Rio de Janeiro, 22 de julho de 2016.
Excelentíssimo Senhor Francisco Dornelles
Governador do
Estado do Rio de Janeiro
Ref.: Carta aberta
- Pedido de providências em relação à UERJ
Exmo. Senhor
Governador,
Seria injusto afirmar
que o estado pré-falimentar do Rio de Janeiro é culpa exclusivamente sua. Não é.
Tampouco seria justo se não o reconhecesse como parte desse imenso
problema que vivemos, afinal Vossa Excelência sempre fez parte, enquanto
filiado das agremiações partidárias as quais pertenceu, com pouquíssimas
variações, do mesmo grupo de poder que representa as retrógradas elites
brasileiras, seja em nível estadual ou federal.
Faz dez anos que esta
coligação encabeçada pelo PMDB vem estraçalhando as finanças estaduais sem
qualquer reação organizada da sociedade carioca, que se encantou com Copa do
Mundo e Olimpíadas, um canto e tanto de sereia que levou nosso Estado à ruína. Esse,
aliás, um troféu nada fácil de ser conquistado.
À parte o presente de
grego que o Governador licenciado deixou para Vossa Excelência, sou pai de
aluno da UERJ, a Universidade que deveria ser o orgulho de todos os cariocas,
mas que talvez esteja passando por sua mais grave crise desde a fundação. E é
sobre isso que gostaria de ponderar com Vossa Excelência.
Sabemos que esse
problema vem de longa data, remonta a ditadura militar e a fatídica reforma
educacional implementada naquele período que transformou um dos principais
pilares de nossa democracia, a educação, em um vantajoso negócio. Resultado: degradação
gradativa do ensino público e expansão do ensino privado, em sua grande
maioria, de qualidade sofrível.
Senhor Governador
Dornelles, é inadmissível em qualquer nação minimamente democrática e que almeja
um futuro digno para seus filhos que a educação, e também a saúde, não sejam tratadas
como prioridade absoluta por qualquer governo. E, não fosse a mobilização de
alunos, professores, pais e funcionários, fatalmente já estaria fechada.
Ser pública, de
tradição e qualidade, ter o curso pretendido e estar no Rio de Janeiro, foram
alguns dos fatores que levaram nosso filho, e o de tantas e tantas famílias, a
se empenharem e optarem pela UERJ.
Mas após dois anos de
completa adaptação, já estagiando na área e fazendo planos para o futuro, o que
vemos, hoje, são jovens que perderam o ano letivo de 2016 por conta da
irresponsabilidade de seus governantes. Um completo desestímulo.
Quem entra na UERJ
para uma visita logo percebe o descaso e a falta de importância com que os
sucessivos governos vêm dando à educação nas últimas décadas. Sujeira, lixo,
escuridão, um ambiente completamente hostil ao estudo. E, segundo relatos do
comando de greve, o que se vê é uma terceirização cartelizada dos serviços e
uma categoria que não tem reajustes desde 2001. Tem-se, ali, a completa noção
do significado da palavra degradação. Um escárnio.
Não bastasse a
completa desordem e catástrofe financeira a que nossa sociedade se vê refém com
o não repasse do pagamento de créditos consignados aos bancos conveniados; pagamento
parcelado aos aposentados; não repasse dos valores de INSS e FGTS dos
funcionários, o que configura crime de apropriação indébita passível de
impeachment; pior é ver a educação submetida à miopia e à mesquinhez de
governos que, por questões políticas ou, perdão, burrice mesmo, não conseguem
enxergar que a mediocridade no oferecimento desse produto básico, torna o
futuro de nossos filhos comprometido e limitado. E também o de nosso país.
Dessa maneira, vimos
solicitar, sem mais delongas, a imediata abertura de negociação com o comando
de greve, caso contrário continuaremos a ser o eterno país do futuro. Do futuro
de uma elite que teima em acreditar pertencer a um país imaginário e privado onde
dez mil famílias pintam, bordam e escravizam o cordato povo brasileiro. Basta!
Cordialmente,
Odilon de Barros
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