terça-feira, 12 de abril de 2016

“Muro do Impeachment” e o Brasil bestializado assistindo a tudo pela TV



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Uma longa cerca de metal com dois metros de altura está sendo instalada no gramado em frente ao Congresso Nacional, dividindo a Esplanada dos Ministérios ao meio. A cerca foi erguida com mão de obra de presidiários que terão dias de pena descontados – o que já é uma ironia em si.
De um lado, devem ficar os manifestantes favoráveis à saída de Dilma Rousseff para acompanhar a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, prevista para começar nesta sexta (15). E, do outro, o grupo contrário.
Seria fácil dizer que a cerca é uma perfeita analogia da sociedade brasileira que, recentemente, dividiu-se, cindiu-se, separou-se. Fácil e equivocado.
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A divisão do Brasil não vem de hoje, mas começou quando o primeiro branco escravizou o primeiro índio para forçá-lo a cortar pau-brasil e transportá-lo aos porões dos navios. Desde então, as formas de separação e segregação mantiveram parte da população como gado e uma minoria como vaqueiro. Formas que às vezes são sutis, passadas de pai para filho sob a roupagem hipócrita de tradição e costumes. Ou violentas, na base da bala e da porrada, quando o boi resolve fugir do pasto porque achou injusto a grama de merda que lhe foi atribuída.
É importante entender isso para não confundir a origem da segregação com o momento em que a panela de pressão explode e eclode um conflito gestado por ela.
A sucessão de pesquisas de opinião e a forma com a qual o tema tem sido tratado na mídia e nas redes sociais faz parecer que a grande divisão da sociedade brasileira é sobre o impeachment do governo. Governo que, na minha opinião, é incompetente, não sabe fazer política, muito menos gerir a economia e sobre o qual recaem graves denúncias de corrupção.
Mas não é. A grande divisão ainda é entre quem tem e quem não tem.
Muita gente da periferia não aguenta mais Dilma porque está passando dificuldade em grande parte por culpa de sua bisonha gestão. Mas não acredito nem por um minuto que a maior parte da elite brasileira, em sinal de solidariedade a essa periferia, aceitaria taxar lucros e dividendos, fortunas e grandes heranças, reorganizar a tabela do imposto de renda, taxando mais quem ganha mais. Aliás, é capaz de cuspirem em você antes de terminar de dizer que a elite da América Latina é a que paga menos imposto.
A cerca que divide a Esplanada dos Ministérios, construída sob a justificativa de garantir segurança aos presentes e evitar uma guerra de torcidas organizadas, serve também para fazer crer que aquele é o grande racha nacional.
De acordo com pesquisas de opinião aplicadas sobre os manifestantes, os perfis dos pró e dos contra impeachment têm sido parecidos entre si do que com o restante da sociedade, tornando-os mais próximos de uma elite social, econômica e etária. O povão, em sua maioria, não foi para a rua. Muito menos a maioria dos jovens que coalharam as cidades brasileiras em junho de 2013.
Desconfio, portanto, que a maior parte do povão, a maioria amorfa em nome do qual tudo isso é feito, mas que raramente se beneficia do grosso do Estado, não estará nem do lado direito, nem do lado esquerda da cerca, de sexta a domingo. Ele continuará onde sempre esteve: trabalhando pelo bem-estar de uma minoria e assistindo a tudo bestializado pela TV.
Leonardo Sakamoto

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