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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Agro é o cacete

O agronegócio representa 23% do PIB nacional, com R$1,1 trilhão em negócios.  Nem por isso, justifica a descarada propaganda patrocinada pela Rede Globo, em junho e julho, em favor dos ruralistas.

Sabemos que várias das plantações do “Agro”, algodão, milho, fumo e soja, por exemplo, são campeãs do uso de agrotóxicos. 

É notório que o uso prolongado de agrotóxicos destrói a biodiversidade local e desequilibra o ambiente natural, tornando o ambiente propício ao surgimento de elevadas populações de insetos e doenças, pois é dependente da química e funciona à base de muito veneno.

Por sua vez, cada vez mais forte, a bancada ruralista ocupa quase 50% do Congresso brasileiro, onde atua constantemente tentando o que chamamos de, legalizar a contaminação, seja através do governo e/ou órgãos reguladores, e dificultando processos de fiscalização. 

Por outro lado, o elo da criminosa cadeia se fecha através do financiamento de campanhas eleitorais por parte da indústria química.  Tal política, batizada de “uma mão lava a outra”, permite o absurdo consentimento do uso, por nossos congressistas através da aprovação de leis, de agrotóxicos banidos em várias partes do mundo, o que coloca em risco nossa população.

Hoje, temos o triste título de país que mais consome agrotóxicos per capita no mundo, com cerca de 5,2 litros/ano ou catorze latinhas de cerveja.  Nada mal, veneno na veia, o que causa, além de problemas neurológicos, má formação fetal, câncer em abundância e mortes. 

Mas o que era o casamento perfeito, o capital financeiro com o latifúndio, ganhou agora um terceiro e poderoso parceiro: a mídia. Como nesse negócio não existem bobos nem serviços “0800”, é lógico que a toda poderosa Globo bancar, em horário nobre, uma peça publicitária caríssima, sobre um dos setores mais importantes do Brasil, não pode ser normal.  Ou é pagamento por serviços prestados ou a prestar. Para maiores esclarecimentos, assistam ao documentário "O Veneno está na Mesa", do cineasta Silvio Tendler.

A única certeza é que, longe de ser “Tudo, Tech e Pop”, o AGRO também é “Câncer, Tóxico e a Morte”.

Abraços Sustentáveis

Odilon de Barros

Anvisa divulga lista de alimentos com maior nível de contaminação por agrotóxicos

A gente já falou aqui sobre o veneno que já faz parte do nosso dia-a-dia. Os agrotóxicos estão presentes em praticamente tudo o que comemos e podem até mesmo começar a ser jogados sobre nossas cabeças… Agora, a Anvisa divulgou uma lista que mostra quais os alimentos mais contaminados no país.

Segundo a divulgação, cerca de um terço dos vegetais mais consumidos no Brasil apresentaram um nível de agrotóxico acima do aceitável. Foram analisadas quase 2.500 amostras de 18 tipos de alimentos pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos, da Anvisa. Entre os critérios do levantamento estavam a análise da presença de agrotóxicos acima do nível permitido e a presença de agrotóxicos não autorizados para o tipo de alimento.

A batata foi o único vegetal examinado que não apresentou nenhum lote contaminado. Em compensação, praticamente todas (91,8%) as amostras de pimentão apresentavam agrotóxicos acima do permitido. Morango, pepino e alface também estavam entre os itens mais contaminados, apresentando irregularidades em mais de 50% dos lotes examinados.

Confere só os resultados do levantamento:

agrotoxicos

Para evitar a contaminação, nós recomendamos, além das dicas presentes na imagem acima, a escolha por produtos orgânicos sempre que possível. Se não puder adquirir tudo de produtores ecológicos, dê preferência aos orgânicos ao menos na hora de adquirir os itens que apresentam maior número de agrotóxicos. 

Hypeness/Utopia Sustentável

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Agrotóxicos ameaçam colônias de aves da Antártica


Estudo identifica contaminantes orgânicos no sangue de petréis-gigantes. Foto: Colônia de petréis gigantes na ilha Elefante, no arquipélago das Shetland do Sul, na Península Antártica/Fernanda Imperatrice Colabuono
Estudo identifica contaminantes orgânicos no sangue de petréis-gigantes. Foto: Colônia de petréis gigantes na ilha Elefante, no arquipélago das Shetland do Sul, na Península Antártica/Fernanda Imperatrice Colabuono
Pesquisadores confirmaram a presença de contaminantes orgânicos no sangue de petréis-gigantes do sul de diversas colônias na Península Antártica.

Estudos de carcaças e outros tecidos já tinham dado sinais da contaminação, agora confirmados a partir de amostras de sangue em que foi detectada a presença de diversas substâncias nocivas, entre as quais o DDT, pesticida banido nos Estados Unidos em 1972, quando se constatou que seu uso ameaçava a sobrevivência de diversas espécies de aves de rapina.
A pesquisa foi realizada pela bióloga Fernanda Imperatrice Colabuono, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Ela estudou os animais das colônias de petréis-gigantes das ilhas Elefante e Livingston, no arquipélago das Shetland do Sul, na Península Antártica, com bolsa de pós-doutorado e bolsa de estágio de pesquisa no exterior da FAPESP.
A pesquisa teve apoio também da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e do National Institute of Standards and Technology dos Estados Unidos, com o apoio logístico do Programa Antártico Brasileiro.
O petrel-gigante-do-sul (Macronectes giganteus) é um animal magnífico e um importante predador de topo no Atlântico Sul e Oceano Austral. Com envergadura de asas de cerca de 2 metros, é uma das maiores aves voadoras do planeta, menor apenas que o albatroz e o condor. São também longevos. Petréis-gigantes podem viver mais de 50 anos. Passam a vida nos céus dos mares do Sul do planeta, à procura de comida.
Na época do acasalamento, durante o verão antártico, os petréis-gigantes retornam à mesma colônia onde nasceram. Para os biólogos, essa é uma vantagem para o estudo da espécie. Uma vez identificado e marcado, um indivíduo pode ter sua vida estudada por vários anos.
Nos verões antárticos de 2011/2012 e 2012/2013, Colabuono coletou amostras de sangue de 113 indivíduos e constatou a presença de contaminantes orgânicos como bifenilos policlorados (PCBs), hexaclorobenzeno (HCB), pentaclorobenzeno (PeCB), diclorodifeniltricloroetano (DDTs) e derivados, o pesticida clordano (banido nos Estados Unidos em 1988) e o formicida Mirex (banido nos Estados Unidos em 1978 e recentemente no Brasil).
Segundo Colabuono, todos esses poluentes orgânicos são persistentes no meio ambiente, têm ação cancerígena, causam disfunção hormonal e problemas reprodutivos. Os resultados foram publicados num artigo em Environmental Pollution.
Colabuono afirma que, comparado aos níveis de contaminação nas aves do hemisfério norte, os níveis de contaminação detectados nas colônias de petreis na Península Antártica ainda são baixos. O objetivo agora é monitorá-los no longo prazo, para se “ter um indicativo da tendência de aumento ou decréscimo desses contaminantes ao longo dos anos no ambiente em que estas aves vivem”, diz a bióloga.
Cadeia de contaminação
O DDT é transportado pelo ar e pela chuva. Uma vez em rios e lagos, se acumula na cadeia alimentar. Os insetos contaminados são comidos por peixes e estes por outros predadores. Em cada patamar da cadeia alimentar o nível de acúmulo de DDT nos tecidos aumenta.
Seus efeitos nocivos se tornam mais visíveis quando se atinge o ápice da cadeia, nos predadores de topo. O petrel-gigante é um deles. Ele se alimenta de peixes, lulas e até de carcaças de outras aves. Ou seja, no trajeto de uma longa vida, ao comer centenas de quilos de peixes contaminados, a quantidade de contaminantes nos tecidos do petrel sempre aumenta.
Foi o que aconteceu nos Estados Unidos com os falcões-peregrinos e os condores da Califórnia. Nos anos 1960, suas populações começaram a declinar dramaticamente. Os condores chegaram a contar apenas umas poucas centenas de indivíduos. Estavam a um passo da completa extinção.
Foi quando se descobriu o papel do DDT naquela tragédia. Ao se acumular no corpo das fêmeas adultas, o DDT era repassado à casca de seus ovos, que se tornavam finas e frágeis, partindo com grande frequência. A reprodução da espécie estava ameaçada. Em 1972, a produção, comercialização e o uso do DDT foram banidos nos Estados Unidos. Com o tempo, as populações de falcões e condores começaram a se recuperar.
O Brasil é atualmente o maior consumidor mundial de agrotóxicos. O uso proibido do DDT foi proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas em 2009 – mas, como ele persiste no meio ambiente, sua presença ainda é detectada nos tecidos de animais como o petrel. A preocupação de Colabuono em acompanhar a vida de seus petréis-gigantes tem fundamento.
O artigo de Fernanda I. Colabuono, Stacy S. Vander Pol, Kevin M. Huncik, Satie Taniguchi, Maria V. Petry, John R. Kucklick, Rosalinda C. Montone, Persistent organic pollutants in blood samples of Southern Giant Petrels (Macronectes giganteus) from the South Shetland Islands, Antarctica, publicado em Environmental Pollution, pode ser acessado aqui(Agência Fapesp/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Um atlas de nossa agricultura envenenada


Professora da USP produz primeira série de mapas sobre uso, abuso e tragédias relacionadas aos agrotóxicos no Brasil. Dados demonstram: alternativa é rever modelo baseado no agronegócio.

Os mapas produzidos por Larissa Mies Bombardi são chocantes. Quando você acha que já chegou ao fundo do poço, a professora de Geografia Agrária da USP passa para o mapa seguinte. E, acredite, o que era ruim fica pior. Mortes por intoxicação, mortes por suicídio, outras intoxicações causadas pelos agrotóxicos no Brasil. A pesquisadora reuniu os dados sobre os venenos agrícolas em uma sequência cartográfica que dá dimensão complexa a um problema pouco debatido no país.
Ver os mapas, porém, não é enxergar o todo: o Brasil tem um antigo problema de subnotificação de intoxicação por agrotóxicos. Muitas pessoas não chegam a procurar o Sistema Único de Saúde (SUS); muitos profissionais ignoram os sintomas provocados pelos venenos, que muitas vezes se confundem com doenças corriqueiras. Nos cálculos de quem atua na área, se tivemos 25 mil pessoas atingidas entre 2007 e 2014, multiplica-se o número por 50 e chega-se mais próximo da realidade: 1,25 milhão de casos em sete anos.
Além disso, Larissa leva em conta os registros do ministério da Saúde para enfermidades agudas, ou seja, aquelas direta e imediatamente conectadas aos agrotóxicos. As doenças crônicas, aquelas provocadas por anos e anos de exposição aos venenos, entre as quais o câncer, ficam de fora dos cálculos. “Esses dados mostram apenas a ponta do iceberg”, diz ela.
Ainda assim, são chocantes. O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, posto roubado dos Estados Unidos na década passada e ao qual seguimos aferrados com unhas e dentes. A cada brasileiro cabe uma média de 5,2 litros de venenos por ano, o equivalente a duas garrafas e meia de refrigerante, ou a 14 latas de cerveja.
Em breve, todo o material reunido por Larissa será público. O livro Geografia sobre o uso de agrotóxicos no Brasil é uma espécie de atlas sobre o tema, com previsão de lançamento para o segundo semestre. Será um desenvolvimento do Pequeno Ensaio Cartográfico Sobre o Uso de Agrotóxicos no Brasil, já lançado este ano, com dados atualizados e mais detalhados. No período abrangido pela pesquisa, 2007-2014, foram 1.186 mortes diretamente relacionadas aos venenos. Ou uma a cada dois dias e meio:
– Isso é inaceitável. Num pacto de civilidade, que já era hora de termos, como a gente fala com tanta tranquilidade em avanço de agronegócio, de permitir pulverização aérea, se é diante desse quadro que a gente está vivendo? – indaga a professora, em entrevista nesta quarta-feira (28/06) ao De Olho nos Ruralistas.
Agrotóxicos11

O papel do agronegócio
Larissa fala de agronegócio porque é exatamente esse modelo o principal responsável pelas pulverizações. Os mapas mostram que a concentração dos casos de intoxicação coincide com as regiões onde estão as principais culturas do agronegócio no Brasil, como a soja, o milho e a cana de açúcar no Centro-Oeste, Sul e Sudeste. No Nordeste, por exemplo, a fruticultura. A divisão por Unidades da Federação e até por municípios comprovam com exatidão essa conexão.
A pesquisadora compara a relação dos brasileiros com agrotóxicos à maneira como os moradores dos Estados Unidos lidam com as armas: aceitamos correr um risco enorme. Quando se olha para um dos mapas, salta à vista a proporção entre suicídio e agrotóxicos. Em parte, explica Larissa, isso se deve ao fato de que estes casos são inescapavelmente registrados pelos órgãos públicos, ao passo que outros tipos de ocorrências escapam com mais facilidade. Mas, ainda assim, não é possível desconsiderar a maneira como distúrbios neurológicos são criados pelo uso intensivo dos chamados “defensivos agrícolas”, termo que a indústria utiliza para tentar atenuar os efeitos negativos das substâncias.
Soja, milho e cana, nesta ordem, comandam as aplicações. Uma relação exposta no mapa, que mostra um grande cinturão de intoxicações no centro-sul do país. São Paulo e Paraná aparecem em destaque em qualquer dos mapas, mas a professora adverte que não se pode desconsiderar a subnotificação no Mato Grosso, celeiro do agronegócio no século 21.
Agrotóxicos2

O veneno está na cidade
A conversa com o De Olho nos Ruralistas – durante gravação do piloto de um programa de TV pela internet – se deu em meio a algumas circunstâncias pouco alvissareiras para quem atua na área. Há alguns dias, a Rede Globo tem veiculado em um de seus espaços mais nobres, o intervalo do Jornal Nacional, uma campanha em favor do “agro”. Os vídeos institucionais têm um tom raríssimo na emissora da família Marinho, com defesa rasgada dos produtores rurais de grande porte.
“Querem substituir a ideia do latifúndio como atraso”, resume Larissa. Ela recorda que, além do tema dos agrotóxicos, o agronegócio é o responsável por trabalho escravo e desmatamento. E questiona a transformação do setor agroexportador em modelo de nação. “A alternativa que almejaríamos seria a construção de uma outra sociedade em que esse tipo de insumo não fosse utilizado. Almejamos uma agricultura agroecológica com base em uma ampla reforma agrária que revolucione essa forma de estar na sociedade.”
No mesmo dia da entrevista, o Diário Oficial da União trouxe a sanção, pelo presidente provisório, Michel Temer, da Lei 13.301. Em meio a uma série de iniciativas de combate à dengue e à zika, a legislação traz a autorização para que se realize pulverização aérea de venenos em cidades, sob o pretexto de combate ao mosquito Aedes aegypti. A medida recebeu parecer contrário do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, posição que foi ignorada por Temer.
Larissa considera que a medida representa um grande retrocesso e demonstra preocupação pelo fato de a realidade exposta em seus mapas ser elevada a potências ainda desconhecidas quando se transfere um problema rural para as cidades. “O agrotóxico se dispersa pelo ar, vai contaminar o solo, vai contaminar a água. O agrotóxico não desaparece. Ao contrário, ele permanece.” Em outras palavras: o veneno voa e mergulha. Alastra-se. E tem longa duração.
Agrotóxicos3

(Outras Palavras/ #Envolverde/Utopia Sustentável)
João Peres é jornalista e autor do livro-reportagem “Corumbiara, caso enterrado”.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Aumenta a campanha contra o glifosato em cultivos latino-americanos




A fumigação de cultivos ilícitos com glifosato prejudicou o ambiente da selva colombiana. Foto: Domínio público
A fumigação de cultivos ilícitos com glifosato prejudicou o ambiente da selva colombiana. Foto: Domínio público

Após o pronunciamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre os efeitos “provavelmente cancerígenos” do glifosato, intensifica-se a campanha na América Latina para proibir, “antes que seja tarde”, esse herbicida, o mais vendido na região e usado maciçamente nos cultivos transgênicos.
Em uma publicação do dia 20 de março, os cientistas da Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer, da OMS, incluíram o herbicida mais usado no mundo como “provável” causa da doença, como resultado de numerosos estudos. Com esse informe, organizações sociais e científicas latino-americanas consideram que os governos não têm mais desculpas para não intervir, depois de anos de investigação sobre o dano à saúde e ao ambiente do glifosato em níveis regional e mundial.
“Acreditamos que se deve aplicar o princípio de precaução, evitar continuar acumulando informação de pesquisas, e tomar decisões que não cheguem muito tarde”, afirmou à IPS Javier Souza, coordenador da Rede de Ação em Praguicidas e suas Alternativas na América Latina (Rap-AL). “Defendemos a proibição do glifosato que deveria começar no curto prazo com restrições à compra, suas aplicações e embalagens”, explicou Souza, também responsável pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias Apropriadas da Argentina.
Carlos Vicente, dirigente da Grain, organização internacional que promove a atividade camponesa e a agricultura sustentável, recordou à IPS que o herbicida entrou no mercado em meados da década de 1970 e se estendeu maciçamente pelo Cone Sul americano, promovido pela corporação de biotecnologia Monsanto, dos Estados Unidos. “Seu crescimento sustentado se deve em grande parte aos cultivos transgênicos, geneticamente modificados para tolerar o glifosato, como a soja RR (Roundup Ready), introduzida na Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e em outros países”, explicou.
A soja transgênica ocupa 50 milhões de hectares na região e em seu cultivo são usados 600 milhões anuais do herbicida, assegurou Vicente. No total, segundo dados de Souza, há 83 milhões de hectares de cultivos transgênicos apenas na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. A publicação da OMS “é muito importante por demonstrar que, apesar das pressões da Monsanto, é possível pensar em uma ciência independente a serviço do bem comum e não dos interesses corporativos”, assegurou Vicente.
A Monsanto vende o glifosato com a marca Roundup, mas também é comercializado sob os nomes Cosmoflux, Baundap, Glyphogan, Panzer, Potenza, Rango, e em alguns setores camponeses é conhecido como “randal”.
Além dos cultivos transgênicos, esse herbicida é aplicado em setores da agricultura tradicional, para hortaliças, tabaco, frutas e monocultivos florestais de pinho ou de eucalipto, bem como em jardins e outras áreas urbanas ou em vias férreas. Mas na agricultura tradicional é aplicado após a germinação das sementes e antes de plantar, enquanto nos transgênicos se aplica durante a plantação, atuando de forma não seletiva e assim destruindo variedade de plantas e pastos, segundo a Rap-Al.
Os habitantes de Malvinas Argentinas, povoado da província de Córdoba, na Argentina, mantêm bloqueada desde 2013 a construção da fábrica de sementes de milho transgênico da corporação Monsanto, em uma longa mobilização contra alegados efeitos nocivos para a população e o ambiente. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS
Os habitantes de Malvinas Argentinas, povoado da província de Córdoba, na Argentina, mantêm bloqueada desde 2013 a construção da fábrica de sementes de milho transgênico da corporação Monsanto, em uma longa mobilização contra alegados efeitos nocivos para a população e o ambiente. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS

“Essa chuva de glifosato impacta diretamente os ecossistemas, as comunidades, o solo e a água, com consequências que já não é possível esconder”, destacou Vicente. “Não podemos admitir mais o uso desses venenos porque destroem a biodiversidade, causando alterações climáticas, acabando com a fertilidade do solo, contaminando as águas e inclusive o ar. E, sobretudo, provocam mais doenças e câncer”, enfatizou à IPS o dirigente do Movimento dos Sem-Terra, do Brasil, João Pedro Stédile.
O argentino Rafael Lajmanovich, especialista em ecotoxicologia, da Universidade Nacional do Litoral, investigou amplamente o glifosato. “Embora não se referira à saúde ou carcinogênese humana, demonstra em modelos animais (embriões de anfíbios) que o glifosato é teratogênico, isto é, produz más-formações durante o desenvolvimento desses vertebrados”, destacou à IPS.
“Além disso, nesses modelos, comprovamos que ocorrem efeitos sobre a atividade de sistemas enzimáticos muito importantes (colinesterasas), o que indica certo grau de neurotoxidade”, acrescentou Lajmanovich, também integrante do governamental Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas.
Estudos epidemiológicos indicaram efeitos em comunidades afetadas por pulverizações de glifosato. “As principais afecções que cientistas e médicos rurais vinculam a essas aplicações se referem especificamente a doenças respiratórias, alergias, abortos espontâneos, aumento do caso de bebês com más-formações e maior incidência de doenças tumorais”, detalhou Lajmanovich.
Vicente, por sua vez, destacou que há pesquisas aplicadas em vários países latino-americanos, que vão na direção da OMS. Na Argentina, por exemplo, estudos realizados nas províncias de Rosário e Córdoba “testemunham claramente o aumento dos casos de câncer, que em certas situações chegam a triplicar ou quintuplicar a média nacional”.
Outro exemplo: na Colômbia, o informe Glifosato, Prontuário de Um Praguicida, elaborado pela Rap-AL, as fumigações com Roundup em grandes áreas para erradicar cultivos de coca e papoula causaram incidentes de envenenamento em mais de quatro mil pessoas e animais. Esse estudo inclui casos de intoxicação no Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.
Souza criticou o fato de na América Latina o herbicida ser vendido sem restrições em lojas de forragens, agroquímicos, ferragens e comércios semelhantes, muitas vezes “fracionado e em embalagens de refrigerante”. Stédile, também integrante da organização internacional Via Camponesa, espera que essa região e também a Europa proíbam sua aplicação agrícola, como fez a Holanda.
Ele propôs como alternativa “uma produção agroecológica, que combine o conhecimento científico com a sabedoria milenar dos camponeses, para desenvolver cultivos sem uso de venenos, adequados a cada bioma”. Essa metodologia aumentou “a produtividade do solo e do trabalho, melhor do que as práticas que utilizam venenos”, afirmou.
Vicente reforçou que não se trata de substituir o glifosato por novos herbicidas, vários ainda mais tóxicos, “mas de mudar para um modelo de agricultura agroecológica de base camponesa, que se oriente para a soberania alimentar de nossos povos”.
Para Stédile, os governos sul-americanos mantêm o apoio à agricultura transgênica, apesar das evidências dos danos sanitários e ambientais, porque pensam que “o agronegócio pode ajudar a economia aumentando as exportações decommodities (matérias-primas), contribuindo para o desequilíbrio de suas balanças comerciais”. Essa “ilusão das exportações” impede os governos de enfrentarem o que qualificou de “verdadeiro genocídio”, lamentou.
Vicente pediu que, agora que a OMS ratifica investigações regionais, isso “se reflita em medidas concretas” governamentais.
Em um comunicado a Monsanto criticou o informe dos cientistas da OMS como “ciência lixo” e pediu uma retificação do órgão, ao que os cientistas recordaram que sua indicação é que o glifosato é “provável” cancerígeno, e não dando isso como certo. A companhia considerou que é “incompatível” com décadas de “contínuos exames exaustivos de segurança” realizados sobre o glifosato por “autoridades reguladoras de líderes de todo o mundo, que o qualificaram de seguro para a saúde humana”.
Para Lajmanovich, a posição de uma empresa “não pode prevalecer sobre a de uma instituição internacional de reconhecido prestígio e reitora do cuidado da saúde mundial como a OMS”. Também recordou que a Monsanto considerava os informes da OMS como “boa ciência” quando apontavam que o glifosato era “inócuo”.
Consumo de glifosato no Cone Sul
O Brasil é, desde 2008, o maior consumidor mundial por pessoa de pesticidas e absorve 20% de sua demanda mundial. O glifosato representa quase 40% de suas aplicações.
A Argentina consumiu, em 2011, 238 milhões de litros de glifosato, aumento de 1.190% em relação a 1996, quando o país começou a produzir soja transgênica.
No Paraguai, sexto produtor mundial de soja transgênica, foram aplicados mais de 13 milhões de litros de glifosato em 2007.
No Uruguai, onde também avança esse cultivo transgênico, foram aplicados em 2012 pelo menos de 12 milhões de litros. (Fonte: Grain) Envolverde/IPS/Utopia Sustentável

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O nebuloso cenário dos agrotóxicos no Brasil




agrotoxicos1 300x214 O nebuloso cenário dos agrotóxicos no Brasil
Foto: Divulgação
“Ainda há muita informação a ser gerada para que consigamos ter uma posição mais assertiva sobre a condição do meio ambiente em relação à contaminação por agrotóxicos no Brasil”, adverte o engenheiro agrônomo Robson Barizon.
Apesar de o Brasil ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2008, é preciso “gerar muito mais informação para entender como está o cenário de uso de agrotóxicos no país”, diz Robson Barizon, um dos autores do estudo “Panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil: cenário 1992/2011”, realizado pela Embrapa neste ano. Segundo ele, ainda são produzidas poucas pesquisas em relação às implicações do uso de fertilizantes na agricultura.
“A restrição orçamentária talvez seja o principal ponto a ser desenvolvido, porque ainda não temos programas de monitoramento, como seria o ideal. Todos os estados deveriam ter um programa de monitoramento, considerando suas culturas e as moléculas mais utilizadas na região, e a partir das conclusões dos monitoramentos regionais/estaduais, deveriam ser tomadas as medidas para mitigar os impactos levantados por esses monitoramentos”, pontua, em entrevista por telefone à IHU On-Line.
Entre as preocupações envolvendo o uso de agrotóxicos no país, Barizon chama a atenção para a contaminação da água, “já que a falta de saneamento de esgoto é um problema sério no Brasil. Esse esgoto tem níveis altos de nitrato, além de outros problemas microbiológicos, e níveis altos de nitrogênio. Em pontos próximos às áreas urbanas, é possível observar níveis maiores de nitrogênio, mas em bacias hidrográficas, onde a influência maior é só da área agrícola, os níveis de nitrogênio ainda são considerados baixos. Tendo a agricultura como fonte de contaminação, ainda não constatamos um problema que leve a ações maiores”. Entre as culturas que contaminam a água, está a produção de arroz irrigado. “Pelo fato de o arroz irrigado ser produzido com lâmina d’água, a qual retorna aos corpos d’água, existe, sim, um risco maior de contaminação nessa cultura do que em outras. Isso foi constatado em alguns estudos que nós levantamos. Então, nesse sentido, há, sim, uma preocupação com a cultura do arroz e deve ser dada mais atenção ao manejo desse produto”, adverte.
Robson Barizon é graduado em Engenharia Agrônoma pela Universidade Federal do Paraná – UFPR e doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é pesquisador da Embrapa Meio Ambiente de São Paulo.
Confira a entrevista:
IHU On-Line – Quais são as principais conclusões do estudo sobre contaminação por agrotóxicos no Brasil, intitulado “Panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil: cenário 1992/2011”? É possível dar um parecer sobre o uso de agrotóxico nas regiões analisadas? Os níveis de uso de agrotóxicos são aceitáveis ou ultrapassam o limite permitido?
Robson Barizon – A principal conclusão a que chegamos com esse trabalho foi a de que ainda há muita informação a ser gerada para que consigamos ter uma posição mais assertiva sobre a condição do meio ambiente em relação à contaminação por agrotóxicos no Brasil.
Pelos trabalhos que conseguimos levantar [1], os níveis de resíduos ainda são considerados aceitáveis e estão de acordo com os padrões internacionais estabelecidos. De todo modo, não foi possível uma conclusão assertiva sobre o panorama do uso de agrotóxicos no país, considerando a quantidade restrita de trabalhos encontrados sobre o tema.
IHU On-Line – Quais são os avanços em relação à análise da toxicologia dos agrotóxicos?
Robson Barizon – A ciência e os métodos estão avançando, inclusive a sensibilidade analítica dos equipamentos está evoluindo com o tempo. Então, moléculas que antes não eram detectadas passam a ser detectadas com métodos mais modernos e com equipamentos mais sensíveis.
IHU On-Line – Um dos objetivos do estudo foi identificar e avaliar o cenário de uso e presença de agrotóxicos e fertilizantes nitrogenados no Brasil. Quais são as principais constatações acerca desse ponto? Quais as ocorrências de agrotóxicos e de nitrato nas cinco regiões brasileiras analisadas e em quais culturas esse fertilizante é utilizado?
Robson Barizon – Hoje a produção agrícola brasileira é quase que completamente pautada pelo uso desse insumo. Nesse trabalho não foi abordada a intensidade de uso de cada uma das culturas produzidas no Brasil, mas de forma geral podemos dizer que os grãos utilizam agrotóxicos em uma intensidade menor, e culturas com valor agregado maior, como hortaliças e espécies frutíferas, usam agrotóxicos com uma intensidade maior.
Com relação ao nitrato, os níveis encontrados em áreas agrícolas foram baixos e não eram preocupantes. Talvez a preocupação maior seja realmente com a fonte urbana de contaminação, que é o esgoto não tratado. Então, no que se refere ao nitrato, há tensão com a fonte urbana de contaminação, já que a falta de saneamento de esgoto é um problema sério no Brasil.
IHU On-Line – Então o problema não está na quantidade de nitrato utilizado nas culturas agrícolas, mas na falta de tratamento da água?
Robson Barizon – Sim, porque como os esgotos no Brasil têm um percentual de tratamento muito baixo, uma parte do esgoto gerado é lançada diretamente nos rios. Esse esgoto tem níveis altos de nitrato, além de outros problemas microbiológicos, e níveis altos de nitrogênio. Em pontos próximos às áreas urbanas, é possível observar níveis maiores de nitrogênio, mas em bacias hidrográficas, onde a influência maior é da área agrícola, os níveis de nitrogênio ainda são considerados baixos. Tendo a agricultura como fonte de contaminação, ainda não constatamos um problema que leve a ações maiores.
IHU On-Line – Quais são as principais observações a serem feitas em relação ao uso de agrotóxicos na cultura de arroz, por exemplo, no RS? Há risco de contaminação dos corpos d’água que recebem a água da lavoura?
Robson Barizon – Pelo fato de o arroz irrigado ser produzido com lâmina d’água, a qual retorna aos corpos d’água, existe, sim, um risco maior de contaminação nessa cultura do que em outras. Isso foi constatado em alguns estudos que nós levantamos. Então, nesse sentido, há, sim, uma preocupação com a cultura do arroz e deve ser dada mais atenção ao manejo desse produto.
IHU On-Line – É alto o índice de uso de agrotóxicos na produção de arroz?
Robson Barizon – É alto, sim, o índice de uso de agrotóxico nessa cultura. Mas nós só incluímos na pesquisa os trabalhos que encontramos, os quais já mostram que existe um potencial de contaminação. Existem algumas iniciativas do Estado do Rio Grande do Sul para acompanhar a situação, porque realmente é necessário, uma vez que existe um uso intensivo de agrotóxicos na produção de arroz e a água utilizada para a irrigação retorna aos rios, aos corpos d’água.
IHU On-Line – O estudo aponta que na região Nordeste o uso de agrotóxicos é intenso por conta da produção de frutas para exportação. Quais são as frutas cultivadas a base de agrotóxicos? Nesse caso há um controle do uso de agrotóxico por conta da fiscalização do mercado externo?
Robson Barizon – A produção de frutas lá é praticamente feita de forma irrigada e basicamente é feita no Vale do Rio São Francisco. As principais culturas ali cultivadas são mamão, uva de mesa e melão. Só que nesse caso os níveis de agrotóxico são bastante controlados porque os países importadores têm normas rígidas de controle. Então, pelo menos nessas áreas existe um cuidado com o uso de agrotóxicos para que não ultrapassem os limites aceitáveis no fruto, porque os países que importam, geralmente países da Europa e do Hemisfério Norte, também fazem o controle.
IHU On-Line – Alguns aquíferos já apresentam indícios de contaminação por conta do uso de agrotóxicos? A pesquisa menciona uma preocupação com os aquíferos de Serra Grande e Poti-Piauí, no Piauí?
Robson Barizon – Nesse caso nós levantamos a informação e o cuidado preventivo que deve existir com esses aquíferos. Muitos aquíferos estão protegidos por uma camada de rocha impermeável, que funciona como uma barreira, mas os de Serra Grande e Poti-Piauí são aquíferos livres, ou seja, eles chegam até a superfície do solo, então o potencial de contaminação deles é alto. Porém, isso não quer dizer que eles já estejam contaminados. Nas áreas desses aquíferos existe o uso de agrotóxicos, mas apenas o uso não indica que haja contaminação, porque se podem selecionar moléculas — essa é uma das formas de se evitar a contaminação — que tenham menor solubilidade em água.
Existe uma variedade muito grande de moléculas, de propriedades físico-químicas de moléculas. Se, nessas situações, forem selecionadas moléculas que não sejam muito solúveis em água, que não vão ser transportadas junto com a água, que vão ficar retidas na superfície do solo, onde se precisa fazer o controle do fungo, da planta daninha, do inseto, então o risco de contaminação é bastante reduzido. Portanto, trata-se mais de um alerta para que sejam tomadas medidas de prevenção em relação aos aquíferos. No Brasil ainda não há indicativo de que qualquer aquífero esteja contaminado.
IHU On-Line – Na região Centro-Oeste, chama a atenção na pesquisa a redução entre 40 e 50% dos teores de matéria orgânica dos solos cultivados em relação aos solos virgens. Quais as implicações do uso de agrotóxico para o solo?
Robson Barizon – Principalmente onde a vegetação natural era mata, com grande porte de biomassa, quando foi feita a retirada dessa mata e foi introduzida a atividade agrícola, os níveis de material orgânico diminuíram. Isso aconteceu no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, quando se reduziu a Mata Atlântica para a expansão da agricultura, ou seja, os níveis de carbono foram reduzidos. Como um dos mecanismos de retenção dos agrotóxicos do solo é a retenção pela matéria orgânica, se o nível de matéria orgânica é reduzido, a retenção é menor.
O plantio direto, que foi adotado a partir da década de 1990 e se expandiu no Brasil, vai no caminho contrário; ele aumenta novamente os níveis de carbono. Então, medidas como essa, utilizadas na agricultura onde houve decréscimo dos níveis de matéria orgânica de carbono, possibilitam que se atinjam novamente os níveis iniciais de matéria orgânica ou, pelo menos, que se elevem esses níveis.
IHU On-Line – Como tem se dado o processo de recolhimento das embalagens de agrotóxicos? Qual a situação do Brasil em relação à logística reversa?
Robson Barizon – Esse é um motivo de orgulho para o Brasil, porque o país é referência mundial em logística reversa. Foi criado o Instituto para o Desenvolvimento Social e Ecológico – Idese, o órgão responsável pela organização e execução dessa atividade. O Brasil recolhe acima de 80, 90% das embalagens e é o líder mundial nesse quesito, ou seja, é o país que consegue recolher o maior índice de embalagens de agrotóxicos que, se ficarem na propriedade, no campo, têm um potencial alto de contaminação tanto para o trabalhador quanto para o meio ambiente.
IHU On-Line – Na pesquisa vocês mencionam que apesar de o uso de agrotóxico ter crescido consideravelmente no país, ainda há pouca pesquisa sobre o assunto. Quais as razões? E que tipo de estudo e monitoramento deveria ser feito para se ter um panorama do uso de agrotóxicos no país?
Robson Barizon – Esse é um processo lento e gradual. A legislação que trata da regulamentação do uso de agrotóxicos no Brasil tem avançado, inclusive nos últimos 20 anos. Mas o acompanhamento acerca do uso de agrotóxicos exige investimento, porque são análises caras. Então, a restrição orçamentária talvez seja o principal ponto a ser desenvolvido, porque ainda não temos programas de monitoramento, como seria o ideal.
Todos os estados deveriam ter um programa de monitoramento, considerando suas culturas e as moléculas mais utilizadas na região, e a partir das conclusões dos monitoramentos regionais/estaduais, deveriam ser tomadas as medidas para mitigar os impactos levantados por esses monitoramentos.
IHU On-Line – Qual é a alternativa aos agrotóxicos? É possível pensar no desenvolvimento agrícola sem o uso desses produtos?
Robson Barizon – Uma agricultura sem o uso de agrotóxicos não é possível; seria uma perspectiva utópica. Mas podemos avançar muito mais para reduzir o uso desses produtos. Nesse sentido, deve-se trabalhar em duas frentes: constatado o fato de que é preciso fazer uso dessa substância, então temos de controlá-la e monitorá-la; além disso, podemos fazer o uso racional dessas substâncias, utilizando-as somente quando for necessário.
Temos muito a avançar, por exemplo, no controle biológico, no uso de agentes biológicos para controlar outras pragas, quer dizer, se usa um inseto para controlar outro inseto, se usa um microrganismo para controlar outro inseto. Esse tipo de prática deveria ser mais estudado e desenvolvido no Brasil. Em relação à tecnologia de aplicação, é importante usar equipamentos com a regulagem correta para aquela condição de uso, para que se evitem perdas para a atmosfera, para que se evite a contaminação de áreas que não aquelas onde a lavoura está instalada. Então, há uma série de práticas que podem reduzir a quantidade de agrotóxico utilizada.
Hoje, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, tomando o posto que antes era ocupado pelos Estados Unidos, e a tendência é de alta. Então, todas essas medidas poderiam reverter essa tendência de aumento de consumo e trazer a agricultura brasileira para níveis mais sustentáveis.
NOTA
[1] O estudo “Panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil: cenário 1992/2011” foi realizado com base na análise de pesquisas acadêmicas sobre o uso de agrotóxicos no período de 1992 a 2011.* Publicado originalmente no site IHU On-Line.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Riscos dos agrotóxicos nos alimentos são abordados em novo filme de Silvio Tendler


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Documentário dá continuidade à reflexão sobre o perigo que o uso de agrotóxicos representa para a saúde. Foto: Hannap
No país que mais consome agrotóxicos no mundo, há alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. É o que procura mostrar o filme O Veneno Está na Mesa 2, novo documentário do cineasta Silvio Tendler, lançado em 16 de abril, no Teatro Casa Grande, no Leblon, zona sul do Rio.
O documentário dá continuidade à reflexão sobre o perigo que o uso de agrotóxicos representa para a saúde, mostrada no primeiro documentário de Tendler sobre o tema, com o mesmo título e lançado em 2011. Com 70 minutos de duração, O Veneno Está na Mesa 2avança na desconstrução do mito de que a utilização dos defensivos agrícolas é indispensável para garantir abundância de alimentos na mesa do consumidor.
Os dois documentários fazem parte de uma estratégia de ação da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, iniciativa que reúne movimentos sociais e entidades no objetivo comum de sensibilizar a população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam.
A partir daí, a ideia é propor medidas para frear seu uso no Brasil. “O povo brasileiro não pode mais engolir essa história de que o agrotóxico é a modernidade no campo. Ele gera câncer, trabalho escravo e manda todo seu lucro para o exterior”, alerta Alan Tygel, um dos coordenadores da campanha.
Alternativa viável
A produção do filme contou com o apoio da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), que vem desenvolvendo iniciativas para que a produção de alimentos sem veneno se torne uma alternativa viável. De acordo com o diretor Silvio Tendler, não há sentido em se construir uma economia baseada na destruição da natureza.
“A agroecologia é fundamental como forma de produção econômica, social e de desenvolvimento. No filme eu mostro pessoas que plantam e cultivam de forma sadia e também as dificuldades que elas enfrentam para a comercialização dos alimentos que produzem”, destacou o cineasta.
A exemplo do primeiro documentário da série, visto por mais de um milhão de pessoas, O Veneno Está na Mesa 2 será distribuído gratuitamente para um circuito alternativo de exibição. Escolas, universidades, comunidades, igrejas, assentamentos de trabalhadores rurais e outros locais integram esse circuito, coordenado pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida.** Publicado originalmente no site Agência Brasil.

quinta-feira, 27 de março de 2014

A possível cidade sem agrotóxicos



FeiraMage CarolinaAmorim 61 A possível cidade sem agrotóxicos
No Rio, produtores familiares vencem preconceitos, organizam feiras orgânicas e revelam que, mesmo nas metrópoles, outra agricultura é possível
Alimentar mais de 11 milhões de habitantes da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro (RMRJ)2 é uma empreitada complexa e desafiadora. A segunda maior área metropolitana do Brasil, também conhecida como Grande Rio, é formada por 19 municípios3. A região foi estabelecida por meio de decreto (Lei Complementar Federal nº 20) em 1º de julho de 1974, após a fusão entre os antigos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara. Em 2014, a lei completará quarenta anos, e a data é oportuna para pensar o lugar da Agricultura Familiar na cidade, quais estratégias estão em desenvolvimento para abastecer a população com alimentos locais e saudáveis.
De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, a região possui cerca de cinco mil empreendimentos familiares com atividade agrícola. Entretanto, a busca de alternativas ao atual modelo de produção e consumo, baseado na agricultura convencional, com uso intensivo de agrotóxicos, tem mobilizado uma rede de pessoas interessadas em repensar o abastecimento na cidade. Há um consistente exercício em estreitar os vínculos entre os cidadãos que plantam e os que consomem.
As iniciativas em curso, como a Feira da Roça de Nova Iguaçu e a Coopagé, são acompanhadas pelo Programa de Agricultura Urbana da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e são parte das ações desenvolvidas pelo Projeto Alimentos Saudáveis nos Mercados Locais com o Patrocínio da Petrobras por meio do Programa Desenvolvimento & Cidadania. Estas iniciativas buscam criar espaços comuns de convivência, comercialização e aprendizado. As feiras agroecológicas têm se constituído um ambiente oportuno por mediar a relação entre agricultores e consumidores. Estratégias denominadas de “circuitos curtos de comercialização”, “mercados de proximidade”, “sistemas regionais de alimentos” e “redes agroalimentares alternativas”, surgem como soluções para engajar os moradores do campo e da cidade, com o propósito de preservar um bem comum: o alimento.
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Desagriculturização
Na década de 1990, a RMRJ era líder no Estado em área plantada e produção. O processo de urbanização desordenado encolheu as áreas destinadas às lavouras, apesar de ainda persistir um contingente expressivo de agricultores, responsáveis pela produção de grande parte de legumes, verduras, raízes, tubérculos e frutíferos. De 1970 a 2006, a utilização de terras produtivas em todo o estado fluminense passou de 629 mil a 349 mil hectares, reduzindo-se quase à metade4. O pesquisador Paulo Alentejano5 enumera alguns indicadores do fenômeno chamado de desagriculturalização6: o esvaziamento do meio rural, a ampliação da concentração fundiária e a redução da importância da agricultura, seja em relação à produção, à área e, principalmente ao emprego.
A pesquisadora Juliana Arruda7, que estudou a agricultura urbana na Região Metropolitana, sugere que essa produção não é percebida pela população consumidora, principalmente em função da visão de que no estado não existe agricultura, e que todo o alimento é oriundo de outras regiões. Essa percepção é refletida no próprio planejamento da cidade, chamado de Plano Diretor, que é um instrumento básico da política de desenvolvimento dos municípios e estados. A função é orientar a atuação do poder público e da iniciativa privada na construção dos espaços urbano e rural. Com a intensa urbanização, os planos de alguns municípios excluíram a zona rural do documento, acarretando ainda mais dificuldades para a manutenção da atividade agrícola.
OswaldoFeiraMage CarolinaAmorim 121 485x323 A possível cidade sem agrotóxicos
O município do Rio de Janeiro, por exemplo, é considerado integralmente urbano (Lei Municipal Complementar n. 111/2011). Com isso, a Agricultura Familiar enfrenta sérias dificuldades para escoar a produção em feiras, mercados e programas de compra institucional de alimentos, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); e obter certificações e financiamentos. Ora, se o entendimento, conforme o Plano Diretor, é de que não existe área rural, esses agricultores ficam impossibilitados de exercer sua atividade plenamente. “É preciso repensar o papel que a agricultura cumpre nos municípios da RMJR, pois esta visão se reflete nos planos diretores”, explica Marcio Mendonça, coordenador do Programa de Agricultura Urbana, da AS-PTA.
Novos planos
Alguns municípios da RMRJ revisaram seus Planos Diretores e incluíram novamente a zona rural. Um dos casos é o de Nova Iguaçu. Em 1997, o município foi transformado em um único distrito, mantendo apenas uma pequena reserva verde. Segundo Mariela Rosa, engenheira agrônoma da Emater e coordenadora da Escolinha de Agroecologia de Nova Iguaçu, a justificativa dada pelo governo foi evitar a emancipação dos distritos, como aconteceu com Mesquita, Queimados e Japeri, que pertenciam a Nova Iguaçu. “Com essa mudança no final da década de 90 não foi possível investir mais na agricultura local, captar recursos financeiros e até obter transporte escolar para os alunos que residem no campo. Os agricultores também passaram a receber cobrança de IPTU”, explica Rosa. Ao invés de promover o desenvolvimento integrado, essas orientações reforçam a invisibilidade do trabalho e do trabalhador rural.
Em 2006, agricultores mobilizados junto aos movimentos sociais e organizações não-governamentais reivindicaram a alteração do zoneamento no plano. Durante os nove anos que se passaram, a Agricultura Familiar foi retirada do papel, mas permaneceu na terra, resistindo. Mariela afirma que ainda há muito trabalho a fazer no município. Uma das estratégias de (re)ocupação da cidade foi a criação da Feira da Roça, em 1999. É umainiciativa de organizações da sociedade civil, com envolvimento da Comissão Pastoral da Terra e do Fórum de Cooperativismo Popular de Nova Iguaçu. A Feira conta ainda com o apoio da Emater, Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu e da AS-PTA.
Durante os quinze anos de existência, a feira passou três anos sem funcionar e ainda enfrentou períodos conturbados, a cada mudança de governo. Por isso, a Associação da Feira da Roça de Nova Iguaçu (AFERNI) está agora pleiteando para a feira o título de Patrimônio Histórico do Município. Na Feira da roça, cerca de trinta famílias de agricultores e artesãos exibem uma fartura de alimentos e produtos. Tem jaca, jenipapo, castanha de sapucaia, açaí, carambola, acerola, pitomba, aipim, quiabo, abacaxi, pimentas, queijos, linguiças, remédios fitoterápicos, receitas variadas de bolos, sucos, doces e compotas, licores, vinagres, banana chips e tapioca Tudo de acordo com a época. A visita a essas feiras é uma maneira de o consumidor aprender a sazonalidade do alimento, e ver na prática que morangos não dão o ano inteiro – é preciso substituí-los pelos sabores da temporada. Este é o princípio de uma alimentação diversificada, em sintonia com o ciclo de plantio, mais saborosa, com preços mais acessíveis, e que fortalece a economia local. A Feira da Roça acontece às quartas-feiras, na Praça Rui Barbosa, no centro de Nova Iguaçu, das 8h às 17h.
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Ivonete da Silva e Silva, de 60 anos, cresceu acompanhando sua mãe que foi a fundadora da feira livre de Areia Branca, em Belford Roxo. Hoje, junto com o marido, cuida do sítio em Jaceruba, em Nova Iguaçu. Com satisfação, ela se apresenta como agricultora rural, e diz que antes de participar da Feira da Roça, ficava incomodada pela maneira que seu ofício é visto por boa parte da sociedade. “Tinha vontade de gritar que a agricultura existe, que é uma coisa maravilhosa, coisa de Deus. As pessoas vivem nesse mundo sem saber valorizar o agricultor rural. Chamam a gente de roceiro e de matuto, mas não sabem que temos a preocupação de manter o nosso sustento e de outras pessoas, com comida saudável, sem veneno”, afirma Ivonete. Ela espera que a atenção dada à Agricultura Familiar seja cada vez maior, por conta dos esforços dos próprios trabalhadores, organizados em cooperativas e associações, e apoio político. “Muitos ainda estão escondidos no meio do mato, que ninguém alcança. Espero que eles sejam alcançados e valorizados”, defende.
Caminho aplainado
O contexto de Magé se destaca pelo fato de o município possuir uma Secretaria de Agricultura Sustentável e um distrito agrícola, que é Rio d’Ouro. O município do Rio de Janeiro, por exemplo, não possui essa secretaria. A Feira da Agricultura Familiar teve início em 2012, com a participação de cerca de trinta agricultores, que se reúnem aos sábados no centro de Piabetá, das 8h às 13h. A visita à feira é estimulante: uma vitrine viva do que se encontra na região, como uma batata doce cor de cenoura e a tradicional batata doce roxa, taioba, inhame, cará, quiabo, jaca, acerola, e banana da terra. Palmito pupunha e açaí são culturas que têm ganhado espaço na região, devido às oportunidades de novos negócios.
Aloisio Sturm, secretário municipal de Agricultura, está há 46 anos em Magé e foi o primeiro agrônomo a chegar na área. “Boa parte da agricultura na região é familiar. A feira sempre foi um sonho. A nossa linha de atuação é unir forças”, explica o secretário, que está presente na feira semanalmente. O agricultor Oswaldo Francisco, primeiro tesoureiro da Cooperativa dos Pequenos Produtores Rurais e Agricultores Familiares do Município de Magé (Coopagé) conta que a feira estava no papel há vinte anos. “Minha paixão sempre foi a lavoura. Além de matar a minha fome, estou matando a dos outros também”, declara, e acrescenta que a feira é uma irmandade, por conectar a terra e a cidade.
Vendendo nas feiras, as mulheres acima dos quarenta são presença forte. Muitas vão com os esposos e filhos. Rosiane Maier, de 44 anos, gosta de comer o palmito que cultiva no seu sítio cozido ou assado, temperado com azeite e orégano, e aprecia a farofa de banana da terra, que colhe pessoalmente. Na feira, ela diz que aprende novidades, como a lidar com o público e apresentar os tesouros culinários de sua região. Ela explica que a lavoura é o meio de vida que lhe foi possível, mas tem paixão pelo que faz. “Não sou roceira, sou agricultora”, avisa.
Também encontramos os filhos dos agricultores, como Camila Takaki, de 21 anos, que ajuda na feira e participa das reuniões da Coopagé, quando não está estudando. “As pessoas que trabalham na agricultura não têm uma renda boa, por isso é importante o apoio das políticas públicas. Muitos estão buscando emprego no Rio e deixando a terra porque a parte financeira não é favorável, mas com incentivo, dá mais ânimo aos trabalhadores”, explica a jovem.
Há também idosos como o senhor Sebastião, de 78 anos, que passa o tempo na feira calado, descascando o aipim com as mãos, numa habilidade que chama a atenção. Para ele, a feira é o lugar certo para escoar sua produção. Rapidamente, Sebastião faz a conta: uma caixa de aipim custa de R$ 30 a R$ 40 para ser comercializada para a Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa). Na feira, ganha o dobro. Ele que também trabalha em feira livre, comenta que há muita concorrência, a mercadoria é desvalorizada e o alimento é tratado de qualquer maneira, diferente das feiras agroecológicas.
Para Márcio, da Associação Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA), a agricultura perirubana cumpre uma função importante na cidade. Muitos desistiram da lavoura, mas os que resistiram adotam estratégias de convivência entre o rural e o urbano. “Essas experiências indicam que existem novas regras de convivência para pensar o abastecimento. As feiras extrapolam as relações de mercado. Os consumidores têm a oportunidade de entender o que representa o trabalho no campo. Com isso, há a possibilidade do resgate da agricultura familiar e sua reinserção no plano da cidade”, justifica.
A agroecologia cultiva relacionamento, vínculo, afeto, cultura, direitos e renda. Quanto maior o incentivo, mais íntimos os cidadãos da Região Metropolitana ficarão de sua terra, de sua gente, de sua identidade. E quanto mais conhecerem, maior será o apetite para escolhas conscientes e autônomas. Por sua vez, mais consistência ganhará a rede de pessoas que poderão influir na tomada de decisões sobre o desafio de alimentar a metrópole.
2 Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
3Anuário Estatístico 2012, Fundação CEPERJ.
4Censo Agropecuário de 2006.
5 “Reforma agrária, território e desenvolvimento no Rio de Janeiro” (CPDA/UFRRJ, 2003).
6 RIBEIRO, Ana Maria Motta, PRATA Fº, Dario de Andrade de, PEREIRA, Mônica Cox de Britto & MADEIRA Fº, Wilson. Laudo multidisciplinar e termo de cooperação técnica para convivência harmoniosa de assentamentos rurais no entorno da Reserva Biológica de Poço das Antas. Niterói, Silva Jardim e Casemiro de Abreu: UFF/MMA/MDA, 2002.
7 Agricultura urbana na Região Metropolitana do Rio de Janeiro: sustentabilidade e repercussões na reprodução das famílias. Tese de doutorado. UFRRJ, 2011.
Juliana Dias é editora do site “Malagueta – palavras boas de se comer” (www.malaguetanews.com.br), mestre em Educação em Ciências e Saúde pelo NUTES/UFRJ, e doutoranda em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia, na UFRJ. Pesquisa sobre alimentação, cultura e sociedade, tendo como eixo as áreas da educação e comunicação. É co-líder da associação Slow Food, no Rio de Janeiro, e membro do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea-Rio).
** Publicado originalmente no site da Associação Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA): www.aspta.org.brno e retirado do site Outras Palavras.