domingo, 6 de novembro de 2016

Trump: será ele nosso salvador?



Desde a queda do muro de Berlim em 89 e o consequente efeito dominó sobre os países do bloco comunista, nosso planeta (sem outras opções) experimenta, com o fim da guerra fria e de dois modelos antagônicos de governança global, a supremacia do modelo sobrevivente, ou ainda não desmascarado oficialmente, o capitalismo.

De lá para cá, como se diz na gíria, o perverso modelinho nadou de braçada no oceano perverso da desigualdade mundial.  Agora, passados praticamente trinta anos desse debút, a humanidade vive uma de suas piores crises. Terrorismo, guerras, pobreza, fome em níveis jamais imaginados.  Sessenta e seis terráqueos possuem mais da metade da riqueza no mundo.  Empresas transnacionais maiores que mais de uma centena de países. E uma seleta minoria comandando a massa. É o planeta de pernas para o ar.

A Terra aquece a olhos vistos com catástrofes cada vez maiores em número e intensidade e organismos internacionais não conseguem persuadir os países ricos e emergentes a ceder em suas absurdas metas de desenvolvimento. Acordos pró-clima não refletem a urgência de medidas que o planeta necessita para sobreviver e o que assistimos é uma postergação eterna daquilo que deveria estar sendo implementado hoje. Caminhamos a passos largos para o abismo.

Continuamos surdos, intolerantes e não solidários com a eterna esquecida, doente e faminta, África.  Guerras estúpidas jogam ao mar a esperança de milhões de refugiados que, sem outra saída, buscam uma nova chance nos países do velho continente.  Esses, por sua vez pagam o preço por um capitalismo cada vez mais estúpido: acolhê-los.

Boko Haram e Estado Islâmico tocam, literalmente, o terror no planeta, transformando em califado ou teocracias sanguinárias países inteiros ou grandes extensões de terra no Oriente Médio.  É o Corão ao avesso. Nada que a Arábia Saudita não faça, mas essa, deixemos pra lá... é “Na$$ão” amiga.  E viva Alá. Palestinos e israelenses não conseguem se entender para a criação do Estado Palestino.  E lá vamos nós, descendo a ladeira.

Como uma onda conservadora a percorrer o planeta, partidos nazistas começam a ganhar espaço em vários parlamentos europeus.  É a xenofobia na ordem do dia. E viva a França de Madame Le Pen.


A América volta a ser Latrina com Temer e Macri encabeçando governos corruptos e nada transparentes.  Salve o Uruguai que, mesmo não sendo a Ilha de Fidel, tem o velho e carismático Mujica.  Ao menos teremos um país agradável para nos exilar quando o bicho da repressão pegar.

Tudo sob o comando magistral da mídia planetária que sob os versos batidos de imprensa livre nos aprisiona a todos receitando o que devemos ou não pensar e querer para nossas vidas. 

E aos trancos e solavancos vamos sobrevivendo com doses homeopáticas diárias de catástrofes mundo afora.  Se analisarmos o número de eventos (guerras, ataques terroristas e experiências políticas desastradas de governos) causados pelo avanço das desigualdades nos últimos trinta anos, comparados ao mesmo período anterior, veremos que houve substancial e assustador aumento do risco à vida e à sobrevivência da espécie humana no planeta Terra.  Fosse o planeta uma empresa, seus gestores seriam postos no olho da rua por má gestão de recursos públicos. 

Nas últimas décadas, com a habilidade costumeira e sem um contraponto a lhe confrontar, o capitalismo vem escapando das crises e se tornando mais perverso e concentrado.  Talvez pelos próprios mecanismos de defesa que não o deixam naufragar e desandar de vez, como ocorreu nos EUA quando da crise de 2009, onde foram gastos no mundo pelos países ricos quase 3 trilhões de dólares para estancar a crise iniciada pelo Lemon Brothers. Imaginemos se isso tivesse sido dispendido para diminuir a fome do planeta?

O ciclo temporal do modelo capitalista vigente, “crescimento-crise-resolução dos problemas-crescimento”, embora falido, é cômodo pois permite aqueles que o controlam no mundo o tempo necessário para, em épocas de crise, respirar e dar a volta por cima, nunca explodir.  Está na hora de o bicho homem compreender que não haverá futuro sem solidariedade, fraternidade e justiça entre nós.

Hoje, este modelo global de governança trata suas crises de forma pontual e paliativa, apesar da necessidade de uma guinada de 360 graus.  O receio da turma do dinheiro no planeta é que alguém possa ressaltar essas problemas com políticas isolacionistas e xenófobas, tirando o trem capitalista dos trilhos da globalização, o que, convenhamos, com o escroque Trump não é muito difícil de ocorrer.

Por isso o pavor quase planetário a ele, que é ruim praticamente em todos os temas e colocará em risco o que hoje, mesmo aqui e acolá, vem conseguindo se sustentar.  

Contrário à globalização, o magnata dono de hotéis e cassinos, não tem papas na língua nem vergonha em se expor, ao contrário, parte sempre para o ataque.  Tudo que diz soa tão falso como sua vasta cabeleira loira.  É racista, sexista e xenófobo, odeia imigrantes e prega a construção de um muro na fronteira mexicana para travar a imigração.

Entre suas pérolas, não teve pudor ao declarar que “ se Hillary não consegue satisfazer seu marido como vai satisfazer a América“.  Em outra oportunidade, mesmo estando em seu terceiro casamento, afirmou ser a favor do casamento tradicional, e é contra a união de pessoas do mesmo sexo. Disse acreditar, ainda, que a juventude negra do país não tem espírito.

Para Obama, Trump não é preparado para ocupar a cadeira presidencial, não tem o temperamento e os valores fundamentais da inclusão para fazer da América um país de oportunidades iguais. Além de ser um desqualificado.  Já Clinton disse que ele tem tendências ditatoriais.

Por tudo isso Trump tem a possibilidade de agudizar de maneira irreversível os problemas do planeta, jogar sal nas feridas, um mal a testar as estruturas. Que alianças fará? Que guerras entrará, ou provocará? Que medidas adotará contra o aquecimento?  E a questão do Estado Palestino, como se comportará? Drogas? Terrorismo? Síria, Iraque, Coreia do Norte e suas bombinhas? Controlará a mídia? E Institutos de pesquisa? Cuba?

Não devemos torcer para o quanto pior melhor, mas a crença é que o planeta talvez precise dar uma boa sacolejada. E o andar de cima acreditar ser inútil acumular se não houver planeta para gastar.  

E, parafraseando Caetano: será Trump o avesso do avesso do avesso do avesso, o nosso libertador?  

A conferir.  Enquanto isso, é bom começarmos a procurar outra galáxia para viver.

Abraços Sustentáveis
Odilon de Barros




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