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segunda-feira, 30 de março de 2015

Rio de Janeiro ganha primeiro clube de consumidores de alimentos orgânicos




clube-organicoO primeiro clube de consumidores de alimentos orgânicos ganha espaço no Rio de Janeiro, a partir de uma ideia simples de dois publicitários, que reúnem um grupo de pessoas para receber produtos orgânicos sob demanda, direto dos produtores. Os participantes pagam uma mensalidade e em troca são ofertadas cestas semanais para cada integrante. Ao trazer a iniciativa para a capital fluminense, Victor Piranda, 28 anos, e Eduardo Boorhem, 27 anos, tinham como objetivo conectar consumidores e produtores e democratizar o acesso aos alimentos orgânicos no estado.
Piranda explica que a empreitada iniciada com o amigo de infância e de faculdade surgiu do desejo comum de trabalhar para a transformação social e sustentabilidade do planeta. “Sabemos que existe grande demanda por alimentos orgânicos, mas há dificuldade de encontrá-los, nem sempre estão em bom estado e geralmente são caros”, destaca à Agência Brasil.
“O Clube Orgânico é um projeto de economia colaborativa, queremos garantir remuneração justa ao produtor, para que ele possa trabalhar com segurança e oferecer produtos de qualidade por preços justos”, acrescenta. Ele ressalta que os associados assumem o compromisso de permanecer no clube por pelo menos um ano, de modo a garantir a sustentabilidade da produção.
“A ideia não é só entregar comida na casa das pessoas, mas possibilitar uma experiência nova de vida, ajudar a aumentar a consciência por alimentos mais saudáveis e por uma sociedade mais justa”, complementa Victor Piranda. O primeiro passo para tentar tirar a ideia do papel foi inscrever o projeto, que chamaram de Clube Orgânico, no Programa Shell Iniciativa Jovem. Dos 1,7 mil inscritos, o Clube Orgânico ficou em segundo lugar, entre os 80 classificados para a fase de desenvolvimento.
A dupla descobriu mais tarde que clubes de consumidores que apoiam a agricultura local existem há décadas em vários países. Começaram no Japão, como forma de superar a escassez de alimentos e dificuldades depois da 2ª Guerra Mundial. Eles descobriram que São Paulo também tinha clubes com esse perfil e decidiram conhecer melhor uma das iniciativas em Botucatu, interior do estado. “Eles estavam dando um curso, então fui para lá e peguei várias ideias legais para adaptá-las à realidade do Rio de Janeiro, que tem uma outra dinâmica”, conta Piranda.
Inicialmente, as cestas eram personalizadas, mas os idealizadores perceberam que, devido à sazonalidade e ao trabalho de seleção, os produtos acabavam ficando mais caros. “Não customizamos mais, oferecemos uma cesta padrão, mas as pessoas podem influenciar naquilo que é produzido. Os associados vão ganhar uma lista e podem dizer o que querem receber sempre, de vez em quando ou quase nunca, mas será uma decisão coletiva”. São 15 itens variados, entre raízes, temperos e frutas. Ele conta que o projeto-piloto começou em setembro passado e foi tão exitoso que decidiram ampliá-lo.
“O interesse foi enorme. Em um mês de divulgação, mais de 2 mil pessoas se cadastraram no site para participar. Mas tivemos que segmentar por bairros, não pelo número de pessoas, por uma questão de distribuição.” Os problemas de trânsito e distâncias, na capital fluminense, foram decisivos para a escolha de apenas alguns bairros nesta primeira fase. O lançamento oficial será em 6 abril e ainda restam cerca de 50 vagas das 120 ofertadas para os bairros da Tijuca, Grajaú, Vila Isabel, na zona norte; Barra, na zona oeste; e Botafogo e Humaitá, zona sul. As inscrições são feitas pelo site do Clube.
Além da entrega porta a porta, existem centros de distribuição para quem não mora nos bairros selecionados, mas tem como buscar os produtos semanalmente em um desses locais. “A ideia é que, no futuro, a maioria das pessoas busque nos centros de distribuição e a entrega em casa tenha um adicional, porque, conceitualmente, para nós, a ideia é construir comunidades, para que as pessoas tenham esse contato”. Nesta fase inicial, os produtos vêm de um grupo de produtores em Itaipava, região serrana do Rio, que estão produzindo 40 tipos de alimentos.
A matrícula custa R$ 100 e a mensalidade R$ 250, mas Victor acredita que o valor vai diminuir à medida que o clube crescer. A expectativa é que até o fim do ano cerca de 800 pessoas estejam na rede e que também aumente a participação de produtores.
O projeto promove ainda um centro de pesquisas de práticas sustentáveis, com parceiros em um sítio na Serra dos Órgãos, com oficinas e workshops. Os jovens empreendedores esperam que a iniciativa renda frutos e estimule outros clubes pelo estado. “No orgânico, não temos concorrentes, apenas pessoas que se unem por uma causa”, salienta Victor Piranda. Agência Brasil./Utopia Sustentável

terça-feira, 25 de março de 2014

Tem água de graça em Paris – e talvez, no Rio




Na capital parisiense, fontes públicas fornecem água gratuitamente em toda a cidade. Lei obriga restaurantes do Rio a fazerem a mesma coisa, mas ainda não é cumprida
Turistas brasileiros que visitam a França costumam ficar surpresos quando o garçom de um café ou restaurante coloca uma jarra de água sobre a mesa. A pergunta mais frequente é: “Dá para beber isso?” O costume de servir água de graça, juntamente com a refeição, é muito comum por lá. Muitas vezes o cafezinho vem com um copo de água e, quando isso não ocorre, o cliente pode pedir esse acompanhamento. A água não é cobrada e isso, evidentemente, evita o uso excessivo do plástico. Mais estranho ainda para um brasileiro é descobrir que, na rua ou em parques, pode-se beber a água das fontes localizadas nos jardins e nas praças.
Um mapa editado pela Eau de Paris (Água de Paris), empresa pública responsável pelo fornecimento de água na capital francesa, mostra a localização de mais de 1.200 bebedouros públicos na cidade. Alguns são antigos, como os 101 bebedouros ou fontes Wallace que existem desde o século 19. Outros extraem o líquido do aquífero subterrâneo de Albión. Pode-se achar inclusive água com gás (uma forte rival para empresas desse setor). A maioria dessas fontes têm hoje um design moderno ou artístico.
Perguntamos a Elisabeth Thieblemont, assessora de comunicação da Eau de Paris, qual era o custo do serviço para a empresa. “Não sabemos. A gente nunca se questionou sobre isso, nem fizemos esse cálculo. Oferecer água na rua é parte de um serviço público. Não vemos a água como uma mercadoria”, respondeu, um pouco chocada. De acordo com um estudo realizado a pedido da Eau de Paris em outubro de 2011 pelo Ifop, um instituto independente de pesquisas, 90% dos parisienses entrevistados declararam que “têm plena confiança na água da torneira e que a bebem durante as refeições”.
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Detalhe da fonte Wallace. Foto: Eau de Paris / Emile Luider
A Eau de Paris tem boa reputação por vários motivos. Primeiro, porque a gestão da água retornou ao setor público depois de 20 anos no setor privado, que aumentou os preços e não conseguiu bons resultados. Com a mudança, tanto consumidores como ONGs defensoras do meio ambiente passaram a ter o direito de participar nos conselhos de administração. Em segundo lugar, porque, ao contrário de outras empresas, a Eau de Paris parou de usar o sulfato de alumínio no tratamento há mais de 20 anos – justamente por causa do potencial risco à saúde dos habitantes, especialmente o relacionado à doença de Alzheimer. Metade da água da capital francesa vem de fontes subterrâneas, e as zonas de captação – que ficam a 150 quilômetros de distância – têm sido protegidas. Contratos são assinados com agricultores para eliminar o uso de agrotóxicos nessas áreas, estimulando cultivos orgânicos.
Existem, porém, alguns pontos negativos. Desde 2001, por causa do plano de vigilância Vigipirate (que define uma série de mecanismos para evitar atos de terrorismo, incluindo tentativas de contaminação da água), é preciso adicionar cloro à água no sistema de abastecimento. Isso faz com que a água de Paris tenha um gosto forte da substância, embora a concentração esteja dentro dos limites aceitáveis determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A empresa aconselha a botar a água na geladeira por 15 minutos para que o cloro evapore.
Ainda que exista um forte controle sobre a água de Paris e ela seja considerada de “excelente qualidade” pela autoridade sanitária da França, não são conhecidos os níveis de poluentes emergentes e perturbadores endócrinos contidos nela. “Esses parâmetros não são considerados pela legislação francesa. Mas a empresa fez as suas próprias análises. Esses poluentes estão presentes em níveis baixos na água da torneira e praticamente não foram detectados na casa dos consumidores. Mas é verdade que ainda falta informação para saber se esses níveis podem ter um impacto na saúde e, ainda, se existe o famoso ‘efeito coquetel’, ou seja, se todas essas moléculas juntas podem provocar algum dano”, reconhece Natalie Fleury, responsável pela qualidade na Eau de Paris.
Oficialmente, as autoridades sanitárias francesas e europeias estão mais preocupadas com a presença desses contaminantes na comida do que na água – particularmente os resíduos de antibióticos e de hormônios de crescimento na carne. Mas, ainda hoje, esse risco é um dos argumentos mais utilizados pelas empresas de água engarrafada para vender a água mineral.
O alto grau de confiança na água pelos parisienses foi conseguido depois de muito esforço da Eau de Paris. “Embora a empresa não conte com o orçamento que as empresas de água engarrafada têm, nos comunicamos muito sobre a qualidade para dar certeza e tranquilidade à população de que pode beber a água da torneira”, explica Elisabeth Thieblemont, responsável pela comunicação da empresa.
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Fonte prestes a ser inaugurada.Foto: Olivia Blaizac

A Eau de Paris tem toda uma estratégia de comunicação para a água e inclusive um setor de venda de objetos, como garrafas, para promover o consumo da água da torneira. Também faz, regularmente, campanhas de comunicação: a última fez referência ao vinho para promover a água da torneira com um gran cru, os seja, como um excelente vinho.
Na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), embora o espaço físico onde fica a assessoria de comunicação da empresa seja enorme, não existe nenhuma ação para conscientizar a população sobre o consumo de água tratada. “Falamos sobre a economia que os clientes têm que fazer, mas nada sobre beber a água da torneira”, reconhece Wagner de Oliveira Prado, assessor de comunicação da Sabesp. Em São Paulo, isso seria necessário porque, entre os anos 70 e 80, o Ministério da Saúde aconselhava a ferver a água antes de beber. Essas recomendações ainda estão na cabeça das pessoas.
Contra o plástico
Sem nenhuma ajuda, duas ambientalistas criaram a iniciativa Água na Jarra, umas das primeiras que tentam limitar o uso do plástico. O projeto defende que os restaurantes assumam o compromisso de oferecer água da torneira para os consumidores, em vez de garrafas de água mineral. “É incrível ver que todos os restaurantes vendem garrafinhas de água somente para ganhar mais dinheiro, sem se preocupar com o meio ambiente”, explica Leyticia Janot, uma das criadoras do Água na Jarra. Todos os estabelecimentos que até hoje aderiram à iniciativa estão em São Paulo.
No Rio de Janeiro, a Lei Estadual 2424, de 1995, diz que “é obrigatório o fornecimento de água potável, filtrada e não mineral, gratuitamente, para uso dos consumidores no Estado do Rio de Janeiro” nos restaurantes. Isso é confirmado pelo Procon-RJ. Recentemente a entidade começou a sensibilizar esses estabelecimentos, porque reconhece que ninguém respeita a norma. O segundo passo será a fiscalização.
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Simulação 3D da fonte Poing do bonde T3. Ilustração: Eva Albarran & Co

Qualquer restaurante é obrigado a ter água filtrada, mesmo que os garçons digam que não podem oferecê-la. Esses estabelecimentos também precisam limpar regularmente a caixa d’água. Pouca gente se dá conta, mas não se usa água mineral engarrafada para fazer café. “Se os restaurantes passassem a usar garrafas grandes já seria uma vitória, embora a verdadeira vitória seria beber água da torneira”, diz Leyticia Janot. À medida que os consumidores se habituarem a pedir água filtrada, menor será a quantidade de plástico que acabará em rios, praias e aterros. E os donos de restaurantes poderão entender, aos poucos, os danos que as garrafas provocam ao meio ambiente.
O Brasil, como muitos outros países, ratificou que a água é um direito humano. Isso, porém, ainda não ocorre na prática.
Confira aqui o mapa das fontes de água na cidade de Paris.
* Publicado originalmente no site Agência Pública.