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terça-feira, 14 de abril de 2015

Falta de água afetará dois terços da população mundial em 2050




Atualmente, cerca de 40% da população do planeta sofrem com a escassez de água. Foto: Arquivo/Agência Brasil
Atualmente, cerca de 40% da população do planeta sofrem com a escassez de água. Foto: Arquivo/Agência Brasil

A escassez de água afetará dois terços da população mundial em 2050 devido ao uso excessivo de recursos hídricos para a produção de alimentos, alertou nesta terça-feira, 14 de abril, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
A informação está no relatório Rumo a um futuro com segurança hídrica e alimentar, feito pela FAO e apresentado hoje, no segundo dia do 7º Fórum Mundial da Água (FMA), realizado em Daegu, na Coreia do Sul, até sexta-feira (17).
Atualmente, cerca de 40% da população do planeta sofrem com a escassez de água, uma proporção que aumentará até dois terços em 2050, alerta o documento.
Esse aumento será causado pelo consumo excessivo de água para a produção de alimentos e para a agricultura. Segundo a FAO, atualmente há regiões do planeta em que se utiliza mais água subterrânea do que a armazenada de forma natural. O relatório cita, entre essas áreas, a Ásia Meridional e Oriental, o Oriente Médio, a África do Norte e a América do Norte e Central, acrescentando que em algumas regiões “a agricultura intensiva, o desenvolvimento industrial e o crescimento urbano são os responsáveis pela contaminação das fontes de água.
A FAO pediu aos governos de todo o mundo que “atuem para assegurar que a produção agrícola, pecuária e de peixes seja feita de forma sustentável e que ajudem a preservar os recursos hídricos”.
Seguranças alimentar e hídrica
“As seguranças alimentar e hídrica estão estreitamente ligadas”, declarou o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, ao apresentar o relatório. Ele defendeu uma agricultura centrada na sustentabilidade mais do que na rentabilidade imediata.
“Acreditamos que com o desenvolvimento dos enfoques locais e os investimentos adequados, os líderes mundiais podem assegurar que haverá volume suficiente, qualidade e acesso à água para garantir a segurança alimentar em 2050 e mais além”, disse Braga.
Agricultura
De acordo com o documento, em 2050 serão necessários 60% a mais de alimentos no mundo, enquanto a agricultura continuará a ser o maior consumidor de água.
Mesmo com o aumento da urbanização, em 2050 grande parte da população mundial continuará a ganhar a vida com a agricultura, apesar de o setor ser afetado com a redução do volume de água disponível devido à competição com as cidades e as indústrias.
Nesse cenário, os agricultores e, sobretudo, os pequenos agricultores terão de encontrar novos caminhos “por meio da tecnologia e das práticas de gestão” para aumentar a produção, com disponibilidade limitada de terra e de água, destaca o documento. (Agência Brasil/ #Envolverde/Agência Lusa/Utopia Sustentável)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Seja bem-vindo à era da escassez



por Eduardo Shor*
shutterstock humanidade Seja bem vindo à era da escassez
Foto: Shutterstock

Pode ser que os leitores acabem antes do livro impresso. O Orkut, a Petrobras, o futebol brasileiro, a vida como a gente conhecia não existem mais. E os picolés? Viraram paletas mexicanas vendidas em food trucks
Você sabe da última? Entramos na era da escassez. O mundo agora é assim. Está cada vez mais comum se falar na última. A última gota, ponta, semente, vez que você viu uma estrela no céu na cidade de São Paulo. Quando foi mesmo?
A água pode acabar. Existe gente que jura que dá para ficar sem tomar banho. Mas uma pessoa de bem, um pai de família, uma mãe de criança, empresária, conseguiria viver sem chocolate? Difícil. E o pior: a produção de cacau não tem dado conta para tantos dedos querendo se lambuzar com bombons, tabletes, cremes.
Onde estão os picolés? Saudades das velhas Kombi que vendiam cachorro-quente. Raridade. Nas festas do interior, as barraquinhas ofereciam pinga, marvada, imaculada, branquinha, bagaceira, a-que-matou-o-guarda.
Hoje a cachaça só entra se tiver nome bonito, aliás qualquer coisa só entra desse modo. O sujeito não sai de casa se não for para conhecer um espaço diferenciado. E, em vez de enfiar o pé na jaca, mergulha os calcanhares no leito de rúculas ao molho de iogurte, oréganos frescos e damascos da Polinésia. É o pé na jaca gourmet, com o perdão da cacofonia.
O Orkut acabou; a Petrobras, dizem. Os ascensoristas não estão mais dentro dos elevadores, substituídos por vozes mecânicas. O Eike deixou a lista dos bilionários. E nem Clarice Lispector teve um repertório tão vasto de frases para as redes sociais, da forma que querem fazer você acreditar.
O livro impresso vai acabar algum dia? Pode ser que os leitores acabem antes do livro. O mundo politeísta assistiu ao nascer do monoteísmo, até que se declarou Deus morto, ou, quem sabe, ele nunca tenha existido.
A crônica esportiva procura entender por que o nosso futebol acabou. A extinção da paixão pela camisa, do improviso do craque brasileiro. Os analistas do mercado querem descobrir por que a economia desaqueceu. O PIB sumiu. A arara-azul e o mico-leão-dourado faz muito também não aparecem por essas bandas.
A vida como a gente conhecia não existe mais. Ficou nas fotografias, que de uns tempos para cá não desbotam. Permanecem coloridas e vivas, como se o momento registrado tivesse acabado ontem ou uma hora atrás. O clima mudou, as geleiras estão derretendo, os rios estão secando. Pode faltar luz nos próximos meses.
Acabou o dinheiro – o meu, pelo menos. A paciência da população, a vergonha dos políticos, a revolta junina, o espaço para tanto silicone, o carnaval de outrora, o amor.
O amor acabou sem nem avisar com antecedência. Um dia o homem acordou, pulou da cama e disse a ela: não dá mais. Logo os dois, que tinham amado Paris, amado Veneza, amado a primeira vez que fumaram maconha, amado aquele filme do Woody Allen. Amaram tanto tudo que faltou amor para continuarem a se amar.
E não aconteceu só com eles. Falta de amor se espalha que nem gripe. Atchim! Beija-se sem amor, casa-se sem amor, transa-se sem amor. E os pais não veem a hora de devolver as crianças, tomarem de volta o pagamento do parto. Chega-se a uma certa idade que a gente não tem mais saúde.
Acabou a atenção. Pessoas andam pela rua batendo a testa, trombando em postes. Olha o celular, digita, esquece a vida. Um exército de seres que estão aqui, mas não estão em lugar algum. Cabeças perdidas em bate-papos, jogos, vídeos de sexo, piadas, notícias. Onde estará de verdade toda essa gente?
Talvez seja por isso que se fale cada vez mais em encontrar outros planetas, galáxias, estrelas. O dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? Esse planeta acabou, ou está acabando, anote aí, antes que acabe a tinta da caneta, ou a bateria do seu computador.
Uma sonda acabou de pousar em um cometa pela primeira vez, a Nasa anuncia para os próximos anos uma missão tripulada inédita para Marte. Candidato, seu tempo acabou. A lei acabou no Brasil, acabou a promoção no shopping, na 25 de Março, na Rua da Alfândega. Acabou a privacidade, o Calendário Maia. Acabou o coletivo, agora cada um só quer saber de si.
Não tem mais o que acabar por esses lados, vamos acabar com o que a gente ainda nem conhece direito. O que pode ser destruído na Lua? Em Júpiter? Saturno ainda perde seu anel em um assalto interestelar. Enquanto houver esse texto é possível ter a garantia de que algo continua, a esperança, mas nem isso. Acabou a linha, acabou o espaço, acabou o texto. Fim.site Página 22./Utopia Sustentável

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Economia e água: crescimento e preservação ambiental



torneira agua ecod Economia e água: crescimento e preservação ambiental
Risco de escassez de água é um tema cada vez mais em pauta. Foto: Pedro França/Agência Senado

Sempre quando lemos notícias sobre economia, há um aspecto subliminar que passa despercebido à maioria dos leitores: nossa dependência ambiental. Afinal, entendemos a relação entre equilíbrio ecossistêmico e crescimento econômico? Cadeia de produção agrícola, uso consciente da terra, geração de energia, disponibilidade hídrica, dentre outros fatores, são fatores intimamente ligados e que interferem diretamente na economia.
Fato é que tudo que consumimos tem um componente, e um custo, ambiental, desde alimentos até bens de consumo. Água, por exemplo, é um ativo ambiental que nos proporciona geração de riqueza através de seu uso em diversos segmentos e, em contrapartida, devolvemos ao meio ambiente o custo de tê-lo utilizado.
Muitas empresas ainda não identificam a água como um risco para os seus negócios, nem possuem dados confiáveis sobre seu uso em sua cadeia de valor. No entanto, com um mercado cada vez mais interdependente, é preciso avaliar se os modelos de gestão atual são capazes de capturar e controlar estes riscos.
Na verdade isso é consequência de uma economia que sempre dispôs dos ativos ambientais de maneira desordenada e a percepção deste risco somente começou a ganhar corpo com os cenários de finitude destes ativos.
A necessidade de se avaliar riscos e buscar eficiência se torna ainda mais urgente diante do cenário de escassez hídrica que enfrentamos. Trata-se de sobrevivência, nossa e de nossas organizações. Pesquisa realizada em 2011 pelo Carbon Disclosure Project (CDP) constatou que cerca de metade das cento e noventa empresas pesquisadas não veem a água como um fator de risco para a continuidade de suas atividades.
Nesse cenário, grandes grupos empresariais serão impactados significativamente, dada a extensão de suas operações e de suas cadeias de valor, que os expõe ainda mais. Setores como agricultura, mineração, bebidas, energia e farmacêutico, que utilizam água de forma mais intensa, terão papel crucial neste novo cenário, através da adaptação de suas estratégias e formas de gestão, criando referências para a geração de valor para o ambiente econômico.
Se de um lado as políticas públicas falham, de outro é preciso que a iniciativa privada insira as questões ambientais nos modelos de negócio.
A eficiência no uso de recursos naturais e resiliência dos ecossistemas estão sendo vistos como fatores que afetam a capacidade da empresa de competir, mudando o diálogo nas organizações de mera responsabilidade corporativa para a redução e mitigação de riscos como eventos climáticos extremos, a futura legislação ambiental, interrupções na cadeia de abastecimento, e tantos outros. Entender qual a relação entre geração de valor para o negócio e uso dos recursos hídricos é fundamental.
Igualmente se a cadeia de valor da qual o negócio é dependente se sustenta ao longo do tempo com os padrões operacionais atuais. Os modelos de negócio clássicos utilizam premissas para projeção de receita que não consideram com amplitude as questões ambientais e, ao fazê-lo, subtraem das análises uma série de externalidades que podem tanto agregar valor como deteriorá-lo.
No fim de março, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou relatório que avalia a vulnerabilidade dos sistemas econômicos e naturais frente às mudanças no clima. O documento, que faz clara associação entre equilíbrio dos ecossistemas e economia, destaca como desafio para a América do Sul a menor produção alimentar e de menor qualidade, cujo risco aumenta caso as temperaturas subam acima de dois graus Celsius. Nesse caso, uma alternativa seria desenvolver cultivos resistentes à seca. Adaptação econômica às questões ambientais é o termo chave para lidar com o problema.
Em 2011, no Fórum Econômico Mundial, relatório destacou que a agricultura consome atualmente cerca de três trilhões de litros de água, cerca de 70% do total. O uso industrial corresponde a 16%, e projeta-se que suba para 22% em 2030. Para a agricultura, considerando a eficiência (ou falta dela) atual, o relatório aponta para um consumo de quatro trilhões e meio de litros em 2030. Curiosamente, o estudo indica que o uso doméstico cairá de 14% para 12% até 2030, porém, em áreas específicas, como os mercados emergentes, haverá crescimento do consumo doméstico.
De acordo com os dados do Atlas do Espaço Rural Brasileiro do IBGE, a produção nacional de água doce representa 53% da América do Sul e 12% do total mundial. Cerca de 80% dos recursos hídricos disponíveis no Brasil estão distribuídos entre as bacias hidrográficas de menor densidade demográfica, enquanto as regiões mais densamente urbanizadas detêm somente 12% dos recursos hídricos, abrigando 54% da população total.
Os níveis de desperdício chegaram a quase um trilhão de litros de água (corresponde a 32,1% do volume distribuído) no estado de São Paulo em 2012, de acordo com os dados mais recentes da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado (Arsesp). A média nacional é de 38,8%.
Nossa Política Nacional de Recursos Hídricos é de janeiro de 1997 e em seu artigo 19, inciso I, afirma que a cobrança pelo uso de recursos hídricos tem como objetivo “reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor”.
Considerando que as taxas de desperdício superam 30% no Brasil, certamente os recursos hídricos não têm seu real valor reconhecido, ainda mais quando constatamos que tal valor foi mencionado em uma política com mais de dezessete anos. É preciso que governos, sociedade e empresas compreendam esse valor e adaptem suas práticas para que a água continue a ser um ativo disponível e de baixo custo através de sua correta gestão.* Publicado originalmente em 2 de junho de 2014 no jornal Valor Econômico e retirado do site EcoD.