, tem tudo para apimentar a cena política nacional desse fim de ano pré-eleitoral.  E porque digo isso?  Espionagem, Snowden, Brasil, NSA, EUA e toda sopa de letrinhas que envolve o assunto, estão longe de um desfecho.  Eu, aqui mesmo nesse espaço, já escrevi algumas vezes sobre o tema.  E sou cônscio em afirmar:  Snowden é nitroglicerina pura. 

A se confirmar tal solicitação, temos a oportunidade ímpar, enquanto Estado soberano de direito (?), de demonstrar, na prática, todo o discurso feito nos palcos cênicos do mundo, com destaque para o discurso de abertura da 68ª Assembleia Geral da ONU, feito por nossa presidenta, Dilma Roussef.

À época, mesmo sabendo de nossas limitações, nossa mandatária disse que espionar era uma “afronta aos princípios que devem guiar as relações entre países” e foi dura ao afirmar que combateria o que definiu como “grave violação dos direitos humanos e das liberdades civis”.  Pediu, ainda, uma legislação internacional que proteja os países de “interceptações ilegais de comunicações e de dados”.

Teremos, portanto, a partir do início do ano de 2014, pressões de todos os lados para concedermos e negarmos o asilo.  De um lado, ativistas e defensores dos direitos civis e privacidade individual, pela concessão.  De outro, os EUA, parceiro número um do Brasil, tentando fazer valer seu poderio econômico de principal potência do mundo globalizado, a pressionar e ameaçar nosso país de retaliações as mais diversas. 


Em minha humilde análise, um doce abacaxi a ser descascado pela presidenta-candidata.  Por quê?  Temos como pano de fundo desse cenário, o mês de outubro, onde teremos, possivelmente, uma disputa acirradíssima pela presidência, com nomes novos aparecendo na cena política nacional pela primeira vez e onde qualquer pequena vantagem será bem-vinda.

Se olharmos pelo lado humano, a concessão de asilo pode ser uma bandeira eleitoral muito positiva, tendo vasto apoio dentro e fora do país.  Vejamos:
1-      Snowden virou uma espécie de herói antiamericano mundial ao denunciar práticas yankees consideradas sujas por grande parte da mídia mundial;
2-     C0m argumentos nacionalistas de defesa, os EUA bisbilhotaram empresas, utilizando, possivelmente, dados obtidos ilegalmente em licitações internacionais.  Uma fraude;
3-      Abrigá-lo seria uma resposta à altura para o ato cometido pelos EUA, sinalizando para o mundo nossa soberania e a maturidade de nossa democracia;
4-      Eleitoralmente, muito bom, pois forçaria adversários a se posicionar. E a presidenta-candidata ganharia com qualquer cenário de manifestações.  Em caso de recriminações à medida, surfaria sozinha na onda do asilo, pois o mesmo teria amplo apoio da sociedade.  Em caso de apoio de adversários ao asilo, ganharia mais que os outros, já que a concessão seria obra sua.  Enfim...

Não devemos temer sanções ou pressões americanas.  Elas são normais de ocorrer nesse jogo.  Estão aí para demonstrar que é possível enfrentá-los, Cuba, que até hoje, soberanamente, não se dobrou e Rússia, que a despeito das pressões feitas pelo Império, asilou e não despachou nosso herói de volta à terra natal.

É preciso acabar com a hipocrisia reinante no mundo e enfrentar os problemas que colocam em risco a sobrevivência da humanidade - mudanças climáticas, desigualdade social, pobreza, comércio justo, fome etc -.  O tempo não para e a contagem regressiva já começou, acreditemos ou não.  Agências de espionagem como a NSA, têm que ter limites de atuação claros e definidos estabelecidos por legislação internacional.  Ou acabar. 

Snowden é um pen drive repleto de informações que podem assombrar o mundo e ao mesmo tempo iniciar a mudá-lo.  Com um pouco de coragem e responsabilidade, podemos ser protagonistas dessa mudança, desse novo tempo, da mesma forma que corajosamente Edward Snowden, Glenn Greenwald e David Miranda, estão contribuindo.

Como potência emergente do Planeta, temos desempenhado importante papel nesse início de século XXI.  Abrigá-lo, aqui, pode representar muito mais do que uma simples vitória no pleito presidencial.  Mas sim, sinalizar ao mundo que somos livres para escolher nossos caminhos e que estamos prontos a dividir com as grandes nações o trabalho de tornar nosso Planeta mais justo, igual e sustentável.

Toda vez que o Planeta passou por grandes transformações, elas foram implementadas por estadistas que são lembrados até hoje.  Snowden está escolhendo o Brasil por imaginar que sejamos capazes de estar à frente desse processo.  Ou talvez que tenhamos governantes com esse perfil.  O tempo dirá se ele tinha razão.  

Abraços sustentáveis

Odilon de Barros